quinta-feira, 29 de maio de 2014

Feriado

A gente percebe que já está um pouco adaptado com a cidade quando começa a ter fobia de turista. E o sentimento se impregna tanto nas ventas que chego a entender os parisienses que os tem em maior proporção. Então quando se passa pelas ruas estreitas do centro e tem de se desviar da excursão de alemães na terceira idade com seus passos miudinhos e sem pressa, ainda mais miudinhos e sem pressa quando avistam a carroça do sorvete coincidentemente ali atrolhando a rua, ou sacando das lentes enormes para tirar uma foto dos prédios velhos de janelas desproporcionais. 
Hoje é feriado na França, mas tal como nos domingos em que os shoppings tem as portas completamente fechadas (e não apenas a praça de alimentação em funcionamento), só nos resta caminhar sem rumo pela cidade. Colocamos o Fabian no carrinho e fomos por umas duas horas, sem esquecer de parar no sorvete de sempre, em  que a menina que atende já nos recebe com um "bom dia" com sotaque francês. 
Quando já estávamos voltando, as previsões do marido que desde ontem olhava para as nuvens roxas e sentenciava que ia chover, finalmente se concretizaram bem no meio do nada. Podíamos ter pego o tram há dez minutos atrás, mas de qualquer forma ainda teríamos da nossa estação uma boa pernada sob a chuva torrencial. E por falar em chuva: caía em pingos grossos e a luz  refletida do por do sol dava a impressão de que tudo estava em câmera lenta.  A vida deve ser mesmo esta mistura agridoce, este encher-nos de frio e ao mesmo tempo nos trazer o melhor perfume da primavera, o cheiro de terra molhada. Os últimos minutos foram a imaginar o café quente a descer, a roupa macia e seca a nos envolver o corpo, mas principalmente eu a tirar a sandália que me massacrava os calcanhares. E é claro que como toda boa chuva, ela terminou exatamente no momento em que pusemos o pé em casa.

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