quarta-feira, 19 de junho de 2013

Deixamos de ser o bom selvagem



O Brasil acordou, levantou a bunda do sofá e foi às ruas, primeiramente para conter o preço das passagens de ônibus, depois por todo o resto. Começou na minha Porto Alegre e depois foi se espalhando por quase todas as capitais e inclusive em outros países com maior concentração de emigrantes brasileiros. 
Hoje li uma ex colega da História no facebook reclamando que as pessoas não sabiam o que era manifestação, que querem protestar contra a corrupção, a favor da saúde, de melhores escolas, etc. Defendia que era necessário ter um foco e neste quesito, o povo já foi bem sucedido: as passagens irão baixar, a daqui nem sequer aumentou. Concordo com ela, mas ficamos tanto tempo mergulhados em uma inércia, mudando o mundo em uma mesa de bar, que é um belo começo. Tenho visto pessoas reclamando do vandalismo, porém são situações pontuais, a maioria do pessoal, digamos que uns 90% ou mais, estão usufruindo de seu direito pacificamente. É uma pena que quem ficou sentado só enxergue os baderneiros...
Ah e claro, como poderia esquecer dos conspiradores de plantão: "quem está por detrás disto?" Os reacionários amigos da ditadura (daquele tempo em que tudo era  bom) acham que os comunistas estão manipulando as massas para chegar ao poder. Eu já acho que nem vale a pena discutir com estas pessoas tão bitoladas, isto até lembra-me a síndrome do pombo enxadrista.
Historicamente o povo brasileiro, que naquela época ainda nem tinha uma identidade por assim dizer de pertencença a esta terra, está acostumado com a corrupção. Digamos que está no nosso dna assim como está no de muitos outros. A falta de eficácia na fiscalização pela coroa portuguesa, os incontáveis cargos,o óleo para esta engranagem que é a ineficiente burocracia, assim como a esperança frequentemente bem sucedida de levar vantagem frente a um sistema econômico castrador, são só alguns exemplos de como tudo começou. Mesmo após a suposta independência, a qual desde crianças sabemos que não significou mudança alguma para a maioria dos brasileiros, o aumento desta rede que suporta cargos e mais encargos só tem vindo a agravar. A maioria das revoltas contra o governo foram planejadas de cima, isto é, por uma burguesia que reivindicava privilégios e benesses. Raramente o povo teve voz. Tinha um conhecido que dizia que povo era um punhado de ninguém. É verdade, porque infelizmente o povo não tem uma identidade consciente do poder de mudança que lhe legitima. O povo é fácil de distrair, com novela, futebol, música...
E agora o povo está nas ruas, mas está sem rumo. Todos concordam que devemos mudar, que é urgente o investimento em educação e saúde, e já agora em saneamento básico e na erradicação da miséria. Mas por onde começar? Ninguém faz uma faxina de cinco séculos em 4 anos. E quem encabeçará esta mudança? Não sabem. E não me venham com votar nulo ou branco ou partidos que já sabemos que deu merda. 
Mas uma coisa o povo já entendeu. Não quer Copa, não quer Olimpíadas. Não quer ser capacho de ninguém, nem aquele anfitrião que está acostumado a receber visitas com subserviência. O povo quer ser gente de carne e osso. Vamos ver até onde vai esta onda de protestos, lembro-me agora de que o estado social francês não se fez em um dia. Nem em três meses. Tenhamos esperança. E paciência.



3 comentários:

  1. Daniel Oliveira, um jornalista português escreveu hoje (e bem): "enquanto turcos e brasileiros exigem o que há dez anos nem lhes passaria pela cabeça, na Europa aceita-se o que há dez anos seriam impensável tolerar".

    Isto está tudo às avessas.

    Por quanto mais tempo iremos tolerar, seja na América, ou na Europa, o que nos é imposto pelos governantes?

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  2. Pois é Cláudia, ao que parece o Brasil em peso está aderindo aos protestos, até nas cidades menores. Eu realmente não sei onde vamos parar, mas seria um bom começo tirar os privilégios dos políticos e diminuir o número de deputados e vereadores.
    beijinhos

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  3. Concordo e subscrevo. O problema também se passa em Portugal. E é triste quando o bom exemplo não vem de cima, de quem estar no poder.

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