Ora, ontem estava procurando sei lá o que na net e deparei-me com um blog de um cara que vivia nos EUA a falar sobre se um dia sofreu preconceito lá. Ora, para mim há dois tipos de pessoas: as que tem preconceito e as que não admitem. Tirando as pequenas exceções à regra, diga-se Gandhi, madre Teresa, Dalai Lama...acredito que todos somos preconceituosos em algum nível e com alguma coisa ou pessoa. E às vezes até querendo elogiar vem o preconceito: olha que negra bonita! Não pode ser simplesmente que mulher bonita? Como se para ser negra tem que ser feia e aquela é bonita, por isto, é preciso enfatizar. O branco está pressuposto nas nossas afirmações. Por exemplo: aquele senhor é um ótimo mecânico (se é branco). Ou aquele senhor negro (ou de cor) é um ótimo mecânico. Mas tá bem, preconceito não é só de cor ou etnia, é muito mais que isto. É com gordo, é com baixinho, com careca, com o jeito de falar, com classe econômica, enfim. Lembro-me de uma amiga dizer, logo que vim para Portugal: nossa, tu és muito preconceituosa com os portugueses. E eu disse, é normal ser preconceituoso. Não me orgulho de ser, quero mudar, mas isto faz parte do ser humano. E ela: não, Nyne, não é normal. E dias depois ou antes, já nem sei...ela: ah porque detesto carioca. São todos uns malandros, aquele jeito de quem quer tirar vantagem... Ah, não sou daqueles que dizem: te peguei, mas bem que devia!!
Acho que é normal ter receio do desconhecido. Tudo que é novo tende a assustar, queremos sempre nos sentir seguros, amados, queridos. Eu, a princípio não tinha preconceito com portugueses. Vim visitar aqui com 15 anos, uma viagem muito rápida, mas mal convivi com as pessoas. Depois quando vim pra cá morar com 21 anos, foi completamente diferente. Lá no sul do Brasil temos aquela coisa de que estrangeiro parece gente de outro mundo. Eles tem sempre tudo melhor, tecnologia, educação, carro, escolas, roupas... Queremos fazer parte do mundo deles, fazemos amizade, convidamos para nossas casas, à espera que aquele "ar de civilidade" possa nos enebriar também. É verdade, lá para o Sul vai muito pouco estrangeiro. É por isto que quando cheguei aqui, achei na minha cabecinha que ia ser bem tratada. E não é assim. As pessoas veem: ah, tu és brasileira. Com desdém, com uma tarja do tipo, vulgar, para não dizer outra coisa, vem aqui roubar nossos empregos, nossos maridos... E eu assustei-me porque nunca havia sofrido preconceito. Já sabem, sou branca, de uma família classe média, era magra, bonita. Nunca fiz parte do outro lado.
Achei o povo estúpido demais, muito carrancudo, desconfiado. É óbvio que tem muito brasileiro aqui que aprontou o 7, mas eu não era um deles. Tava na minha vidinha de casada, na minha, sem incomodar ninguém. E às vezes ouvia bocas, o povo falando mal de brasileiro aqui e ali, no ônibus, no trem, no mercado. E depois as piadas que são todas contadas ao contrário que no Brasil. Mas confesso que o que mais me irritou foi ver que aqui eu tinha uma lição para aprender. Afinal o que mais nos incomoda no outro... É porque eu também sou carrancuda, estúpida e desconfiada. Não é com todos, não é toda hora, mas admito. Só tem uma diferença: eu não falo o que penso. Guardo para mim e para o meu marido lol. Não temos o direito de agredir niguém.
E para completar, com o tratamento para engravidar, acabei por ir ao Porto. E surpresa: quanta diferença das pessoas, de tratamento, de alegria. Afinal não são todos os portugueses que são assim. E no geral dou-me muito bem com os vizinhos, com algumas pessoas na faculdade e fico pensando, se ainda continuo preconceituosa como quando aqui cheguei. Não sei, às vezes quando recebo aquela patada, volto a xingar em pensamento. Mas quando ao contrário, esbarro com alguém educado, feliz, já vai um tijolinho a menos no meu muro de proteção. Sim, porque quando a gente chega num lugar e começa a sentir-se indesejado, nada mais natural que achar que todos são assim e que vão me fazer mal. Ora, lá está: porque temos sempre a tendência para sobrevalorizar o que de mal nos acontece? De qualquer forma, sigo o meu aprendizado, para quem quer ser psicólogo um dia... nada mais forte do que aquele que anda desarmado. É isto.