Em cima de nós mora uma elefanta. Uma elefanta de tamanco holandês, ora vejam. Enquanto do lado direito da casa temos um vizinho simpático que ainda pergunta-se do incômodo que é o ouvir partir lenha às quatro da tarde, do outro lado tenho uma elefanta que olha, usa tamancos de holandês. Nunca bati olho no olho com a minha vizinha do lado de lá, só a vejo quando estou fechando ou abrindo as janelas e ela e o marido passam de carro ou indo ou saindo dele. Só a vejo de longe e sei que é gorda. O marido também é, mas é ela que a tem mais consistente. Eles chegaram com o caminhão da mudança no dia seguinte a minha vinda e o proprietário da casa veio com ela até aqui e a apresentou ao marido, dizendo que era do Irã. Agora acho que deve ser por isto mesmo, deve estar acostumada a viver no deserto e Jesus, passa o dia inteiro a andar por cima das nossas cabeças. Não sei como é gorda!! A menos que ande com uma bandeja de bolo nas mãos. Não sou uma pessoa chata (embora o marido discorde), sou razoável com barulhos, tanto que vez por outra escutamos o do lado esquerdo, mas também sou consciente de que sou uma boa vizinha: nunca faço bagunça, nem escuto música alta, nem trepo para todo mundo ouvir, nem deixo meu filho gritar, nem nada. Depois das nove e meia ainda temos mais cuidado porque sabemos que ambos os vizinhos tem filhos bebês e não os queremos incomodar. Agora santa paciência, não acho normal a elefanta andar de madrugada inclusive a pular nas nossas cabeças e a subir e descer as escadas que levam para o terceiro andar onde deve ser o quarto do menino, e nestas pulanças acaba por acordar o meu. Que coitado, dorme bem embaixo da escada onde é a sala deles. Quando o vizinho do lado direito veio falar conosco, o meu marido disse que não nos importamos com o barulho que faz, mas que deusolivre esta outra vizinha!! Ao que ele também respondeu apavorado: parece que ela está na nossa casa! Já eu acho que qualquer hora vai cair na minha cabeça. Se notarem isto muito às moscas já sabem.
Agora sou boazinha e tento ser paciente e consegui por quase três meses, mas este sábado não me contive. Eram sete da manhã de um sábado merdoso de frio e a elefanta a andar para lá e para cá. Pum pum pum. Pum pum pum. O Fabian já tinha passado para a nossa cama e nenhum de nós conseguíamos dormir. Irritei-me. Busquei a vassoura e dei-lhe com força no teto. Uma, duas, três vezes. Os passos vacilaram. Será comigo? Oh! E eu: si'l te plaît!!! Silenceeee!!! Meerrrrrrde!! Dei-lhe mais vezes. Meus gritos era qualquer coisa de louca, roucos e focados na raiva. Os passos amainaram, ficaram mais tímidos por horas e horas. Estranhei o marido não ter me impedido e nem ter falado nada quando finalmente voltei para a cama. Mas pela noite, encostou-se a mim na cozinha e disse que tinha segurado o riso de me ouvir xingando em francês. Começou a me imitar e eu caí na risada literalmente, ri-me tanto, acho que a vizinha pensa que sou de fato uma louca. Só sinto falta de não saber tantos palavrões quanto gostaria. Não é lá a primeira coisa que se faz quando aprendemos uma língua?
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