quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Ser emigrante


Ser emigrante depois de um tempo deixa de ser uma condição quiçá temporária e passa a ser um estado de espírito. Andar pelas ruas que não nos conhecem à procura de rostos familiares, de traços do passado que tentamos forçosamente que se encaixem no presente. Ser emigrante é sentir-se só, desenquadrado, por mais que tenhamos amigos ao nosso redor. É andar por entre lembranças em uma constante procura de sentir-se pertencente, protegido. É aprender que lar não é somente um lugar qualquer a que fixamos morada, lar é a conexão à uma identidade em constante mutação. É sorrir quando comentários muitas vezes invejosos, vindos de quem não teve a coragem de mudar, ao ver que sim, nossa vida não é só primavera. É tentar nos convencer das coisas boas que nos prendem aqui, porque a pior coisa é viver na indecisão e arrependimento.  
Ser emigrante é talvez a forma mais rápida e eficaz para amadurecer ou envelhecer, depende de como  o encaramos. Aceitar, aprender a viver com esta condição de que não cabemos mais em nós mesmos, não cabemos mais em rótulos "brasileiro", "português", "francês"...estamos além e ao mesmo tempo, no ponto de partida. É perceber que quanto mais nos afastamos, mais nos aproximamos de nós.

Fabionices

Ao ver uma foto minha grávida:
- Ohhh, parece a mamãe!
- Não parece, é a mamãe. E com o Fabian na barriga.
- Quando que eu era beeem pequenininho?
- Sim, quando tu eras pequeno ficava na barriga da mãe.
Olhando para a pança proeminente do Fernando:
- E na do pai também né?



quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Papai Noel, anota aê!

Devo ser das poucas mulheres que se perdem com isto, mas sabes Papi noel (posso te chamar assim?), sei que não és mágico, portanto não dá para simplesmente fazer voar estes 15 quilos deste corpo, mas e porque não dar-me uma sala de ginástica só para mim? É, eu fui uma menina muito muito má, desisti da academia há um mês. Mas Noel, sabes o que é esperar o marido chegar, sair de casa, caminhar duas quadras até o ônibus, esperar 5 a 10 minutos em um frio de 1 a -2 graus (nesta altura já é noite), pegar finalmente o transporte, andar três estações e descer, caminhar quatro quadras, entrar, tirar toda a roupa, colocar a de ginástica e começar a suar e depois fazer o caminho inverso (conta com a parte que estou com os cabelos molhados porque tomo sempre dois banhos)? Sei que deves estar acostumado com o frio, já moras no Polo Norte há tanto tempo...mas eu, eu não Papi! Não nasci pra esta merda. Juro que não tenho preguiça de fazer exercício, talvez tenha sido a única pessoa que conheço que não fazia da esteira um cabide. Portanto se é para sonhar, queria este Natal uma esteira daquelas grandes, que eu possa correr sem ter medo de quebrar, uma elíptica que sou um pouco masoquista, uma plataforma vibratória, uma mini estação com pesos e supinos e alguns halteres. Vou voltar a ser uma boa menina, prometo!! 








Eu sei, mas é incontrolável



Sei que não devemos fazer juízos de valor sobre a cultura alheia, mas não consigo deixar de ficar perplexa diante de algumas coisas. Por exemplo, acho muito estranho o jeito fechado das crianças daqui. Não são de maneira nenhuma tristes, são crianças que riem, que brincam, mas entre si. São crianças incapazes de fazer amizade com crianças desconhecidas e quando digo fazer amizade, refiro-me apenas a brincarem juntos naquele momento, não é a amizade do adulto. Tenho notado a ânsia que o Fabian fica de se enturmar em uma brincadeira e noto que muitas vezes apesar das outras crianças regularem de idade com ele, não querem nem saber. Para os franceses vale a máxima: eu já tenho amigos, para que preciso fazer mais? E isto eu já sabia que para os adultos é quase uma verdade absoluta, agora para as crianças, imaginava que ainda reinava alguma espontaneidade, mas estava enganada. Os amigos que uma criança francesa faz são na escola, onde ainda bem, o Fabian já tem alguns. Agora fora de questão tentar fazê-los em um parque, é inútil. Eles ignoram-no completamente. Se já tem amigos, não precisam. Se estão sozinhos, estão bem assim. Ora que povinho difícil hein?!

Pergunta do dia

Porque as mulheres quando pensam em ter filhos na maioria das vezes preferem menina? Lembro-me de todas, mas todas as vezes que me imaginei mãe, sempre foram de um menino. Posso estar errada, mas a imagem de meninas como sendo muito chatinhas, com voz melosinha e queixinhas me deixa com muita má vontade, se deixa.


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Se os olhos são as janelas da alma, o sorriso é a porta de entrada

Acho muito engraçado a forma como as pessoas tratam os dentes e isto é uma das primeiras coisas que observo nos outros: o sorriso. Há muitas coisas com as quais podemos ser desleixados, a roupa, o banho, o peso. No entanto, os dentes são para mim o cartão de visitas pessoal, e se a pessoa não cuida, se os tem amarelados ou pretos, ou pior se não os tem é muito mal. Tenho notado pelo sorriso desfalcado de muitos colegas que o cuidado bucal não deve ser uma premissa em seus países de origem. Vejo jovens a que faltam um ou dois ou mais dentes e quando sorriem fico envergonhada quando sou inadvertidamente atraída por aquele vazio. Tem uma mulher que espera o filho na escola quando vou buscar o Fabian, já a vi conversando no telefone e ela tem apenas quatro dentes em cima. É uma jovem à volta dos 25 anos ou talvez menos... como pode olhar-se no espelho, como pode sorrir? 
Os brasileiros com todas as suas dificuldades financeiras ainda conseguem ser mais cuidadosos que muita gente com melhor condição de vida. Ao menos falo pelo sul do Brasil em que mesmo o pessoal das favelas usa aparelho nos dentes. Isto mesmo! Não é raro ver pessoas humildes com aparelhos ortodônticos e com todos os dentes na boca. Talvez seja cultural, nós com a mania das aparências e do corpo nos trinques, vai daí que arrancar um dente por não querer pagar o tratamento é coisa que não nos entre na cabeça. Então, um dente é para a vida toda! Não nasce outro no lugar. Também as políticas de tratamentos de graça oferecidos pelos estagiários em odontologia, ou nos postos do governo ou nos consultórios particulares financiados em planos de 36x.
Hoje agradeço a minha mãe e ao meu padastro por terem me dado a oportunidade de consertar meus dentes que eram bem tortos. E posso dizer que o meu sorriso é uma das coisas que mais gosto em mim. 

domingo, 24 de novembro de 2013

A elefanta

Em cima de nós mora uma elefanta. Uma elefanta de tamanco holandês, ora vejam. Enquanto do lado direito da casa temos um vizinho simpático que ainda pergunta-se do incômodo que é o ouvir partir lenha às quatro da tarde, do outro lado tenho uma elefanta que olha, usa tamancos de holandês. Nunca bati olho no olho com a minha vizinha do lado de lá, só a vejo quando estou fechando ou abrindo as janelas e ela e o marido passam de carro ou indo ou saindo dele. Só a vejo de longe e sei que é gorda. O marido também é, mas é ela que a tem mais consistente. Eles chegaram com o caminhão da mudança no dia seguinte a minha vinda e o proprietário da casa veio com ela até aqui e a apresentou ao marido, dizendo que era do Irã. Agora acho que deve ser por isto mesmo, deve estar acostumada a viver no deserto e Jesus, passa o dia inteiro a andar por cima das nossas cabeças. Não sei como é gorda!! A menos que ande com uma bandeja de bolo nas mãos. Não sou uma pessoa chata (embora o marido discorde), sou razoável com barulhos, tanto que vez por outra escutamos o do lado esquerdo, mas também sou consciente de que sou uma boa vizinha: nunca faço bagunça, nem escuto música alta, nem trepo para todo mundo ouvir, nem deixo meu filho gritar, nem nada. Depois das nove e meia ainda temos mais cuidado porque sabemos que ambos os vizinhos tem filhos bebês e não os queremos incomodar. Agora santa paciência, não acho normal a elefanta andar de madrugada inclusive a pular nas nossas cabeças e a subir e descer as escadas que levam para o terceiro andar onde deve ser o quarto do menino, e nestas pulanças acaba por acordar o meu. Que coitado, dorme bem embaixo da escada onde é a sala deles. Quando o vizinho do lado direito veio falar conosco, o meu marido disse que não nos importamos com o barulho que faz, mas que deusolivre esta outra vizinha!! Ao que ele também respondeu apavorado: parece que ela está na nossa casa! Já eu acho que qualquer hora vai cair na minha cabeça. Se notarem isto muito às moscas já sabem. 
Agora sou boazinha e tento ser paciente e consegui por quase três meses, mas este sábado não me contive. Eram sete da manhã de um sábado merdoso de frio e a elefanta a andar para lá e para cá. Pum pum pum. Pum pum pum. O Fabian já tinha passado para a nossa cama e nenhum de nós conseguíamos dormir. Irritei-me. Busquei a vassoura e dei-lhe com força no teto. Uma, duas, três vezes. Os passos vacilaram. Será comigo? Oh! E eu: si'l te plaît!!! Silenceeee!!! Meerrrrrrde!! Dei-lhe mais vezes. Meus gritos era qualquer coisa de louca, roucos e focados na raiva. Os passos amainaram, ficaram mais tímidos por horas e horas. Estranhei o marido não ter me impedido e nem ter falado nada quando finalmente voltei para a cama. Mas pela noite, encostou-se a mim na cozinha e disse que tinha segurado o riso de me ouvir xingando em francês. Começou a me imitar e eu caí na risada literalmente, ri-me tanto, acho que a vizinha pensa que sou de fato uma louca. Só sinto falta de não saber tantos palavrões quanto gostaria. Não é lá a primeira coisa que se faz quando aprendemos uma língua? 

Por um pé não cagado

Ontem fomos até o shopping procurar umas pantufas para o Fabian que eu esqueci de tirar na hora em que mudei o programa para secagem. E é claro que elas encolheram e ficaram enroladas de tal maneira que só a bruxa do mágico de Oz as acharia anatomicamente confortáveis. Pois estava eu entre os casacos femininos da c&a (já que não encontrei necas de pantufas), quando olho para baixo e quase vou pisando em um cachorro muito velhinho. A minha primeira reação foi de que era um daqueles cães treinados para guiar cegos, mas depois vi que a sua dona (uma senhora maquiada por demais) estava bisbilhotando preços tal como eu. Depois já no corredor vi um cachorro enorme que não sei o nome da raça, mas estava dormindo pachorrento sobre os pés de um homem careca. Depois vi um pastor alemão, cão mesmo, não um senhor de veste preta e loiro. E cada vez mais iam aparecendo seres de quatro patas misturados à multidão barulhenta e não pude deixar de pensar que a eles deve ser tão estressante quanto trazer recém nascidos para aqueles lugares. 
Já tinha uma ideia do quanto os franceses adoram cães, mas não imaginava o quanto. Ainda outro dia, passando por uma rua aqui perto, deparo-me com a vitrine de um dos milhentos salões da região. Entre a estante dos produtos para cabelo e posteres de beldades com juba lustrosa, eis uma cama para bichano bem ao pé do vidro. E não é a única: lojas imobiliárias, restaurantes, roupa, enfim há quase sempre um lugar reservado aos melhores amigos do francês. Noto também que apesar de frequentemente existir o "cagódromo" canino, que nada mais é do que um cercado com um pau no meio em que os donos juntam os côcos para a prefeitura recolher, não deixa de haver imensos cagalhões pelas calçadas. Aí me pergunto: se o fazem na rua, não corremos o risco de pisar em uma jóia destas no próprio shopping? Vejo com a mesma perplexidade de recém-chegado a qual vi em Portugal fumantes a circularem com seu veneno nos centros comerciais (e claro que a deixar as cinzas e tocos por onde desse jeito). Mas ao contrário deste último em que graças à evolução dos direitos dos não-fumantes, esta prática foi proibida, imagino que quanto aos cães deva valer a lei da sabedoria popular: os cagados incomodados que se retirem...

sábado, 23 de novembro de 2013

O cara da maçã



Vimos ontem Steve Jobs e eu fiquei o filme todo (by the way 2 horas) a pensar que a próxima cena é que ele matava o homem. E não. Devo ter lido em um lugar qualquer que tinha sido preso e depois que saiu da cadeia construiu a famosa empresa Apple. Falam tanta besteira em torno deste mac ícone  que eu até pensei que ele fosse bonzinho mesmo depois do que supostamente fez. Ai a minha ingenuidade não tem limites! Era um tosco e desajustado, completamente anti-social, enfim. Quase enganou-me com aquelas frases de facebook senhor Jobs! No entanto a interpretação do Ashton Kutcher está muito convincente, no início nem pensei que fosse ele.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Hahaha tão, mas tão eu!



Jogue a primeira alface quem nunca deu uma "dançadinha" para as calças entrarem. Sinto muito, vocês não são mulheres se nunca o fizeram hehehe!!

ps: a técnica do se ajoelhar (e rezar) é básica e também a de abrir as pernas como se fosse fazer espacate. Agora nunca tentei dois números abaixo...

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Quem disse?

Quem disse que cólicas renais são das piores dores que se pode ter é porque nunca teve cólicas intestinais. Desde a madrugada de quarta que me esvaio em sangue e cocô (ou melhor já é mais sangue do que qualquer coisa), tive febre, vômitos e obriguei o marido a tirar estes dias de férias. Hoje fomos na médica e ela disse-me que tenho todo o intestino inflamado, daí a razão destas dores que tenho vontade de arrancar os cabelos. Parece que foi um vírus que peguei do Fabian, mas ele já está muito bem, teve apenas uns dias com diarreia e agora está como novo. E a mim resta-me esperar que dois dias de remédios desalojem este vírus francês. Ele que vá pedir subsídios e protestar em outra freguesia!

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Os clichês das novelas

Eu adoro novelas, principalmente às das oito que sempre acabavam por ser das nove. Agora lá por gostar de novelas não quer dizer que não admita que há coisa que pelamordedeus como repetem tal qual uma fórmula de bolo, uma após as outras. O que vale é a interpretação dos atores, é isto que muitas vezes basta para separar o joio do limbo (R.I.P. Avenida Brasil!). 

Os gêmeos

"A Ruthinha é boa, a Raquel é má". - Quem não lembra-se desta frase na voz de Tonho da Lua?

Sei que a tentação é grande, mas por favor roteiristas resistam a isto. Já sabemos que há o gêmeo bom e o mau que passa-se muitas vezes pelo primeiro, tenta roubar a namorada/o, emprego, tudo que o irmão conquistou. É sabido que o gêmeo mau morre de inveja do bom e que muito provavelmente foi criado em uma família (in)diferente e em piores condições. Nota de rodapé: geralmente morre no final em um acidente de carro, embora o autor possa querer escapar ao clichê e transformar em um acidente de barco. Uau, que criativo!


O malandro


Nando Cunha como o "Pescoço" de Salve Jorge.

Geralmente o malandro é um sujeito casado, à volta dos 40 anos. A maior parte das cenas está bebendo no bar e os diálogos se passam como o dono do boteco. É um personagem de suporte, a meio da novela quando chega a chamada encheção de linguiça, pode ter uma trama só sua a fim de desviar a ação dos personagens principais. Na maioria das vezes o malandro toma uma lição, uma surra de sapato da sua patroa talvez, mas volta à farra porque malandro que é malandro é incorrigível.

A mocinha

Carolina Dieckman em Laços de Família como a sem sal Camila. Sério se tem mulher que fica bonita até sem um fiapo de cabelo, é ela! Mas a sua personagem era tão chata, mas tão chata que só recebeu admiração do público quando descobriu que tinha leucemia.

Sua voz delicada e jeito politicamente correto em cem por cento das cenas chega a fazer muitas vezes que não torça por ela. Dona de uma beleza ímpar e sonsice idem, é aquele tipo de mulher que acredita no amor, sonha com o mocinho a beijá-la na chuva, acredita que na fidelidade masculina e é uma boba a quem os vilões não tem qualquer trabalho em ludibriar. A mocinha na maior parte das estórias vem de origem humilde, às vezes até é órfã, criada por uma tia também é comum. Sofre a novela toda para no fim reconciliar-se com o seu par romântico que tanto lhe aprontou. 

A piriguete

Como Teodora em Fina Estampa. 

É uma mulher bonita, de parar o trânsito. Gosta de vestir-se com roupas mínimas e da atenção que metade do elenco masculino lhe dispensa. Anda com todos eles e muitas vezes alia-se a grande vilã (ou vilão), seduzindo o amado da mocinha sem nenhum pudor. Apesar de toda má fama, a piriguete tem a sua graça, e faz parte do quadro de humor da novela junto com outros personagens secundários, tais como "as empregadas" das madames.

A empregada

Zezé e Janaína em Avenida Brasil. A última ainda tinha uma empregada em sua casa de subúrbio, uma clara sátira à ascensão da chamada classe C.

Falando nelas...parece que a conversa já chegou na cozinha. Falam da vida dos patrões, são os olhos e ouvidos da casa. Acho incrível mesmo é a naturalidade com que se intrometem quando os mesmos estão falando. Será que existem profissionais assim na vida real? Mas a certo período podem assumir um papel chave no enredo, sendo que guardam invariavelmente segredos cruciais para o desmascarar dos maus da fita.

A fofoqueira

Perpétua virou até meme!

Ou às vezes no plural. Geralmente são retratadas como mulheres sem nenhum atrativo, gordas, sem modos e que passam a vida a falar e inventar sobre os outros. Uma delas pode ser a mulher do malandro e pode ser religiosa também, pois é muito comum a coscuvilhice correr solta nos bancos da igreja (não podiam lá escolher outro lugar para isto?). A fofoqueira no fim dá-se mal porque primeiro é uma vilã soft e depois porque na maior parte das vezes guarda um segredo daqueles que é revelado à frente de todos: um filho que teve e deu para adoção, um caso fora do casamento, etc. 

Depois também há o chefe de família com ar austero (porque sempre o são), não gostam de nada, mal sorriem, e querem que o filho (mocinho) se encarregue da presidência da empresa familiar. Há a perua, mulher deste, a amiga desmiolada da mocinha, as crianças semi-adultas que são muito inteligentes para a idade, enfim... E vocês lembram de mais alguns?

Fabionices

Fabian com cara de choro:
- Pai, um pum molhou minha calça!!

O Fabian dá-se conta da velhice

Indo para a escola de manhã no frio habitual deste país, o Fabian olha para o pai e pergunta:
- Pai tu tá velho?
- Ainda não, mas to ficando...
- E tu vai ficar bem pequenininho?
- Não.
- A mãe tá velha?
- Não.
E ela vai ficar pequenininha?
- Vai...
O marido olhou para ele e perguntou se quando eu ficasse velha ele iria cuidar de mim. O Fabian respondeu de chucha na boca: "hum hum". E o Fernando disse que ficava muito feliz se ele o fizesse. O Fabian torna a dizer "hum hum". De um jeito sério, como quem carrega a maior responsabilidade do mundo.

Alguém me explica?

Porque uma pessoa que tem um blog famoso (sei lá com mais de 100 seguidores?), deleta-o, faz uma nova conta e depois anda nas caixas de correio uma por uma para informar o seu novo endereço. Agora a resposta quando se lê o novo blog é porque já não sentia-se bem naquele e porque tomou dimensões grandes demais e preferia começar tudo outra vez. Ahn? Oh filha então para isto não era só fechar o blog e começar outro anonimamente?? Isto é, sem avisar a todo mundo...



Contato de terceiro grau

Pois é, ontem um francês bateu-me à porta. Como estava de colete de funcionário de obras (?) e uma planilha na mão, imaginei que era primeiro o cara da entrega do pinheiro que compramos pela net, depois o eletricista que ficou de vir aquele dia (e não veio). Quase o convidei a entrar para arrumar as lâmpadas do corredor que se as acendemos, não se apagam nem por promessa. Mas o homem só sabia me dizer bois, bois e fazer gestos com as mãos e a apontar para cima. E eu, ah ok, deve ser da mesma empresa do homem que veio limpar as chaminés. Cheguei mais perto para o escutar melhor, como se a proximidade física nos ajustasse as estações linguísticas, que como é óbvio foi em vão. O homem insistia na bois, e eu sei que bois (boá) é madeira, às tantas achei que queria me vender lenha. Arrisquei um je ne compri pas, em English please. O homem torcia as mãos e chegou a olhar para cima: mon dieu, será que era hoje que o obrigavam a falar inglês? Para a sorte dele o marido chegou bem em tempo, como os super heróis de filme, tal foi a expressão de alívio que o sujeito soltou. Não fosse a minha péssima memória para rostos, já teria entendido que o vizinho do lado esquerdo da casa estava apenas preocupado com o barulho que fazia quando cortava a lenha ali em cima. Ufffa... ainda bem que não foi mais explícito  a fazer com um machado imaginário que eu ainda lhe tomaria por um psicótico qualquer. 

domingo, 17 de novembro de 2013

O mimimi musical

Não é novidade que o marido ri das minhas escolhas musicais e não é para menos, vou de pagode, axé, reggaeton, enfim... ao mais brega. Tenho a impressão que a dor de corno é tema que ocupe uns bons 90% das letras de quase todos os ritmos (excluindo talvez o metal que sinceramente duvido que aquilo não seja somente berros) e o que resta é algo como eu te amo demais, nosso amor é lindo, etc, etc. E sexo. Pois eu bem sei que a maior parte do que gosto não tem muito valor intelectual, não é sensível nem nada, contudo para mim a música serve para deixar-me alegre, matar as saudades ou aumentá-la depende do momento, dançar, cantar relembrando os grandes chororôs dos artistas (alô Zezé de Camargo!) e seus tons exageradamente melancólicos.  
O marido jurou-me que o rock era diferente e eu até não desgosto da coisa. Mas ai meu Deus do céu ninguém fale mal do rock! Pois venha de lá as músicas mais bonitas que eu quero prestar atenção no que falam. Tive que concordar com ele, não são apenas dor de amor, são qualquer coisa como frases desconexas que me dão a leve impressão de que quem compôs naquela hora estava vendo elefantes cor-de-rosa. 
Sinceramente acho que sou pelo povão na maior parte do meu mp3, embora guarde alguns resquícios de Lenine, Renato Russo, Toquinho, Marisa Monte, Titãs. Agora se tem coisa que me irrita é a atitude de algumas pessoas da ala da música-snob-chic que acham que são os guardiães do bom gosto musical e olham com desdém para quem não suporta a voz de Elis Regina. Mais ainda me irrita o mimimi dos novos grupos musicais que estão no anonimato por dedicarem-se a mpb, música clássica, enfim coisas que não são populares. Agora escolham meus filhos: querem ser ricos e famosos? Vão mais é cantar sertanejo ou pagode. Não querem? Então voltem para os pequenos círculos que os apreciam e barzinhos universitários e parem de sofrer por causa do Michel Teló! Boa? É que assim vocês me matam...


Para mim a melhor versão.  


sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Brasileiro já nasce sambando

Não é verdade. Aliás tem gente que nem de samba gosta, mas que está nos genes uma suposta facilidade para mexer os quadris, já acredito. Lembro-me a primeira vez que tentei sambar, devia ter uns cinco ou seis anos e era sofrível de ver. Depois quando estava na escola, a minha amiga mulata, cintura fina e bunda proeminente, disse-me com toda a sinceridade que eu era uma naba. Não se troca os pés assim e se faz com os cotovelos como os bonecos de Olinda. Explicou-me pacientemente o movimento cadenciado, malandro dos pés a ciscar, o bumbum a acompanhar desinibido. Acho que demorei uma semana, mas cheguei lá e depois o corpo acostuma e é só ouvir um batuque que os movimentos saem naturalmente. Por isto ao lembrar de um dia quando sentenciaram que brasileiro já nasce sambando, não pude deixar de rir com a imagem do marido a sacudir-se como uma galinha assustada. Deve ter sido os genes recessivos dos alemães ou espanhóis que por ali triunfaram.


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Fabionices

Tentando ensinar-lhe o (pouco) que sei de francês:
- Sabe como se diz cabeça em francês?
- Cabeça.
- Tête.
- Tête...teto. - apontando para cima.
- E nariz?
- Naliz.
- Não, nez (nê).
- Nê..nê. Nenê mãe?

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Se fosse hoje era musa, ah se era!

Carol Castro: até a tatuagem foi à vida.
Sentados no sofá, o marido vai ditando os nomes das musas em sua juventude. Googlamos juntos e passeamos pelas fotos digitalizadas e que pouco tinham além de maquiagem e a farta cabeleira dos anos 70/80. Seios naturais, pneuzinhos, aquelas dobrinhas de pele que teimam em resvalar fora da roupa: estava tudo lá. Mulheres normais, claro que um tanto quanto abençoadas pela natureza, mas nenhum pouco se assemelham às deusas que a mídia faz crer que coexistem conosco, mulheres mortais. Mulheres que "matam" a academia, a dieta e ainda tem o despudor de ostentarem celulite e estrias (e peso a mais). Mulheres que cansam, que borram o rímel, tem calos ou bolhas nos pés. Mulheres que roem unhas, que acreditam que fazem tudo mal porque não conseguem seguir o regime da moda. 
Rose di Primo na esquerda, com os pneuzinhos dos lados partilhados por quase toda ala feminina.

Quando vi mais uma vez o enunciado: veja os dez segredos das Angels, estupidamente sorri, nem sei se de enjoo ou inveja. Genética, genética, passar fome, genética, genética, maquiagem, genética, photoshop, genética, dinheiro, genética. 
São aquelas a quem chamamos magras de ruim, são capazes de parir e sair desfilando da maternidade! Puff.. No entanto mesmo elas tem um grande suporte editorial, que faz com que sua cintura fiquei ainda mais fina, os seios mais empinados, as pernas tenham o ar saudável que muitas vezes não tem, o rosto fique com pele de bumbum de bebê. E às tantas pergunto-me se a perfeição pixelônica está aí porque nós mulheres somos umas eternas insatisfeitas-que-buscam-qualquer-defeitinho-em-outras-mulheres, ou porque o que é atraente mesmo que irreal vende mais. E não deixo de imaginar que este suposto ideal plastificado tem um quê daqueles fetiche por bonecas sexuais modernas.

Madonna é você? - Fora de brincadeira com o tanto que mexem no rosto ao fazerem uma mulher de mais de 50 aparentar 25 anos, querem o que? Naturalidade? Sim, podem acreditar: é de silicone, todinha! (e esqueleto de metal).

Dos dias

Tenho andado triste nestes últimos tempos. Nada me anima. Bléc, pra que acordar, mais um dia nublado e chuvoso e frio em que nada acontece?! É um nada dividido em sirenes de ambulância que passam agora de três em três horas. Bem que tento, afinal ainda tenho motivos para levantar da cama: buscar o Fabian na escola, fazer comida, limpar a casa (nem por isto...dona Neura cadê você??). E a parte que me irrita é que nem sei bem porque ando assim, então já tenho a minha casinha que tanto adoro, as minhas/nossas coisas e...suspiro...não me falta nada. Ou falta? É nostalgia ou será que estou caminhando para a lenta e dolorosa adaptação?  
Sempre imaginei que fosse uma pessoa que não se agarrava ao passado, mas isto não é verdade. O que acontece é que de fato mudar é um transtorno, esta parte de se reinventar, de (re)começar, de criar laços e voltar a sentirmo-nos em casa leva tempo. Ainda acho que Deus é um tremendo sacana, me colocou em Portugal, agora me fez subir de nível em um país em que é ainda mais difícil de fazer amizades do que o último. Enfim...um passinho de cada vez.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Tu tens é inveja!


À semelhança do que aconteceu em Portugal com o tal escândalo do milionário brasileiro, aqui (ops às vezes acho que ainda estou no Brasil), lá o pessoal anda em polvorosa por causa do "rei do camarote". Achei muito interessante a crônica que saiu no jornal da minha cidade natal sobre este fenômeno de indignação, e concordo que os supostos policiais da moral e bons costumes são no fundo um bando de invejosos. Porque cada um de nós no fundo sente um sabor azedo quando vê casos deste tipo. E ah não me venham com: não, eu não sou invejoso, o fulano gasta o dinheiro como quer e ninguém tem nada a ver com isto. Mentira: sente inveja sim. E o que nos dá faniquito neste tipo de comportamento entre as pessoas mais abastadas é justamente a ostentação pura e triste (e que de certa forma nós também a fazemos). 

"O argumento de muitos para justificar sua crítica – e seu ódio – é de que é moralmente condenável ostentar riqueza em um país como o nosso, no qual ainda há pessoas que morrem por miséria. É difícil enfrentar essa nobre posição, banhada de amor ao próximo e desejo de igualdade. O que as belas almas filantrópicas esquecem é que, ao crucificar Alexander, buscam expiar um pecado que provavelmente cometem diariamente: todos nós ostentamos. Seja passando de carro ao lado do ônibus lotado, saindo do supermercado cheios de sacolas (e não apenas da cesta básica, quem não gosta de um pequeno luxo?), puxando do bolso o iPhone para telefonar na fila do banco. Claro que não consideramos isso ostentação, gostamos de pensar que nossa condição é o normal: sempre há alguém acima de nós para ser aquele que tem demais, e alguém abaixo para invejar aquilo que nos é de direito. Dificilmente somos os privilegiados ou os invejosos. Mas não são só os bens materiais que se ostentam. Podem ser as qualidades – a beleza, a bondade, a superioridade moral. Sem se dar conta disso, muitos críticos de Alexander incorreram no mesmo pecado que condenaram.Aqueles nos quais Alexander despertou apaixonadas ou compadecidas reações ignoram que, em algum recôndito escondido, o invejam. Não porque gostariam de ser o “rei do camarote”, mas porque ele pode se dar ao luxo de não se preocupar com dinheiro, aparentemente pode ter o que quer. Se, enquanto sociedade, somos pautados por um ideal de fraternidade, Alexander é como o irmão mais velho da prole: sempre vamos encontrar uma razão para criticá-lo, porque nos mostra que podemos menos que ele, que mesmo irmãos não somos iguais. Travestimos de superioridade moral a inveja que subjaz à relação com os irmãos que, imaginamos, podem desfrutar de um gozo que nos é vetado (mas secretamente desejado): poder fazer o que bem se quer."
***

"A superação do egoísmo absoluto dos (fantasiados) dias de rei é condição necessária para uma vida entre semelhantes. O desejo de que possamos viver em uma sociedade mais fraterna e igualitária é nobre, há muitos que trabalham arduamente para isso, não fosse assim as desigualdades sociais seriam ainda mais gritantes. No entanto, linchar em praça pública quem parece indiferente a essas questões em nada contribui para amenizá-las. Apenas apazigua a culpa que carregamos por, apesar das boas intenções, também ostentarmos privilégios – e desejar ainda mais, sejam eles materiais ou não. Condenar Alexander é condenar esse pequeno rei que segue nos habitando, e que não combina muito com a imagem de bom samaritano que preferimos trajar ao sair para a praça, real ou virtual, na qual sempre tentamos ostentar nossa melhor imagem."

Reportagem aqui.

domingo, 10 de novembro de 2013

Os monstros


Meu filho agora teima em dizer que há monstros na casa. Tem medo de ir sozinho ao banheiro, quer que acendamos a luz. Na hora de dormir temos de ficar ao lado até cair completamente em sono profundo, pois caso ousarmos sair antes disto, uma pequena mão nos "manda" deitar a cabeça novamente. 
Queria muito lhe dizer uma coisa: os monstros na verdade existem. Embora a gente balance a cabeça e digamos que não. Eles existem e se alimentam de escuro. De mágoa. De raiva. De passado. De medo. E é difícil controlá-los, com o tempo ele irá aprender a disfarçar, mas invariavelmente terá momentos em que se entregará a eles. E talvez o maior medo de um adulto seja ser engolido por um. 
Fiquei por muitos minutos transtornada quando li a história de Junko Furuta, talvez mais uma entre tantas e tantas outras, mas esta  de forma especial fez-me pensar que os monstros andam aí. Quantas vezes imagino cenas no calor da raiva, quantas vezes não deixo-me cega e incapaz de distinguir entre o bem e o mal, apenas uma vontade urgente de destruir tudo a minha volta? E às vezes tenho medo de mim e penso que só me diferencio de certos criminosos pelo fato de que meus delitos tenham acontecido apenas na minha mente. E se tivesse a frieza e capacidade para tal? Ou se não tivesse nada a perder? Ou se não tivesse mais medo de tornar-me um monstro e dar vazão a todos os impulsos medíocres que atravessam meu pensamento? 
Sim, meu filho, os monstros existem: dentro de nós. Nunca se esqueça disto. E nunca deixe de lutar contra eles. 

O tímido Natal

Não sei  se é por estas bandas, mas se não somos daquelas pessoas que andam sempre a olhar tudo (inclusive o teto) não íamos nos dar conta que estamos há menos de dois meses do Natal. Aos poucos, algumas bolas e guirlandas surgem no alto dos grandes mercados, e talvez este seria o único indício se não fosse o corredor dos brinquedos triplicado. Até agora népia de árvore. O Auchan saiu apenas com uma por 9.90 que era cruzes, muito feinha. No E. Leclerc vão pensar mais à sério no fim do mês. Pode ser que seja uma louquinha por Natal, mas eles também me parecem tão pouco empolgados! Nem tocam bate-o-sino-pequenino, nem Simone, nem nada. 
A Alemanha é logo ali, como sabemos, e parece que os "alemón" já estão vendendo decorações lindíssimas. Quase todos os dias temos panfletos de lá na caixa de correio e eu fico babando e sonhando quando o marido vai se dispor a nos levar a  Khel para finalmente deixar o Natal entrar em casa. Porque até agora só consegui comprar as luzinhas...





quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A Nega


Nega traz o café. Nega engoma a camisa do Dr. Faustino. Nega faz cozido com leitão que a minha mãe vem almoçar. A nega era tantas vezes requisitada que às vezes chegava a duvidar que tinha nome. Lembrava-se de ter chegado ali por ser a maneira mais fácil da mãe se livrar da filha mais velha. E tendo mais meia dúzia para alimentar, era o melhor que poderia fazer: teto e comida em troca de trabalho. A mãe só esqueceu de dizer que era teto e comida em troca de sua vida. Com treze anos deixou de ser Teresa para ser a Nega dos Fagundes. Na verdade na altura era a Neguinha, depois com o tempo, foi crescendo e engordando, e o apelido evoluiu conforme os cabelos crespos soltos se encolhiam por baixo de um lenço.
A Nega serviu para tudo, de cozinheira, empregada e babá. Se pudesse até de ama de leite a fariam. Serviu para acalentar o Dr. Faustino tantas e tantas noites, serviu também para anos mais tarde o Carlinhos perder a virgindade. Tivera tempos atrás um filho no bucho. Mas a patroa que não era boba e sabia das aventuras do marido, depressa levou-lhe em uma batuqueira que lhe deu um chá. Até hoje guardava uma dor imaginária no ventre como se aquela situação se repetisse vezes sem conta. Seu filho de sangue e suor lhe escorreu pelas pernas e Teresa ainda acha que foi melhor assim. Que vida teria um mulatinho bastardo naquela casa? Isto se a deixassem ficar lá.

Nega esfregava a camisa do dono da casa com sabão de coco. As mãos pretas torciam, os nós dos dedos se batiam e ela voltava a esconder as mãos na espuma branca. Enxaguava, pendurava e voltava a torcer outra camisa branca. Tinha de deixar os punhos e gola limpos, caso contrário faziam-na lavar novamente. Enquanto isto cantava, suspirava e lembrava do tempo em que ainda era livre, devia ter uns quatro ou cinco anos. Sentava na grama com o vestido sujo de terra e ficava a observar as formigas passarem sobre suas pernas finas. Faziam cócegas. Carregavam folhas enormes sempre em frente, sem perder tempo, sem olhar para os lados. Às vezes segurava uma das folhas só para as ver esperneando como se ainda caminhassem sem se darem conta de que haviam lhes tirado o chão. Depois as deixava ir e elas continuavam como se nada as tivesse interrompido. Devia ser muito chato ter a vida de formiga. Só trabalhar e trabalhar e não ter tempo para viver. Depois de muito chamar, a patroa lhe tinha ido com o robe e cabelos em rolos para a área de serviço. Nega! O que é senhora? – disse em um pulo. To chamando há horas, vem já me apertar o vestido. Seguindo ela pelo corredor ainda lhe pergunta o que estava pensando da vida. A Nega emudece e depois diz com um sorriso áspero que a outra não viu. E eu lá tenho vida pra pensar nela?

Ai a fase anal...



Ohhh até com "sorrisinho" de milho!

Legal mesmo é ter cocozinhos de pelúcia para acalentar os pequenos na hora de se despedirem dos de verdade. Com o Fabian até não foi tão desesperador, contei a tal história (que diziam a mim quando criança) de que o cocô foi para a casinha dele, que a mamãe e o papai o estavam esperando para ......(preencher aqui de acordo como a hora: dormir almoçar, levar na escola, etc). 
Agora legal legal, é alguém ter tido esta ideia. Apesar de ter alguns fofinhos, tem quem compre?

O maravilhoso mundo dos usados

Não fui criada em uma cultura em que as coisas usadas são bem aceitas. Lá os brechós e bugigangas em segunda mão são para os pobres legítimos. E é tão arraigado que alguém só se desfaz de algo se for para colocar no lixo ou doar, mas em péssimas condições. Há lojas que vivem só disto, mas os móveis e roupas que vendem estão em tão mau estado e o preço é tão caro que mais vale por umas notas em  cima e comprar novo, ainda mais com a facilidade em pagar em prestações. 
As coisas de segunda mão me foram apresentadas pela necessidade, estava grávida e o dinheiro estava muito curto e precisávamos mobiliar o quarto do Fabian. Descobri o olx, o custo justo e o quarto dele veio em um conjunto de madeira maciça por um terço do valor que compraria novo. Depois vendemos tudo, fomos para o Brasil e naquela esperança boba, andamos pelos briques a fora (lá chamam-se briques) em busca de algo que se aproveitasse para rechear nosso quase futuro ex-canto que nunca houve. De volta à realidade: valeria mais a pena comprarmos tudo novo. 
Aqui descobri o leboncoin e de lá veio a cozinha, o roupeiro e cômoda, a mesa e cadeiras, carrinho de bebê e a mais nova aquisição é a "fiqueleta" do Fabian. Aliás acho ótimo investir em coisas usadas para crianças porque o tempo de uso é tão curto que encontramos peças praticamente novas. E ao invés de gastarmos em média 100 euros para uma bicicleta nova, gastamos menos da metade. Agora penso duas vezes antes de comprar uma coisa a estrear, vou lá bisbilhotar a ver se acho algo parecido antes de sair me atirando em qualquer loja.


terça-feira, 5 de novembro de 2013

Meu olhar de condescendência para quem (ainda) não tem filhos

Realmente há uma tênue linha que separa quem os tem do resto. Não, minto. Há um universo paralelo, enciclopédias de como educar o filho dos outros, fraldas, choros, peito dolorido, paciência que não estica, um emprego não reconhecido sem direito à férias, enfim...que separa os pais do resto todo que sabe o que faria em cada situação patética  hipotética (mas que com a benção do Senhor, vira as costas e dorme uma noite inteira se-gui-di-nha).
Ora vejam, coitada desta mãe, o que esta criança fez com ela! Hahahah!

Frio...frio...para que te quero


Eu sei, eu sei, sou uma velha resmunguenta. Mas detesto frio. O frio me entristece... Olhamos pela janela e às cinco da tarde é noite completa. Sendo que o dia nem chega a ser dia, se é que me entende. Está sempre nublado ou chovendo. Os "meteó" nem precisam se esforçar: ou chove ou ameaça chover. Ou faz frio. Ou faz muito frio. É completamente diferente do inverno "tropical" do Brasil. Lá em uma semana fazia 2 graus, em outra 24. Uma semana chovia sem parar, com direito a trovoadas e temporal, na outra andávamos de manga curta. Aqui é uma chuvinha chata, fininha, que mói os nervos e não se cansa de cair. O sol passa dias e dias sem aparecer e quando vem, dá uma espiadinha e deve voltar correndo para a parte debaixo do mundo.  Pois eu até prefiro o inverno de Portugal com suas mínimas de 3 graus no alto do inverno, aqui já faz menos que isto e é outono. Lá o sol demora também a aparecer, mas fica de vez em quando como uma visita a quem insistimos muito para não se ir. Aqui eu já tomei uma ampola de vitamina D receitada pela médica. 
Sabe, quando tinha treze anos queria muito conhecer a neve e conheci em Bariloche. Diverti-me, fiz bonecos de neve, andei com aqueles macacões alugados e as botas, mas olha foi uma semana e já está. A neve é sempre a mesma coisa e é tipo aquilo que chamamos de família: tão lindo em um cartão postal, mas uma merda ao vivo. 

O dilema das leggings

Já li muita gente falando mal das ditas. Já vi fotos, já vi coisas nas ruas por aqui também que até nem foram tão traumatizantes. Por acaso era uma jovem magra com uma calcinha fio dental a passar de bicicleta. O primeiro ponto a esclarecer é que ao que parece as européias não entenderam as leggings. E isto se deve ao fato de que as que se vendem por aqui não passam de meias-calça muitas nem de um fio 40: completamente transparentes. No Brasil usam-se desde uma década atrás e lá são fabricadas em suplex, que é o mesmo tecido das roupas de ginástica. Não acho vulgar usar com saias e vestidos curtos, vulgar sim é pegar em uma meia calça e sair de blusão estilo boyfriend em que se enxergam até a costura das supostas "leggings".  Portanto, mais uma vez blogosfera: as leggings não estão no mesmo departamento das saruel, são práticas, deixam a mulher elegante (se nos atermos em cores escuras e camisas mais soltas), só é preciso escolhê-las na sessão de esportes. Ou importar do Brasil.


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A invenção da infância

As pessoas acham que estudar história é decorar datas, saber os feriados, e não entendem a importância desta disciplina. Esta é uma queixa constante dos meus ex-colegas professores. Para mim a história só faz sentido se nos por a pensar e nos levar para viajar em outros tempos, por exemplo hoje o que chamamos de infância, a tal proteção que temos com nossas crianças, não passa de uma invenção moderna. As crianças até a existência das vacinas e antibióticos eram seres extremamente frágeis tanto que muitas delas só recebiam nome a partir de determinada idade, quando tornavam-se menos fadadas à morte, como se isto fosse possível. Há uma expressão muito antiga: não deixar ir a criança com a água da bacia. Isto porque o banho (quando havia diga-se de passagem) era inaugurado por ordem de importância familiar, portanto o chefe de família, depois a esposa, depois os velhos, depois os filhos por idade cronológica e por último, os bebês. Isto mesmo! Imagina a pureza da água, você mãe que ferve e esteriliza tudo e se possível só daria banho com água engarrafada! As crianças antes da Revolução Industrial já trabalhavam e não refiro-me a trabalhar na roça, mas nas pequenas manufaturas mantidas às vezes pelos beneméritos padres e freiras, nos orfanatos, ou mesmo quando adotadas (até porque geralmente o eram com este fim), retribuíam com horas e horas sentados a coser, pregar, etc. Fotos de arquivo, mostram mais tarde, pedais e maquinário adaptado para pés e mãos de apenas...cinco anos! E nem pensem que ser rico era muito melhor.
As crianças na corte francesa, só para citar um exemplo, eram tidas como pequenos-adultos a partir dos dois anos de idade e obrigadas a vestirem-se como tal, naquelas roupas super confortáveis. Tais infantes eram criados, como se sabe, por amas e pouco contato tinham com os pais. Mesmo os brinquedos dos ricos eram poucos e muito caros, não sendo raro passarem de geração a geração. Ademais, prova mesmo de que a infância simplesmente não cabia no pensamento da época, são os casamentos infantis, muitas vezes consumados antes da menarca da menina. Portanto o que hoje a mídia e tanta gente se escandaliza com a gravidez de uma "criança" de treze anos, há poucos séculos atrás isto seria absolutamente normal, lembrando que mulheres com trinta anos estariam hoje para as nossas coroas de 40/50 anos. Dar este panorama para os jovens que ensinam seria muito interessante, fazê-los pensar em como seriam suas vidas se tivessem nascido  nesta época com pouco ou mais de sorte. Muito provavelmente mais da metade não estaria sentada ali vivinha da silva. É só assim que a História se faz necessária, ao nos dar conhecimento de nossa caminhada até aqui enquanto humanidade, sendo este conceito como quase todos, uma mera construção moderna, inclusive a infância, e convenhamos, nossas crianças nunca foram tão felizes  como hoje.