sexta-feira, 4 de abril de 2014

Porões

Eu não sei porque, mas sempre que podem meus olhos escorregam para aqueles buracos escuros. Pode-se dizer que tenho certa atração pelo perigo, como quando vejo um filme já sabendo que vou morrer de medo até adormecer. E lá alguém já morreu de medo? Eu não sei. Talvez o medo seja uma doença que demora muitos anos para matar até que ele nos faz acreditar que se morra de velhice. Não, eu acho que foi de muito medo acumulado nas juntas e das metástases no pensamento. Mas como ia dizendo, não há o que me faça evitar olhar para eles. Para todos os porões que passo, reservo um olhar de soslaio como se fosse encontrar o monstro mais feio. Às tantas começo a imaginar que quem espia são eles, os pequenos orifícios negros em todas as casas e prédios da cidade. Máquinas bicicletas, tralhas ou simplesmente o vácuo do cimento úmido a exalar para a luz. 

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