Mas também não fazem mais nada. Juro, demorei todo este tempo para falar sobre isto porque estava digerindo e observando melhor antes de me pronunciar sobre o assunto. Meu filho é a única criança que vem para casa com os joelhos sujos. Só em um mês ele conseguiu furar três calças de moletom e uma jeans (!!), a qual tive de atempadamente colar o "Homem Anhanha" antes que ela se desfizesse. Também é o único que pelos vistos não sabe usar o "pananapo" e eu só fico sabendo o que comeu de lanche pela cor das mangas: se estão cor-de-rosa, iogurte de morango, se estão marrons, chocolate de caixinha. Quando levava ele para o turno da tarde, depois do almoço, notava a roupa imaculada das outras crianças e de alguns memorizei para saber que não haviam-na trocado.
Por outro lado, é verdade que para se ver uma criança fazendo birra tem de se estar muito atento e eu neste tempo todo que moro aqui, só vi uma vez e ainda assim foi tão fraquinha que quase nem notei. Quando meu filho chora na rua (e isto acontece frequentemente) parece uma coisa surreal: pessoas param para olhar, viram o pescoço e eu me sinto a pior criminosa apenas por tentar educá-lo dizendo que não pode fazer tudo que quer.
Uma coisa que me chamou bastante atenção logo que cheguei, foi a quantidade de crianças pequenas com três anos, talvez quatro, a andarem de bicicleta sem rodinhas (e eu fiquei pensando que a primeira vez que consegui este feito era uma barbada de oito anos). Mas não é só: elas andam so-zi-nhas e muitas vezes na rua, já que a ciclovia separada fisicamente dos carros não existe em todos os lugares. Os adultos vão na frente e não ficam cuidando a cada cinco segundos se elas ainda os acompanham, eles simplesmente confiam que elas o estão fazendo.
Faz sentido que o sistema de se débrouiller (se desenrascar) seja aplicado cada vez mais no país da comunidade européia com maior índice de natalidade. Uma mãe aqui tem uma média de três filhos com pouquíssima diferença de idade, assim, espera-se que os mais velhos consigam gerir suas necessidades sem grande intervenção dos adultos. Se por este prisma parece um alívio a quem está acostumado com uma criança que exige atenção em todo o tempo que está acordada, por outro a impressão que dá, é que tanta auto-suficiência cria pequenos robôs. Por serem coibidos de expressar sentimentos como raiva, revolta, ou até alegria efusiva, as crianças francesas tem um olhar inexpressivo. Parecem estar sempre temendo um olhar reprovador justamente por serem...crianças.
É muito interessante problematizar a educação que damos para os nossos ao comparar com outras culturas. Há algumas coisas que gosto, como por exemplo, eles deixarem os seus filhos "respirar", terem suas experiências e claro, por vezes caírem e se machucarem. Porém ainda continuo achando que o melhor seria um meio termo entre nós: nem tanto "te vira" e nem tanto "deixa que eu faço". Mas por via das dúvidas vou já preparar as joelheiras, que auto-colantes de desenhos animados estão pela hora da morte.
*Livro da autora Pamela Druckerman
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