terça-feira, 25 de junho de 2013

As ruas de minha memória

É impossível não viajar ao passado cada vez que ando pelas ruas de minha cidade. O viaduto da Borges de Medeiros lembra nosso primeiro beijo, passo por ele dentro de um ônibus apertado e da janela embaciada vejo nossos fantasmas ansiosos e de mãos dadas. Quando subo a lomba da faculdade de direito, lembro-me de quando de manhã muito cedo meu avô me deixava naquela esquina. Justamente naquela esquina sempre que dormia na casa deles. Vi-me caminhando de sandálias altas em direção ao prédio de Psicologia. Vi ainda o vô arrancar o carro apressado rumo ao trabalho. Na Redenção caminhei vestida de grega juntamente com meus colegas para ensaiarmos a tragédia que escrevi. As pessoas nos olhavam e por certo nos tomavam por alguns malucos de uma seita qualquer. No Parcão vi nós dois sentados e teus braços me envolvendo fortes. Conversávamos do futuro. Tínhamos tantos planos... Engraçado eu ter chegado até aqui e não poder nos avisar. Fiquei a olhar tristemente aquelas silhuetas que se abraçavam e por mais que naquela hora tu viraste era a ti que parecia ver um fantasma. 
As ruas de minha cidade são verdadeiros caminhos que levam a mim, carregam-me seis, oito, doze anos atrás. Ou mais. Vejo-me criança a conversar com o meu pai. Vejo-me feliz ao trazer para casa um gatinho amarelo que ninguém quis. Vejo-me a pegar o ônibus tantas vezes, passar pela roleta, e com olhos distraídos não me vejo. Hoje não vejo a cidade que me viu crescer, vejo apenas a mim. Revivo memórias e tenho medo de abandonar o que ficou para trás.

2 comentários:

  1. Que texto lindo e super bem escrito! Apesar de estar meticulosamente escrito, as ideias e as palavras fluíram em perfeita harmonia.

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  2. Oh Cláudia obrigada! Eu adoro escrever, nem sempre escrevo bem, mas sempre tento por o máximo de mim naquilo que partilho.
    beijinhos

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