terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Põe, mas só a cabecinha

Foi engraçado ver a cara de surpresa quando eu disse na aula que não, sinto informá-los mas o Brasil não é este "olê olê"* que vocês pensavam. Ohh, mas como assim? Quer dizer, quando eu falo que sou brasileira tenho a impressão que junto com o sorriso, a pessoa ta imaginando que em casa tenho uma fantasia com plumas e que passo o aspirador de fio dental enquanto sambo. Mesmo para alguém mais instruído, é difícil explicar que a nossa relação com a sacanagem é um paradoxo. Para isto é preciso lembrar que antes das invasões portuguesas e espanholas, os nativos tinham o sexo como uma coisa natural e isto só mudou com a imposição do catolicismo. Somos uma cultura plural, mas com um denominador comum: o Brasil é um país extremamente crente e ainda encara o sexo de uma forma fetichista. Acho, por exemplo, que uma francesa é muito mais livre de expressar sua sexualidade do que uma brasileira, e isto deve-se porque a primeira mora em um país com menos interferência religiosa e machista do que a outra. Foram necessários séculos para que as francesas pudessem usufruir deste direito e infelizmente as minhas compatriotas ainda tem um caminho longo pela frente.
As brasileiras ainda se revolvem na dicotomia santa e puta, onde puta é a mulher que tem sexo com quem quiser e com a frequência que quiser e santa é aquela que faz tudo isto, mas na surdina. Os gringos olham as passistas semi-nuas e fazem um filme erótico em suas cabeças, acreditam que lidamos bem com a nossa sexualidade tão e simplesmente porque a expomos. O Brasil não é para principiantes, já dizia Tom Jobim. O corpo que está descoberto pode muito bem abrigar o pudor e isto não se trata apenas um jogo de palavras, pois sabemos que ao contrario do que pensavam, há pecado debaixo da linha do Equador.  
Depois de um tempo comecei a pegar implicância com uma música que dizia "nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda". Afinal se a idéia é combater os estereótipos e moralismos, faz sentido ao invés de questioná-los, darmos mais força apenas nos deixando de fora? Tipo nem todo baiano é preguiçoso, nem todo alemão é nazista, nem todo pobre é ladrão? Coisa mais tosca. 
A sexualidade brasileira é como aquela historia de pôr só a cabecinha, é a vitrine do proibido passando em horários familiares, inclusive em programas infantis. A malícia convivendo inocentemente em trocadilhos como aquele jogado ao casal que namorava pelo atendente da lanchonete: vai comer aqui ou quer que embrulhe para viagem?
 Ademais, o brasileiro é um libertino extremamente conservador. Existe uma lógica que só quem nasceu lá consegue entender: pau que nasce torto nunca se endireita, menina que requebra,  a mãe pega na cabeça. É francesada, não esqueçam de segurar o tchan, e amarrar o tchan quando pensarem que o Brasil é um país bem resolvido sexualmente, quando na verdade andamos mais pela adolescência punheteira, morrendo de medo que nos cresçam pêlos nas mãos.





* Olé olé; Expressão francesa para a nossa boa e velha sacanagem



Um abraço para quem leu cantando rsrsrsrs

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