sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Um filho especial

Ontem em uma tentativa de refrear o Fabian em um consultório médico, reparei nas sandálias estilo franciscano que a mãe do menino havia deixado. O Fabian com a agilidade de um furacão a levantar tudo que vê pela frente já as reclamava para si, pois são iguais as suas. As sandálias repousavam sobre a cadeira de rodas do menino que estava consultando, eram tão imaculadas de brincadeiras de criança, de sujeira, de riscos e até do descascado nas biqueiras tão característico de um calçado de menino. Óbvia a minha constatação. O menino não anda. Não trepa em cima de muros, não rala os joelhos. O menino não fala. O menino não faz as birras que o meu faz de atirar-se ao chão para eu arrastá-lo. Pensei com vergonha nas vezes que odiava a energia inesgotável do Fabian, em que não gostaria que ele corresse tanto, que exigisse tanto, que me puxasse tanto para acocorar-me ao chão com ele. Senti vergonha de querer que ele seja perfeito, contido, educado. Vergonha porque eu não teria sob mim olhares de desaprovação, pois que fiz um bom trabalho em domar a fera. 
Certo dia estava na casa da minha sogra e escutei uns uivos persistentes. Achei que eram os cachorros que aqui pipocam por todos os lados. Mas logo aqui ao lado há uma "creche" para pessoas deficientes. Os gritos eram deles. Já passei ali tantas vezes, mas nunca tinha reparado bem nos jovens e crianças maiores que por ali andam. Aliás são daquelas coisas que não sei exatamente como reagir. Não sei se olho ou se finjo que não vi. Não sei se é pior a curiosidade ou o descaso. Não sei, porque não sei o que sentir. Não sei se é errado sentir pena, dor ou impaciência. 
Meu filho vai crescer, vai com o tempo tornar-se mais civilizado e vai fazer sua vida. Mas uma pessoa assim segue de certa forma a ser criança pelo resto da sua e como a família lida com isto pode amenizar ou não o futuro destes filhos. Alegra-me ver que as pessoas tratam com mais naturalidade, que não escondem como antigamente estes seres em quartos escuros. E claro, ao constatar isto também fico aliviada pelo meu filho ter saúde e até por ser assim tão estouvado. De qualquer forma, aquelas sandálias em cima da cadeira me deixaram a pensar. Tão limpas, do mesmo tamanho 26 do Fabian sendo que o menino aparenta ter uns sete anos apesar de muito pequeno... Todos os filhos são especiais, mas há uns mais especiais que outros. 

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