sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O espelho

Ajeitava o cabelo milimetricamente bagunçado de gel. Um topete que formava uma onda prestes a estourar lhe acrescentava mais de quinze centímetros de altura. Como se precisasse. Ele deve ter mais de um metro e noventa, mas ainda não teve tempo de desenvolver carne, o corpo estivera apenas ocupado a fazer crescer os ossos esquecendo-se do resto. Usava uma calça jeans justa, destas que uns anos atrás era considerada feminina, mas que hoje todos os jovens descolados tem. O casaco aberto em desafio mostrava que vestia apenas uma camiseta branca por baixo, muito provavelmente de manga curta. Sentir frio nessa idade é secundário, claro. 
Ao se ver observado, parou por instantes de ajeitar os fios de cabelo endurecidos, deu uma ultima olhada no espelho e saiu deixando um rastro de perfume masculino no hall do prédio. Abri a porta para que passasse e fiquei olhando até a sua figura esguia e desengonçada se esgueirar pela esquina. Realmente há gente que é tão caricatural que parece saída de algum livro ou filme...

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