terça-feira, 18 de junho de 2013

Aula de samba

Anabela conferiu pela segunda vez se levava os tênis de ginástica na bolsa esportiva. Sim, levava. E também meias e top. Amarrou o cabelo em um coque e se despediu do marido dizendo que ia na tão aguardada aula de samba. O marido não perguntou que horas voltava, emendou ela em pensamento, que apenas por distração, não porque já tivesse deixado seu jantar no forno. Fechou a porta e nenhum sinal do olhar do marido, que permanecia embaciado no jogo da televisão. 
Nuno não era propriamente um gentleman, não era daqueles que abriam a porta nem dos que mandavam sms apaixonados. Mas era ainda sim um bom homem, correto, trabalhador e sincero. Aquele homem não guardava nada na garganta. No entanto, vinha notando que o desejo entre eles não era mais o mesmo. As trocas de carícias, as preliminares tinham se tornado tão ralas e...rápidas...e às vezes eram suprimidas para um caminho mais rápido entre suas pernas. Pudera que já lá iam em sete anos de casamento, muitas de suas amigas achavam normal, inclusive algumas delas arrumaram amantes, assim como os seus esposos. Anabela se arrepiava a cada vez que pensava se Nuno a estaria traindo. Será que estava? As amigas diziam que era bem provável porque homem nenhum aguenta mulher de coxas mornas. E foi aí que Salete entrara. A baiana foi indicada por uma colega de academia, dizia-se à boca pequena que a mulher ensinava como seduzir com o gingado de sua terra, ora claro que com samba.
Quando finalmente chegou na sala de um prédio simples e popular, exalava nervosismo. Salete chegou se apresentando muito sorridente e a convidou para se juntar as outras quatro alunas em outra peça de sua pequena academia de dança. Anabela foi guiada pelas nádegas bem desenhadas na calça de suplex da mulata. Tinha um sorriso muito aberto e genuíno, uma voz quente que envolvia e inspirava-lhe pela primeira vez a segurança de sua decisão. 
Cumprimentou as outras mulheres, deviam andar todas nos trinta, ao menos era o que parecia. A sala era pequena, mas os dois espelhos que ocupavam toda a parede deixavam-na com a sensação de que havia muito espaço. A professora mandou que sentassem em bolas de yoga. Anabela escolheu a vermelha. Sempre sorrindo, pediu-lhes que deixassem a  vergonha para o lado de fora da porta e dirigiu-se para o botão de play.




A peça inundou-se de uma voz masculina e Salete começou a requebrar os quadris. Tão graciosamente se moviam ao ritmo da música, enquanto falava:
- Aqui vocês vão aprender a sambar, mas não é sambar no chão. É sambar lá na hora do bem bom. Agora quero que mentalizem que estão com os seus amados... não não precisam rir...faz assim, estão sozinhas, pronto. Quero que vocês mexam conforme a música, só a cinturinha filha. - ia passando pelas alunas e pousando suavemente as mãos sobre os quadris, educando-os ao som e às paradas da melodia.
Anabela tinha vergonha, ainda mais se imaginasse Nuno por baixo dela, até esta era a posição preferida do marido, o que a deixava com uma pontada de timidez por lá estar. Mas não se daria por vencida, tinha decidido que ia reascender a chama entre os dois. Tinha se concentrado tanto no rebolado que quando deu por si havia caído da bola. Salete veio em seu socorro e colocou-a novamente na posição gangam style. Ficaram quarenta minutos a remexerem e suarem os quadris. Por fim a professora sentou-se em uma bola e começou a lhes mostrar o movimento que fazia o abdome. Raios parta, a mulher é mesmo boa, pensava. Não que fosse muito bonita, mas era sensual, tinha o típico corpo da brasileira, os seios pequenos e rijos, a cintura fina e as coxas grossas. Salete era do bem, não estava ali para roubar nenhum marido, mas sim para ajudá-las a (re)conquistá-los. 
A cada aula era uma posição diferente, uma música mais ou menos agitada, conforme ditavam os movimentos. Além da aula ainda havia abdominais, exercícios para fortalecer a pélvis, os glúteos e até aquela posição horrorosa que detestava fazer no ginásio. Tinha de deitar e levantar o quadril e abaixá-lo, sempre contraindo as nádegas. Salete dizia que era fundamental que tivessem preparo físico se quisessem algo diferente do feijão com arroz. - Ora estão aqui para fazer papaí e mamãe e mamãe e papai? Bora mexer estas ancas meninas!
E assim passou um, dois e três meses de aulas. Anabela finalmente sentia-se pronta para revelar ao marido tudo que aprendera com a baiana. Espiou através da cortina e viu que ele se aproximava do edifício. Correu com os saltos para mais uma olhadinha no espelho. A última. Tinha um corpete cor de vinho, entrelaçado com fita de cetim e uma calcinha de renda também em vinho. Sabia que o marido adorava aquela cor. Ou seria mais o vinho em si? Apertou os lábios rosados e conferiu o lápis preto nos olhos azuis. Não lembrava-se da última vez que se arranjara para o marido, talvez no primeiro ano de casada, talvez...
O barulho da chave a girar. Seu coração palpitava. O marido abriu a porta e deparou-se com a mulher em um salto agulha semi nua no hall de entrada. Mais que ligeiro mandou-a para o lado com medo que algum vizinho a visse naqueles trajes. Ela abraçou-o e foram para a cama. Fez-lhe tudo, qual uma aluna exemplar em seu último exame do ano. Ah sambou, sambou muito. Mas ele não desconfiava, não havia música, não havia pandeiro nem nada. Apenas Salete e suas mãos invisíveis a conduzí-los ao orgasmo. 
Caídos e abraçados, ela lhe desenhava espirais no peito cabeludo. Ele parou alguns minutos de olhos fechados, depois colocou novamente o relógio e levantou. Era a final da Taça Uefa, ou sei lá o que. Para o marido qualquer jogo adquiria status de final de alguma coisa. Anabela suspirou. Primeiramente desiludida, depois com raiva. Ele gritava da sala para que aquecesse o jantar. Ela levantou-se e colocou a roupa de costume, limpou a cara e decidiu: arrumaria um amante. Mas não um amante qualquer. O Gonçalo ia servir, era afinal de contas o melhor amigo de Nuno. E pensou contemplativa, de que talvez esta fosse a única forma de ficar mais próxima do marido.

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