sábado, 28 de junho de 2014

Fóruns de mães? Não, obrigada.

Antes da internet como vocês faziam para passar vergonha? 


Não tenho mais saco para fóruns de puericultura. Ponto. Não é tanto porque me ache doutorada no assunto, longe disto, mas é que dá uma vergonha alheia inevitável. Aliás, vamos combinar que de alheia não tem nada, o problema é que me revejo em cada tópico, em cada verdade absoluta do "aqui faço isto e dá certo" como se todas as crianças fossem iguais. E depois, depois aquela coisa ridícula de achar que porque o filho sentou com cinco meses é o mais novo Einsten e andou com dez meses e com um ano já falava mais de cem palavras. Ta aí o novo Fernando Pessoa. E bateu palminhas e dançou feito uma macaquinha balançando as mãos para cima e a bunda, gente, é a nova Miley Cyrus! Se ainda parasse por aí, mas não, seguem... O meu filho já sabe o alfabeto com dois anos, ah o meu sabe contar até 20. E o teu já anda com bicicleta sem rodinhas? Tirou que nota em inglês no infantário? 
Mães... Mããães (repetir é bom porque nós já estamos tão acostumadas a ser chamadas trilhões de vezes ao dia que não viemos na primeira)! Eu sei que dói muito não escorregar para o exagero, mas a verdade é que o meu, o seu, o dos outros, tem 99,9% de chances de serem crianças normalíssimas. Que vão se destacar em alguma(s) área(s) como é óbvio, mas que vão ser uma grande porcaria em outras tantas, lembrando que isto são características de qualquer adulto com inteligência mediana. 
Mas pelo amor da Nossa Senhora das Mães de Primeira Viagem, não repitam com o segundo, o terceiro, o quarto. Quer dizer, eu ando no primeiro e já tive de abdicar de um monte de certezas em nome da minha sanidade mental. E eu fico imaginando as vezes que as mães mais experientes leram aqueles absurdos e reviraram os olhos à frente do computador. Porque há as dúvidas legítimas, mas que na maioria das vezes carecem de resposta com conhecimento mais profundo e, por esta razão, mereciam ver a luz no consultório do pediatra. Depois há aquelas do estilo "meu bebê não arrota", "meu filho cospe a sopa", "meu bebê de um ano não aceita o penico" (já vi isto por incrível que pareça). E por fim há todo um desfile de egos inflados que mais parecem aquela parada do final do dia na Disney, com a fada Sininho abanando lá de cima, o Woody, o Buzz (para o infinito e além!) e oh, as princesas... todas as mais lindas, mais delicadas e melhores filhas do mundo. Eu acho sinceramente que o que está por trás disto nem é a criança em si, mas as próprias progenitoras a almejarem o reflexo dos holofotes por tabela. Porque se há um novo superdotado na família, a culpa é dos genes ou da educação/estimulação compulsiva que lhes deram. Mas isto é como meu avô muito dizia: é muito cacique para pouco índio. Vá lá que pelo menos uma delas esteja com a razão. 

Já vou dizendo que a culpa foi toda minha


Poucas coisas marcam mais uma pessoa do que uma experiência de quase morte. Tive-a eu quando andava pelos nove anos, e olhando para trás, foi tão bobo que nem sei como aconteceu. Estávamos eu e uma amiga em uma piscina daquelas que dão pé nas extremidades, mas que vão se aprofundando aos poucos até chegar perto dos dois metros no meio. A minha amiga usava bóias nos braços aos sete anos e eu achei boa ideia lhe ensinar a nadar, nem que fosse cachorrinho. Depois andamos a brincar, ela agarrada nas minhas costas enquanto eu pulava dentro da área que a água me batia ao peito. Isto foi até o meu pé escorregar centímetros a dentro da rampa da piscina. A minha amiga em pânico, rapidamente agarrou-se ao meu pescoço e me empurrou para baixo. É impressionante como o cérebro em milésimos de segundos nos dá uma pronta decisão. Eu embaixo d'água pensei: calma, isto é fácil, estou mesmo na borda, é só me agarrar e puxar a B. e estamos salvas. O problema foi ela desesperadamente agarrada aos meus ombros, não me deixando espaço para nenhuma manobra. E a filha da boa senhora ainda quando estava com a cabeça de fora não gritava por socorro. Coube a mim esta tarefa, e aí sim já estava agoniada o bastante, completamente desesperada a lutar por uma golfada de ar e ao mesmo tempo chamar a atenção. Não sei quanto tempo durou, porque quando estamos à beira da morte o tempo deixa de fazer sentido. Lembro-me de pensar aos nove anos de idade que eu ia mesmo morrer e que ia ser tão ridículo morrer com o braço quase a alcançar a borda que até era bem feito pela minha teimosia. 
O final da história não é surpresa, senão nem estaria aqui. Meu padrinho e mais um homem se jogaram e nos tiraram da água. Isto para dizer que nunca, mas nunquinha mesmo nós sabemos como vamos reagir a uma experiência de risco de vida. Vejo gente que julga e desmerece pessoas que reagem a assaltos, por exemplo, quando já estamos carecas de saber que não se deve fazer nada, ou gente que fica parado quando outro cai nos trilhos do trem, etc. Para mim há dois tipos de pessoas: as que agem e as que se deixam afundar pelo desespero. E volto a dizer, não há maneira de saber qual tipo somos senão o fato de estarmos à mercê de nossos instintos. 
Felizmente não desenvolvi fobia a água, no entanto toda a vez que vejo cenas de afogamento em filmes, dá-me um nó na garganta, meu coração acelera e vejo-me agoniada sem perceber que fico a prender a respiração. Meu corpo revive automaticamente como se tivesse sido ontem e quase me vejo a balançar os braços e a submergir com metade dos gritos a morrerem em minha garganta. Ar...ar...ar...Um suspiro fundo traz-me à tona os instantes necessários antes de sufocar os dedos do marido.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Fora de moda

Às vezes me sinto uma roupa atirada no roupeiro, mal dobrada, mal passada à espera de dias melhores. Não me sirvo mais, estou puída e tenho bolinhas de muito uso. Algumas manchas de gordura e chocolate que nem o vanish conseguiu tirar. Às vezes me pego e me olho em um misto de desdém e tristeza. Já não me ponho mais à frente do espelho para ver quantos centímetros me sobram para fora. Às vezes acho que desisti de mim. E só me guardo no fundo da prateleira, embolada com as roupas da outra estação, à espera da coragem em alguma campanha de agasalho. Que eu sei que vou me enrolar o bastante para me deixar ficar até sucumbir de traças, ou de pó. Às vezes eu me sinto assim...démodé. 

O que aprendi com as francesas ou a política da mini saia

Comecei observando a auxiliar da professora do meu filho que no alto dos seus sessenta e lá vai muitos, ostentava uma mini saia em pleno ambiente de trabalho. Aquela cena chocou-me a princípio por uma série de razões: foram anos de códigos de como se vestir das senhoras coquetas da moda jogados ao lixo. Não é só a mini saia usada em local de trabalho (que é muito comum aqui), ou a idade da senhora que  fazia todas as regras de elegância dentro de mim gritarem que não podia ser, que me incomodavam. Não, era outra coisa. E voltei a olhar para a rua o olhar seguro e despreocupado das moças a andarem de bicicleta, isto mesmo, de mini ou micro saia. Elas não estavam preocupadas se a calcinha ia aparecer porque simplesmente ninguém olha para ver qual a cor delas. Elas não ouvem a cada esquina um grito de "gostosa", "lambia-te toda", nem buzinas e homens diminuindo a velocidade dos carros e fazendo menções de gestos masturbatórios (quanto menos a fazê-los de fato). Para mim havia qualquer coisa de obsceno na liberdade de poder vestir o que quiser sem pagar um alto preço por isto.
Uns tempos atrás houve um movimento muito forte no Brasil sobre o não merecer ser estuprada, mas a verdade é que mesmo as pessoas concordando que a vítima não tem culpa de nada, seguimos com a cultura de que o corpo da mulher é público, passível de ser julgado e classificado, tanto em revistas como na rua. E ainda é muito comum a ideia de que se queremos evitar este assédio, temos de ser nós a mudar, a nos encolher, nos vestir com roupas mais discretas, mascaradas muitas vezes de "elegantes". Porque se não seguirmos este dress code da segurança, estamos consentindo com cantadas e abusos de toda ordem.
Há quase um ano aqui, as francesas me ensinaram uma série de coisas importantes. Primeiro,  mulheres francesas não se vestem para os homens, porque eles simplesmente não olham, muito menos torcem pescoços e ainda menos dizem piadinhas. E não o fazem porque estes comportamentos são considerados ridículos e mal educados.  Além disto, a roupa curta que por ventura usem, não possui caráter de fetiche, que é o mesmo que dizer que usar mini saia não é sinônimo de estar à cata de homem. Por isto não é nenhum Deus nos acuda ela ser considerada uma peça de vestuário de trabalho tão válida como qualquer outra.
 A política da mini saia, com seus contornos democráticos é nova ainda para mim, acostumada a dicotomia entre freira e puta, curto e longo, à mostra e escondido. Mas me sinto confortável ao ver que escolha o que escolher,  ninguém parece se importar com a cor da minha alma. E muito menos das minhas calcinhas.

Memórias de infância

A minha tia tinha uma cocota, não lembro como e quando e porque foi lá parar, mas apenas lembro de estar  onipresente lá na sua enorme gaiola, invariavelmente rodeada de cocô. A minha vó tinha raiva da caturrita tanto quanto tinha raiva de cozinhar. Imagino que devia ser o descalabro chegar sempre do trabalho todos os dias e fazer a coisa que mais se detesta, no meu caso é passar camisas de homem, mas isto eu posso fazer uma ou duas vezes na semana. Enfim, minha vó chegava muito estressada e a cocota adivinhava-lhe o humor e começava a gritar lá do quartinho da empregada. Um parênteses para o apartamento em que eles moraram por vinte anos, um enorme imóvel de três quartos, estranhamente com uma sala pequena, uma cozinha idem que descambava em um corredor-área-de-serviço (com a máquina dançante da vó) e depois em um minúsculo, estreito e sem janelas, quarto de empregada. No fim dele ainda tinha uma peça mais diminuta ainda com um vaso sanitário: pior resquício de escravidão legal não há. Mas de fato aquela peça nunca serviu para outros propósitos senão  albergar todas as tralhas que uma família numerosa vai juntando, as garrafas de vinho rasca e a bicicleta dos anos 70 do meu vô. E claro, a cocota. Fecha parênteses. 
Lembro da vó gritar: Nyne, vai lá e faz esta porcaria ficar quieta!! Achavam que eu tinha um dom apaziguador no bicho, mas eu sempre achei que ela só gritava porque se sentia só, e começava a contar-lhe histórias a que ela atenciosamente encurvava a cabeça para um lado e para outro, em contemplação. 
Houve um tempo em que tentamos fazer com que ela "falasse" coisas como bom dia, olá, tchau. Mas curiosamente as únicas palavras que ela repetia eram: cala a boca e filho da puta. Captadas pelo meu educado avô. Lembro outra vez quando ela botou um ovo, fiquei muito feliz a imaginar o filhotinho que iria nascer dali. A minha tia pegou o ovo e colocou-o em uma tampa de garrafa, daquelas de lata, dentro do armário. Dias depois, o ovo quebrou e fiquei muito magoada com ela, fazendo-me de surda às explicações de que seria impossível uma ave conceber sozinha. 
A cocota morreu um par de anos depois, estávamos na praia, foi encontrada já sem vida em sua gaiola cheia de cocô. Penso que até a vó disfarçou-se em tristeza, eu acho que chorei, engraçado a mente pregar-nos peças destas, já não lembro se chorei ou se queria chorar quando enterraram seu corpo pequenino sob a areia. Quieto, inerte. Um silêncio a que demorei para me acostumar, pois não havia mais com quem dividir as minhas histórias. Pelo menos morreu longe daquele quartinho e do medo de um dia misturar-se ao abandono relegado àquelas coisas que deixamos assentar o pó.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Muy amigo

Para quem não vê Game of Thrones, apresento o Fabian, quer dizer, The Hound


E é assim, meu menino é como se fosse um cão de guarda do amigo turco. Já lhe disse para deixar de ser besta e parar de se meter em confusão por causa dele, mas não adianta. Volta toda a semana com roxos e arranhões, o último foi um quase dentro do olho. No dia do piquenique pude ver bem como são as coisas, o Alparen apronta e foge e o Fabian sai para defendê-lo, bate e claro, acaba apanhando. Nem imagino como deve ser com meninos que são bem mais velhos do que ele, que apesar de ser grande, é dos mais novos e como consequência com menos juízo na cabecinha.
Bem sei que na vida quem não aprende com amor, aprende com a dor, mas eu gostaria muito que ele  me poupasse as pomadas de gel. Quando eu falo isto, as pessoas suspiram: ah os meninos são assim. Não acho normal esta obsessão com este amigo, só fala nele, só quer ir na escola à tarde se ele for. Talvez seja uma fase, não sei... vamos ver como vai ser nas férias! Ou se cura ou enlouqueço.

E não é que é?

Impossível passar longe da copa, mesmo que não se veja os jogos, mesmo que não se queira saber se fez gols, se perdeu ou ganhou. A tv aqui em casa fica ligada nos jogos mais importantes (segundo a definição do marido) e vez por outra escuto o narrador francês se exaltar, não como se esgoela o Galvão Bueno, mas ainda assim. Gol. Falta. Pênalti. Agora uma coisa que tem me deixado com um pouco de azia é a quantidade de brasileiros que torcem para Portugal. Eu aqui nunca fui de segundos, sou de um time só: meu Internacional de Porto Alegre ou no caso, a seleção. A única exceção para a qual torço é a Argentina. Torço para perder. Tinha lido num dos blogs que a história de país irmão é bobagem e concordo. Mas dizia a pessoa que é porque as ex-colônias guardam muito ressentimento dos países colonizadores, já eu acho que é recíproco. Principalmente quando a ex-colônia em alguns sentidos acaba por superar o seu colonizador (hello England!)... E o mais notável é que pelo mundo virtual  não encontrei ninguém que elegesse o Brasil como segundo time "do coração", mas o contrário é verdadeiro. Cada vez que vejo fotos dos meu compatriotas fardados de Portugal, dá uma tristeza. Quanto amor mal correspondido...se eles soubessem...


sexta-feira, 20 de junho de 2014

E depois me perguntam porque ando com uma vontade louca de esfolar alguém

Conversa de hoje:
- Ça va?
- Ça va (tenho uma enorme vontade de responder suvaco toda vez que me perguntam).
- Então, mas hoje não vens de vestido?
- Não. Está frio.
- E estas leggings onde compraste? São boas. - Passando a mão nas minhas pernas.
- Sim, são. Comprei no Brasil.
- Mas olha, que número vestes?
- 42.
- Oh não!
- Sim. Costumava vestir o 40, mas...
- Não! Eu visto o 44 e tu és tão gorda quanto eu. - Pausa para a cara de psicopata americano. - Tu tenhas atenção para não engordar mais, faz mal à saúde.


Ótimo ser chamada de gorda quando na verdade esta é a única coisa que se pensa o dia todo, que não se tem mais que cinco peças de roupa em um armário inteiro e quando ainda se está em plena tensão menstrual. Preciso urgentemente aprender a ser mal educada em francês. E estas merdas o marido não me ensina, este filho de uma...velha chata.

Não aguento

Quarta fui a um piquenique organizado pela associação do curso de francês com o Fabian. Não queria ir, mas cedi porque a mãe do Alparen insistiu muito. Já vou dizendo que detesto este tipo de passeio, sou pessoa de restaurante, não de deitar na toalha em meio a um monte de cacuruto de grama, disputando espaço com as formigas e abelhas. Por estes motivos também não sou pessoa de acampar, sou pessoa de hotel, nem precisa ter luxo, mas uma cama confortável para dormir já é um começo... 
Às nove pegamos o ônibus que a Mairie emprestou e em meia hora estávamos lá. Caminhamos, deixamos as tralhas na sede do parque e fomos para a grama fazer "atividades" de recreação. Eu só tinha o Fabian atado nas minhas pernas perguntando em looping se o Alparen não vinha. Pois, nos separaram em grupos e ficamos cativos até a hora do almoço em brincadeiras intermináveis. 
Difícil descrever a minha cara. A linguagem corporal diz tudo. Só pensava que devia ter ouvido aquela voz egoísta que sempre me guio e ter ficado em casa a dormir. No meio disto, uma senhora bem idosa dançava qual uma criança e estava ali sozinha e de livre e espontânea vontade. Como pode?
Quando o relógio apontou meio dia e meio, fomos de novo para a sede. Abri os potes que tinha levado e deixei o bolo de limão para quem quisesse pegar. A mãe do Alparen me serviu de salada mesmo eu tendo recusado, além de massa com maionese, o que provavelmente com aquele calor, tenha me deixado numa diarreia por dois dias. 
Depois fomos à Alemanha, ah esqueci-me de dizer que a cada vez que íamos e vínhamos havia pelo meio uns bons dois km para cada lado. E até a Alemanha, atravessando a ponte, era muito mais. Chegando lá, mais caminhada e o tão esperado rio artificial para as crianças brincarem. Tinha vento, mas tinha sol, e nem por isto a água estava mais quente. O Fabian batia queixo, mas brincou um tempão dentro d'água, até ficar gelado o suficiente e eu ter lhe colocado a roupa seca. Ficaram pelo parque e eu me torcia de cólicas, para completar o meu dia maravilhoso, havia ficado menstruada e estava morrendo de dor de cabeça, há milhas de um analgésico. Não sei quanto tempo fiquei imersa na dor, acho que até cochilei para ver se passava mais rápido. Foi quando me aparece o Fabian novamente molhado, com a cueca do avesso e cheio de areia. Deixei-o brincar mais um pouco até as monitoras nos avisarem para recolhermos as coisas. A camiseta que tinha posto no Fabian e que ele deixou em uma pedra próxima ao rio, roubaram. Minha sorte foi ter levado uma muda completa de roupa senão ele teria voltado sem camisa. Voltamos para a sede novamente para um lanche rápido, já aí minha paciência tinha se esgotado toda dos gritos e chamadas de atenção que tive de dar o dia todo. O rapaz portou-se mal, muito mal e com o amigo ainda pior. E depois falam dos filhos únicos, mas aquele menino tem três irmãos mais velhos e é criado com uma balda a fazer o que bem entende! 
Eu só via a hora de chegar em casa, estava em fúria, com dor, cansada. Voei para casa, larguei a porcaria da mochila e da sacola térmica e fui deitar ciente de que não podia dormir, só quando o marido chegasse. E assim foi, quando ouvi o barulho dele a torcer a chave, escorreguei para um sono profundo, sem sonhos, sem nada. Ah e no início de julho, a escola do Fabian tem um piquenique no parque, pergunta se eu vou! 

sexta-feira, 13 de junho de 2014

C´est quoi ça?

A Argentina reclamar de roubo é a mesma coisa que a Luciana Gimenez reclamando da greve dos metroviários dentro de seu helicóptero. Tá feio. Tá rude. Dr. Lecter pergunta: e o louco sou eu??


Esperava  no jardim da escola o Fabian e o seu inseparável amigo fazerem todas as tarefas que as crianças desta idade, acometidas por um leve transtorno obsessivo-compulsivo, tem de fazer. Passar pelas grades da ponte ao invés de simplesmente caminhar por ela, pular as cinco pedras que servem de banco às mães e avós cansadas, passar correndo pelas bicicletas estacionadas (e às vezes tocar na buzina), etc. Como já sei da missa toda, e de que por mais que eu chame, a rotina não se altera, esperava em silêncio. De repente um senhor careca de olhos azuis me interpelou: Ça ne se fait pas! Oi? Como assim? O que não se faz? Ao que ele me responde com uma pergunta: Vous êtes brésilienne? Ah, fez-se luz e lembrei-me do jogo de ontem. Assim como me perguntaram se eu não ia para o Brasil ver a copa como se fosse muito perto e barato (e eu tivesse interesse), me culparam pelo que mesmo? Disse-lhe que não vi o jogo, apenas o meu marido, mas se ele perguntasse  se o Dr. Lecter foge no final, eu lhe diria que sim e também que nunca tinha reparado que a Jodie Foster falasse com uma batata na boca. Eu não vi o jogo e nem pretendo ver os próximos, ao invés disto vou aproveitar e por em dia toda a filmografia que aparentemente só eu não vi. Mas a curiosidade fez-me rodar a internet para saber do que fui acusada, já avisando que sou inocente até que provem o contrário. Uma das manchetes de um jornal argentino sentenciava: já começaram roubando. Dei de ombros, falam as virgens ofendidas cujo ídolo fez um gol legal com a mão. Caiu, se jogou, foi pênalti, não foi. Sei lá. Não me interessa. Só quero saber como é que aquele sujeito, o qual nunca vi na vida, descobriu que eu sou brasileira. Não tava tomando caipirinha, nem sambando, nem com fio dental cheio de brilhos e penas. Só pode ser bruxo o homem.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Enquanto

Continuando a saga de filmes que todo mundo viu e eu não, assisti finalmente O silêncio dos inocentes. Embora já tenha visto a sequência de 2001 e de 2002. Enquanto o marido assistir os jogos da copa, vou aproveitar para por todos os que eu quero ver em dia. Ao menos é melhor do que ouvir a narração francesa afrancesando todos os nomes dos jogadores. Ainda bem que o Ronaldo (nenhum deles) joga mais. Ia ser insuportável ouvir Ronaldô.

Estamos de olho

Povo que passou o ano passado todo e metade deste falando mal da copa, hoje se pinta de verde e amarelo para ver o jogo. A resposta: já roubaram tudo o que tinha para roubar, vamos agora é torcer pelo Brasil!
 - Hipocrisia, a gente vê por aqui. -


quarta-feira, 11 de junho de 2014

Because I'm happy

Como ser feliz? - A gente explica! Já pagou  pegou o seu golden ticket?


Eu não sei se existe pessoa mais sem paciência para coaching's da felicidade e bem-estar do que eu. Simplesmente não me entra na cabeça como alguém paga ou não paga, apenas lê em blogs do gênero uma série de conselhos ditos por estranhos tão capacitados quanto qualquer outro. Aceito quando psicólogos/psiquiatras escrevam livros e deem por sua vez palestras fruto não só de vivência profissional como também de embasamento teórico, e para mim é completamente diferente do que um indivíduo que fez um curso técnico sabe lá onde, que deu-lhe o diploma de treinador da felicidade alheia. 
E os que são mais irritantes são aqueles que se debruçam sobre como devemos criar os filhos, sempre  recheados de coisas mirabolantes estilo: pais, não se preocupem com as notas deles. Pais, não xinguem, conversem. Não deem palmadas, mesmo mesmo que eles batam em vocês. Eu leio e a água já começa a ferver. E eu fervo em pouca água. La la lai vamos educar, criar adultos felizes, crianças com auto-confiança, vamos ser os melhores pais que conseguirmos o tempo todo! Disciplina é amor, uma criança amada se esforça para se comportar bem!
Não sei se quem lhes deu o diploma foi o Willy Wonca, mas eu aqui acho que criança precisa de limites. Não digo isto apenas por má vontade aos pretensos professores, mas pela minha própria experiência, lembrando quantas vezes digo docemente: Fabian não faz isto, assim ou assado... porque (explicar é importante) acontece isto e a mãe não quer. Devo dizer umas três. Ou quatro vezes. Primeiro docemente, depois a olhar nos olhos. E sabe o que acontece? Ele não fica feliz por eu educá-lo, ele continua fazendo seja a merda que estivesse fazendo antes. E aí vem o anti-pedagógico tapa na bunda. A ameaça de se não juntar os brinquedos vou buscar o saco de lixo (agradeço a ti Carla), se não se portar melhor não vai à pracinha, and so on. 
Antes me sentia mal com isto, como se eu estivesse tal qual Pavlov e seu cão salivante em uma educação behaviorista. Mas depois pensei melhor e no fundo acho que ao meu modo, ensino um pouco de como as coisas funcionam. Na vida toda ação tem uma reação. Se mais tarde o rico filho bater em algum colega mais forte, ele não vai receber palavras de amor, nem lenga lenga de "porque fizeste isto? É porque estás triste? Vamos conversar sobre o que sentes?", não, ele vai receber uma reação compatível com o que fizera.  Isto não quer dizer que a cada vez que pisa o risco, receba uma punição, mas é avisado algumas vezes, geralmente três. Caso insista no erro, aí então agimos de acordo com a gravidade da traquinagem. Ninguém provavelmente lhe dará mais do que três chances de se endireitar. O patrão, a namorada, o instrutor do exame de condução... 
Ensinar que o mundo tem a obrigação de preocupar-se com os seus sentimentos independente do que eles façam, é contra-producente, é acima de tudo criar indivíduos que não conseguem lidar com frustrações. Voltando ao coaching sobre parentalidade, acho no fundo, que há fantasia demais para vivência e conhecimento acadêmico de menos. Imagino se realmente aquela gente consegue fazer aquilo que prega ou se quando a paciência e o diálogo com  "o meu rico filhinho" acaba, se não voa um chinelo para cima como qualquer pai e mãe desesperado. 

Como eu me sinto quando

a pessoa com quem eu converso não fala nada além de sua língua materna e francês.


                            Sendo que geralmente a língua materna é russo, chinês, turco, árabe...little help please?

A construção da maternidade



Baseado no livro de Elizabeth Badinter "Um amor conquistado - o mito do amor materno"*, o qual pretendo falar nele mais tarde.




*Obrigada Zrs!

Você sabe que é um cliente diferente quando...

ao invés de atirar roupas para o ar, anda a  dobrá-las milimetricamente para não deixar a funcionária da loja estressada.

Karma



Até me tornar uma menina comportada e calma eu era um bebê como qualquer outro: completamente sem noção. Engatinhava na praia e saía a morder os dedões das mulheres que tomavam sol estendidas em toalhas gigantes. Puxava o cabelo de qualquer um que se aproximasse só porque sim. E ficava hirta e séria a esperar que a minha mãe tirasse um por um dos meus dedos para libertar a minha vítima. Pois, o karma.... mal sabia eu ao entrar no ônibus em plena tarde com um vestido curto de verão e uma sacola de ginástica pesada como uma sacola de ginástica. Passei o cartão, dei bonjour ao motorista. Fui  indo em direção ao fundo, quando um bebê sentado em seu carrinho olhava para mim. Lembro de ter pensado que era muito feio e talvez à laia de destino, o karma me acertou em cheio quando apenas senti que o vestido não mais me tapava as pernas e estava com a bunda de fora. O bebê feio havia me puxado a roupa e só tive tempo quando já era tarde demais. Sentei ainda com os passageiros que iam na contra-marcha a rirem-se: um pai gordo e seu filho esmirrado, duas mulheres masculinizadas e a cara da mãe que entre riso e vergonha me pediu desculpas. Esbocei um meio sorriso como quem prova do próprio veneno. Não senti vergonha, nem raiva. A única coisa que me passava pela cabeça era qual calcinha eu tinha vestido. Não lembrava de jeito nenhum. E o bebê lá continuava a chacoalhar braços e pernas em uma alegria audível, desconhecendo por certo que daqui uns anos vai ser ele no meu lugar. 

sábado, 7 de junho de 2014

Fabionices

Pai:
- Fabian cadê o teu chinelo??
- Tá lá na sala.
- Fazendo o que??
- Tá parado.


......

- Mãe, a lua foi passear "com nóis"?

- Mãe, a lua tem um pingo de chuva?

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Porque não gosto do politicamente correto

Imagina a dor, mas imagina o alívio de dizer o que se pensa.


Porque não adianta nada. É só uma maquiagem para acalentar todo o preconceito para baixo do tapete, e quem diz ou vive o politicamente correto sem revê-los aos menos de vez em sempre é quase tão culpado quanto os que deixam os seus bichos à solta.
Certo dia vi um programa americano sobre perturbações neurológicas e nele contaram a vida de um homem que sofria de Coprolalia. Esta doença nada mais é do que todos os nossos pensamentos mais escrotos que procuramos esconder, virem à luz do dia e...não é bonito. A equipe de filmagem acompanhou uma ida ao mercado com o pobre  a xingar Deus e o mundo, a escapar de bolsadas, olhares fulminantes e socos entre os corredores. Olhava para um homem musculoso de camisa colada e gritava "viado", olhava para uma senhora e dizia "gorda do caralho". Depois em casa, ele chorava e lamentava o que não conseguia controlar...nesta hora pensei justamente naqueles que são completamente contra a falsidade e fazem questão de inundar o facebook com mensagens do tipo. A verdade é que somos todos preconceituosos e que muitas vezes o mundo só resiste graças a uma grande dose desta. Se sairmos por aí dizendo tudo que se passa na cabecinha, seria bom checar se o seguro  de saúde (ou de vida) cobre acidentes por franqueza extrema.
É um fato que o humor brasileiro é firmemente baseado no nosso preconceito. Não adianta colocar a culpa na sociedade e não se tocar que fazemos parte dela. É ver os humoristas a gozarem com o negro, com o gordo, com o gay, com as minorias enfim. E achamos graça na maior parte das vezes tão somente porque esta linguagem politicamente incorreta dialoga com os nossos preconceitos mais arraigados. E se a nossa sociedade é racista, xenófoba, gordofóbica, nós também o somos. A notícia boa é que ao tomar consciência disto  podemo-lo desconstruir, mas não é trocando negro por afrodescendente ou bicha por homossexual  que muda alguma coisa se o que pensamos (mas não dizemos) continua intocável.
Eu sinceramente queria ver se todos os neuróticos pró-sinceridade iriam aguentar ouvir o que os outros pensam de si o tempo todo. Para já ia ser uma ótima experiência sociológica se a rede de relacionamentos mais famosa do mundo propusesse um dia da verdade. Um dia em que falássemos tudo o que pensamos sobre as postagens, sobre as fotos alheias. É claro que não rola...era capaz mesmo de se iniciar uma terceira guerra mundial pelo egocentrismo ferido. De qualquer forma, o que vale mesmo é o que faremos depois disto, se ajustaremos continuamente esta tal balança regulatória entre o que deve ou não ser revelado, sempre tendo em mente que é impossível nos fazermos de vítima da falsidade.

Dê férias para os seus pés (ao menos para eles)

Voltei as minhas Havaianas, pois os chinelos daqui são uma tristeza, duros como o raio e alguns ainda tem o desplante de custarem até mais que as legítimas. Adorooo o detalhe dos brigadeiros (negrinhos)!

terça-feira, 3 de junho de 2014

Coisa de criança

Quando eu cheguei aqui ainda tinha a sensação de que ia realizar um desejo de infância. Tenho uma costela alemã e até acho que puxei uns (muitos) genes Schuch, já que o meu bisavô era temivelmente conhecido como  tendo um gênio difícil. Pois o meu sonho era comer um dia chucrute. Sempre que falavam das festas alemãs no interior do Rio Grande do Sul,  imaginava um monte de gente feliz, bêbada e que alternava entre uma cerveja e outra, umas colheradas de chucrute. E o que seria o tal chucrute? Só pelo nome podia ser delicioso,  uma seleção de batatas gratinadas com linguiça e creme se infiltrando por todo o prato talvez.. Um dia falei ao marido sobre o meu desejo e ele riu muito. Tu queres, eu te levo para comer chucrute, ele disse. Mas depois ficou com pena e entregou-me: tu sabes o que é isto? É "só"  tudo aquilo que tu detestas...repolho fermentado com vinagre. Aquilo soou-me tão nojento que não pude deixar de lembrar-me do cheiro do vinagre, da minha mãe empesteando os meus pés e garganta quando eu tinha febre. E de repente aquelas festas com gente dançando bêbada e comendo chucrute me pareceu o pior dos pesadelos. É caso para dizer: cuidado com o que desejas, pode ser que alcances.
Quando eu cheguei aqui ainda tinha

Capitalismo no seu melhor

Acho um absurdo um país reconhecido pela luta aos direitos dos trabalhadores não ter décimo terceiro. É, engasguem com esta: a França não tem décimo terceiro assegurado pela lei. O que há é um eufemismo que chamam de "prêmio" que pode ser depositado até maio do ano seguinte, sei lá porque isto me lembra alguma coisa a ver com treinamento canino, vá saber. Pois e este prêmio é obrigatório, mas pode ser pago tanto um valor simbólico de 50 euros como pode chegar a um salário (que foi o que o manager do meu marido comentou aquando a assinatura do contrato). Hoje chegou-nos um valor que era um terço do pagamento mensal, e nós ficamos os dois a olhar com cara de tacho para o papel que ele havia aberto. O carro que contávamos comprar com este dinheiro vai precisar de um bom complemento através de crédito bancário. Ah e claro que o carro que sonhávamos comprar é um carro usado e velhote, apenas para o marido deixar de perder os braços pelo caminho cada vez que vamos ao mercado.
Frequentemente tenho divulgado alguns posts do blog no facebook em uma forma de ser a informante não oficial, uma não "emigrante-deslumbrada-que-só-fala-mal-do-Brasil", já que o pessoal que nunca saiu do país não tem a mínima ideia de como é o mundo a não ser através da tv. E se eu falo das coisas boas, é óbvio que não fico quieta com o que não está bem. E o assunto de hoje é: patrões de merda há em qualquer lugar.
O que as empresas mais querem é contratar gurizões que moram na casa dos pais, pagar qualquer merreca porque a falta de responsabilidade não os faz tão exigentes, e ficar com a cenoura lá na frente a dizer ao burro: se te esforçares muito, nós te promoveremos, nós te aumentaremos o ordenado. Se esta estratégia funciona com ingênuos de vinte e poucos, já não é tão eficaz para casos como o do Fernando. 
A festa que eles fizeram no final do ano passado realizada num casino na Alemanha para mostrarem o quanto são generosos, o quanto os lucros foram enormes graças aos" colaboradores", (ai gente adoro esta palavra que patrão inventou para maquiar com uma certa camaradagem enquanto os fode por trás), faz parte da história da cenoura. Pois na dita festa chegou o momento dos homenageados da noite: aqueles caras que quase quase alcançaram a isca, os garotos de ouro da empresa. Aí foram chamados meia dúzia de imberbes ao palco, com o sorriso exultante para receberem um prêmio por conta de sua dedicação. Olhei de soslaio para o marido me perguntando porque ele não tinha corrido mais atrás da cenoura ao invés de ficar resmungando? Já imaginava uma viagem a Seyshelles, ou uma grana boa para comprar um carro ou pagar o empréstimo dos móveis. E quanto mais eu imaginava, mais fula eu ficava. Veio uma moça e presenteou-os com guarda-chuvas. Minha cara foi ao chão e segurei-me para não rir. Eles receberam guarda-chuvas, mas não eram de qualquer tipo, eram de cabos de madeira e tinham o logotipo da companhia. O marido me olhou de volta incrédulo..."se eu tivesse ganho um guarda-chuva por ter feito o melhor que podia o ano inteiro eu mandava eles enfiarem no fiofó (mas foi no cu mesmo que ele disse)". E é assim, no fim de tudo, o pessoal ganhou uma valise e eu ainda pensava que poderiam sortear a tal ida para algum paraíso, quando o Fernando me cutucou: acorda mulher. - Indignado pelos caras terem gasto um horror numa festa ao invés de dar um aumento para os funcionários. - Para que dar viagens se eles ficam felizes com malas e guarda-chuvas e ah, com uma festa num casino da Alemanha? Que fazer? No mundo dos negócios eu não passo de uma besta de uma ovelhinha ingênua.

Bonitinha indelicada #academia

Não adianta olhar torto: enquanto eu for obrigada a cheirar a sua asa, você vai ter que engolir meu samba. 
~ pessoas que escutam música a sair dos headphones ~ 



Bonitinha indelicada

Adoro ver gente safada reclamando da corrupção. Dá até vontade de me juntar ao protesto e botar toda a merda que eu sei no ventilador.