É preciso atravessar dois semáforos sempre que vou levar ou buscar o Fabian na escola. Ontem quando íamos voltando para casa, reparei que ao meu lado tinha um homem cego esperando também que o sinal abrisse. Titubeei : ai, será que ajudo? Eu sei que eles tem o sistema de se débrouiller e às vezes temos que guardar a gentileza no bolso e respeitar como funcionam as coisas aqui. Além do mais o sinal é luminoso e sonoro.
O homem atravessou normalmente quando ouviu o barulho, passou pela calçada em direção ao segundo semáforo. Apalpava o mundo com a sua bengala de metal. Foi andando, avançando, e não parou quando passou pelas pequenas bolas de concreto que existem para avisá-los de que ali começa o asfalto. Segurei levemente no seu ombro, impedindo-o de continuar. Disse-lhe que não estava verde ainda e ele agradeceu. Depois quando finalmente abriu o sinal para nós, vi que ele caminhava na diagonal, passando por uma pequena ilha, se distanciando cada vez mais da faixa de pedestres. Lá sai eu puxando o guri pela mão para catar o cego e trazê-lo de volta à segurança. Depois de nos despedirmos, o Fabian que tinha permanecido muito quieto até ali, ergueu a cabeça emoldurada pela franja:
- Mãe, poque o titio tem aquele negócio?
- Aquilo é uma bengala. Os olhos do titio estão estragados, por isto ele precisa de uma para poder "enxergar".
- Mais e poque ele não vai na dotôra pa arrumá os olhos?
- Porque nem tudo que estraga tem conserto, meu filho...
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