terça-feira, 22 de abril de 2014

Brincar de fazendinha

Uma das coisas que mais me chamou atenção logo que cheguei aqui foi exatamente a falta. Olha-se para todos os lados e ela não existe, não há miséria, não há pobreza. E eu me pergunto, mas nem queira comparar o sul do Brasil (que considerando o país nem é dos piores) com a França né? Aí em um dia que andava de ônibus avistei o que parecia para mim um acampamento um tanto quanto organizado, rodeado de casinhas de madeira minúsculas. Prontamente pensei "aháá" e não é que a pobreza estava todinha ali, concentrada em campos cercados por ferro verde?! Apertei os olhos: e ainda por cima plantam o que comem? Será alguma comunidade hippie no maior estilo sociedade alternativa do Raul? Aquela dúvida ficou fazendo círculos na minha cabeça até um casal de amigos portugueses nos levar para conhecer sua plantação de cebolas. Como assim, no apartamento? A minha ingenuidade não tem fim mesmo...
A prefeitura  cede para qualquer habitante de Schiltigheim que queria alugar um espaço de mais ou menos 40 metros quadrados, o que eles chamam de jardins familiaux. A finalidade é mesmo  o plantio, portanto as casinhas tem medidas máximas e é proibido ter piscina. Mas muita gente que não ruma para o litoral no verão, principalmente idosa, vai lá passar o dia ou mesmo a noite naquelas minúsculas casas. Há água encanada e todas as elas tem um banheirinho (é tudo inho mesmo), há um estacionamento exclusivo para os locatários e cada um recebe uma chave com um código único, caso haja qualquer problema sabe-se quem entrou ou saiu naquele momento. Mas como nada é perfeito, o nosso amigo nos disse que não se deixa nada de valor nas casas por que uns adolescentes vez por outra arrombam com pé de cabra as cabanas. E eu imaginei quem é que põe alguma coisa de valor ali entre adubos e quinquilharias que já não querem em casa, como uma cadeira bamba ou um bibelô de navio com o mastro quebrado? Ele depois de esperar pelos meus olhos que corriam aquele monte de coisas semi abandonadas, disse: eles vem para roubar cerveja, vinho ou uísque. E só me veio a cabeça o quanto meu vô ia gostar de um pedaço de campo no meio de Porto Alegre, de plantar e depois sentar para tomar sua cerveja gelada, isto se uns filhos da puta* não tivessem-na roubado de madrugada.



*o meu vô era um poço de educação e eu herdei-lhe o dom.

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