terça-feira, 3 de junho de 2014

Capitalismo no seu melhor

Acho um absurdo um país reconhecido pela luta aos direitos dos trabalhadores não ter décimo terceiro. É, engasguem com esta: a França não tem décimo terceiro assegurado pela lei. O que há é um eufemismo que chamam de "prêmio" que pode ser depositado até maio do ano seguinte, sei lá porque isto me lembra alguma coisa a ver com treinamento canino, vá saber. Pois e este prêmio é obrigatório, mas pode ser pago tanto um valor simbólico de 50 euros como pode chegar a um salário (que foi o que o manager do meu marido comentou aquando a assinatura do contrato). Hoje chegou-nos um valor que era um terço do pagamento mensal, e nós ficamos os dois a olhar com cara de tacho para o papel que ele havia aberto. O carro que contávamos comprar com este dinheiro vai precisar de um bom complemento através de crédito bancário. Ah e claro que o carro que sonhávamos comprar é um carro usado e velhote, apenas para o marido deixar de perder os braços pelo caminho cada vez que vamos ao mercado.
Frequentemente tenho divulgado alguns posts do blog no facebook em uma forma de ser a informante não oficial, uma não "emigrante-deslumbrada-que-só-fala-mal-do-Brasil", já que o pessoal que nunca saiu do país não tem a mínima ideia de como é o mundo a não ser através da tv. E se eu falo das coisas boas, é óbvio que não fico quieta com o que não está bem. E o assunto de hoje é: patrões de merda há em qualquer lugar.
O que as empresas mais querem é contratar gurizões que moram na casa dos pais, pagar qualquer merreca porque a falta de responsabilidade não os faz tão exigentes, e ficar com a cenoura lá na frente a dizer ao burro: se te esforçares muito, nós te promoveremos, nós te aumentaremos o ordenado. Se esta estratégia funciona com ingênuos de vinte e poucos, já não é tão eficaz para casos como o do Fernando. 
A festa que eles fizeram no final do ano passado realizada num casino na Alemanha para mostrarem o quanto são generosos, o quanto os lucros foram enormes graças aos" colaboradores", (ai gente adoro esta palavra que patrão inventou para maquiar com uma certa camaradagem enquanto os fode por trás), faz parte da história da cenoura. Pois na dita festa chegou o momento dos homenageados da noite: aqueles caras que quase quase alcançaram a isca, os garotos de ouro da empresa. Aí foram chamados meia dúzia de imberbes ao palco, com o sorriso exultante para receberem um prêmio por conta de sua dedicação. Olhei de soslaio para o marido me perguntando porque ele não tinha corrido mais atrás da cenoura ao invés de ficar resmungando? Já imaginava uma viagem a Seyshelles, ou uma grana boa para comprar um carro ou pagar o empréstimo dos móveis. E quanto mais eu imaginava, mais fula eu ficava. Veio uma moça e presenteou-os com guarda-chuvas. Minha cara foi ao chão e segurei-me para não rir. Eles receberam guarda-chuvas, mas não eram de qualquer tipo, eram de cabos de madeira e tinham o logotipo da companhia. O marido me olhou de volta incrédulo..."se eu tivesse ganho um guarda-chuva por ter feito o melhor que podia o ano inteiro eu mandava eles enfiarem no fiofó (mas foi no cu mesmo que ele disse)". E é assim, no fim de tudo, o pessoal ganhou uma valise e eu ainda pensava que poderiam sortear a tal ida para algum paraíso, quando o Fernando me cutucou: acorda mulher. - Indignado pelos caras terem gasto um horror numa festa ao invés de dar um aumento para os funcionários. - Para que dar viagens se eles ficam felizes com malas e guarda-chuvas e ah, com uma festa num casino da Alemanha? Que fazer? No mundo dos negócios eu não passo de uma besta de uma ovelhinha ingênua.

8 comentários:

  1. Nem sei o que lhe diga... desconhecia que por aí (também) fosse assim. O relato da sua opinião e da vossa experiência está muito bem escrito mas não sei mesmo o que dizer... achava eu que tinha resposta pronta para tudo, mas afinal, parece que não. Guarda- chuvas com o logotipo da empresa como prémio de reconhecimento??? ....

    Para quem está no seu país e acha que "lá fora" é tudo melhor, pois que leia e repense.

    Bj

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  2. Realmente a situação é igual no mundo inteiro. Também tive em tempos uma patroa que exigia que em prol da empresa eu estivesse disponível 24 sobre 24 horas... trabalhava como uma louca, sempre fora de casa... no dia que pedi um aumento ouvi: mas e as prendas que te trago quando venho de viagem?!? t-shirts, pulseiras e outas bugigangas... isso dá para pagar contas??? Faz lembras os guarda-chuvas e as festas apenas para show of
    Sobre trabalho e patrões tenho tanto a dizer...
    Bjinhos

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  3. Realmente a situação é igual no mundo inteiro. Também tive em tempos uma patroa que exigia que em prol da empresa eu estivesse disponível 24 sobre 24 horas... trabalhava como uma louca, sempre fora de casa... no dia que pedi um aumento ouvi: mas e as prendas que te trago quando venho de viagem?!? t-shirts, pulseiras e outas bugigangas... isso dá para pagar contas??? Faz lembras os guarda-chuvas e as festas apenas para show of
    Sobre trabalho e patrões tenho tanto a dizer...
    Bjinhos

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  4. Na França eles pagam por mes ou por semana trabalhada?

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  5. Na França eles pagam por mes ou por semana trabalhada?

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  6. Paula, eu fiquei estarrecida, não consegui esconder a decepção e isto que estávamos na mesma mesa que o menager do marido. Até a namorada deste ficou em pulgas para dizer de onde tinham tirado a ideia de girico de dar guardas-chuva para os rapazes.
    Beijinhod

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  7. Mieke que abuso isto! Sabe que o que contaste me faz lembrar aquelas patroas que davam presentes de natal para as domésticas mas não aumentavam o salário. Tu não tentaste pagar a renda com bugigangas?
    Beijinhos

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  8. Caroline aqui eles pagam por mês mesmo.
    Ah, seja bem-vinda ao blog!
    Beijinhos

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