Eu tinha seis anos quando deixei de colar feijões e corda em forma de letras. Sentia-me finalmente grande quando ganhei um caderno com linhas: naquele ano ia aprender a escrever! Julgo nunca ter até hoje encontrado pessoa com mais paciência do que a minha professora da primeira série, a professora Graça. Maria da Graça para a diretora, Gracinha para os pais e Tia Graça para nós. Tinha os cabelos cor de fogo, curtos, porém desgranhados para cima, e a pele tão branca que por vezes misturava-se com os dentes, constantemente à mostra. Era pouco mais alta do que os alunos e vestia calças de abrigo com tênis brancos.
Lembro-me de como eu era chata e insistente assim como meus outros colegas, com o quadro riscado à frente. Levantava-me com os meus garranchos e perguntava se podia mudar de folha ou de linha ou se estava bom a letra daquele tamanho, que torta, ocupava duas linhas ou três. Tia Graça sorria, passava as mãos nos meus cabelos e dizia que sim, com uma voz doce. Às vezes eu penso, poderia ser a vida como a tia Graça? Bem que poderia. A gente assim sem jeito, colecionando tropeços seja por falta de experiência ou de juízo e ela por fim, a nos responder doce e com um sorriso rasgado de que está tudo bem.
Repito: nunca até hoje descobri criatura tão dotada de paciência...tem horas que eu olho para o meu filho e penso que nem Jó o aguentaria. Queria nestes momentos em que eu como errada, falha e impetuosa que sou, ser agraciada com um fiapo que seja do dom da tia Graça. Mas desconfio que até ela ficaria de cabelos (ainda mais) em pé...
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