Ontem fomos até o shopping procurar umas pantufas para o Fabian que eu esqueci de tirar na hora em que mudei o programa para secagem. E é claro que elas encolheram e ficaram enroladas de tal maneira que só a bruxa do mágico de Oz as acharia anatomicamente confortáveis. Pois estava eu entre os casacos femininos da c&a (já que não encontrei necas de pantufas), quando olho para baixo e quase vou pisando em um cachorro muito velhinho. A minha primeira reação foi de que era um daqueles cães treinados para guiar cegos, mas depois vi que a sua dona (uma senhora maquiada por demais) estava bisbilhotando preços tal como eu. Depois já no corredor vi um cachorro enorme que não sei o nome da raça, mas estava dormindo pachorrento sobre os pés de um homem careca. Depois vi um pastor alemão, cão mesmo, não um senhor de veste preta e loiro. E cada vez mais iam aparecendo seres de quatro patas misturados à multidão barulhenta e não pude deixar de pensar que a eles deve ser tão estressante quanto trazer recém nascidos para aqueles lugares.
Já tinha uma ideia do quanto os franceses adoram cães, mas não imaginava o quanto. Ainda outro dia, passando por uma rua aqui perto, deparo-me com a vitrine de um dos milhentos salões da região. Entre a estante dos produtos para cabelo e posteres de beldades com juba lustrosa, eis uma cama para bichano bem ao pé do vidro. E não é a única: lojas imobiliárias, restaurantes, roupa, enfim há quase sempre um lugar reservado aos melhores amigos do francês. Noto também que apesar de frequentemente existir o "cagódromo" canino, que nada mais é do que um cercado com um pau no meio em que os donos juntam os côcos para a prefeitura recolher, não deixa de haver imensos cagalhões pelas calçadas. Aí me pergunto: se o fazem na rua, não corremos o risco de pisar em uma jóia destas no próprio shopping? Vejo com a mesma perplexidade de recém-chegado a qual vi em Portugal fumantes a circularem com seu veneno nos centros comerciais (e claro que a deixar as cinzas e tocos por onde desse jeito). Mas ao contrário deste último em que graças à evolução dos direitos dos não-fumantes, esta prática foi proibida, imagino que quanto aos cães deva valer a lei da sabedoria popular: os cagados incomodados que se retirem...
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