domingo, 11 de maio de 2014

O empreendedorismo francês



Faz um mês que o espacinho envidraçado que eu e o marido cobiçávamos em sonhos, foi alugado. Antes era uma pequena lanchonete com móveis manchados de tinta e cobertos de pó. A reforma durou uma semana: pintaram, trocaram o balcão, colocaram pequenas mesas para dois e penduraram cortinas decoradas com limões. O nome era alguma coisa como "soleil d'or", mas depois vi que este era o nome do negócio antigo, talvez de antes, de antes, de antes deste. 
Semana passada o Fernando disse que haviam fechado e eu fiquei meio: como assim???? Um mês, um mês! Esperavam algum ganho líquido neste período? Até eu leiga da silva em empreendimentos, sei que demora-se uma média de um ano para recuperar todo o investimento dispensado e  dois para obter finalmente lucro . Tá certo que o ponto não é lá estas coisas, mas aqui perto há algumas empresas de grande porte que poderiam bem ter significado clientes frequentes.  Há poucos restaurantes, principalmente de comida mais rápida, barata e eclética.
Como são Tomé, só acreditei quando passei à frente da porta e li o papel logo abaixo do aviso de encerramento, no qual se encontrava ainda o horário do ex-restaurante. Do meio dia às duas e das dezenove às vinte e duas horas. Não preciso dizer que não abrem em  finais de semana nem feriados. Notei que apesar da nossa caixa de correio viver abarrotada de propagandas, não recebemos uma sequer anunciando-o. Na fachada, nada de pratos descritos em um quadro, nada de promoções do dia, e também nada de clientes. 
Não é querer ser tendenciosa, mas é só olhar para os lados e ver a quantidade de restaurantes turcos, chineses, iranianos e etc,  abertos 7 sur 7 jours. Com propagandas em tudo que é lugar, sendo que quase toda a semana chega-nos um menu a preços justos com entrega gratuita a partir de 15 euros. Aí a pessoa aluga, faz reforma e gasta uma pequena fortuna para abrir um negócio e quer que como mágica pulem fregueses no seu colo. Não diversifica os produtos oferecendo por exemplo, lanches para o período da tarde, não coloca anúncios nas imediações, abre em um horário em que a rua fica deserta (à noite), ao invés do período laboral das 9 às 18 horas, e eu ainda admiro-me quando fecha em tão pouco tempo. 
Em um lugar onde a padaria fecha finais de semana e segunda-feira, onde o salão de beleza trabalha só sábado de manhã e fecha na segunda o dia todo, onde os shoppings e supermercados fecham aos domingos, é um pouco difícil conciliar lucro, falta de vontade e direitos trabalhistas. 

4 comentários:

  1. Compreendo perfeitamente o que quer dizer e acho que tem toda a razão. Já trabalhei por conta própria e nos moldes em que esse negócio estava a funcionar, era impossível dar certo. Claro que não viram resultados num mês, mas a continuar assim não os veriam nunquinha!

    Votos de uma boa semana

    ResponderExcluir
  2. Heheheh! Pois é Paula, verdade! Mas esta desistência foi em tempo record, eu pelo menos nunca tinha visto alguém desistir em um mês de portas abertas.
    beijinhhos

    ResponderExcluir
  3. Duas razões que não as que apontas para ter fechado:

    1- Foi lavagem de DINHEIRO. Já lavou, toca a fechar.

    2- Existiu inspecção e nem tinha condições para estar aberto.

    Eu também costumava ter um raciocínio mais ingénuo e linear como o teu. Agora acho que ninguém ia ser tão idiota de abrir um restaurante para fechar logo depois, ainda mais oferecendo menos que a concorrência já estabelecida. Obviamente que tem de existir razões não visíveis por detrás.

    ResponderExcluir
  4. Será portuguesinha? Talvez lavagem de dinheiro porque quando é fechado por razões da Asae daqui eles põem um aviso na porta. ;)
    beijinhos

    ResponderExcluir