segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A invenção da infância

As pessoas acham que estudar história é decorar datas, saber os feriados, e não entendem a importância desta disciplina. Esta é uma queixa constante dos meus ex-colegas professores. Para mim a história só faz sentido se nos por a pensar e nos levar para viajar em outros tempos, por exemplo hoje o que chamamos de infância, a tal proteção que temos com nossas crianças, não passa de uma invenção moderna. As crianças até a existência das vacinas e antibióticos eram seres extremamente frágeis tanto que muitas delas só recebiam nome a partir de determinada idade, quando tornavam-se menos fadadas à morte, como se isto fosse possível. Há uma expressão muito antiga: não deixar ir a criança com a água da bacia. Isto porque o banho (quando havia diga-se de passagem) era inaugurado por ordem de importância familiar, portanto o chefe de família, depois a esposa, depois os velhos, depois os filhos por idade cronológica e por último, os bebês. Isto mesmo! Imagina a pureza da água, você mãe que ferve e esteriliza tudo e se possível só daria banho com água engarrafada! As crianças antes da Revolução Industrial já trabalhavam e não refiro-me a trabalhar na roça, mas nas pequenas manufaturas mantidas às vezes pelos beneméritos padres e freiras, nos orfanatos, ou mesmo quando adotadas (até porque geralmente o eram com este fim), retribuíam com horas e horas sentados a coser, pregar, etc. Fotos de arquivo, mostram mais tarde, pedais e maquinário adaptado para pés e mãos de apenas...cinco anos! E nem pensem que ser rico era muito melhor.
As crianças na corte francesa, só para citar um exemplo, eram tidas como pequenos-adultos a partir dos dois anos de idade e obrigadas a vestirem-se como tal, naquelas roupas super confortáveis. Tais infantes eram criados, como se sabe, por amas e pouco contato tinham com os pais. Mesmo os brinquedos dos ricos eram poucos e muito caros, não sendo raro passarem de geração a geração. Ademais, prova mesmo de que a infância simplesmente não cabia no pensamento da época, são os casamentos infantis, muitas vezes consumados antes da menarca da menina. Portanto o que hoje a mídia e tanta gente se escandaliza com a gravidez de uma "criança" de treze anos, há poucos séculos atrás isto seria absolutamente normal, lembrando que mulheres com trinta anos estariam hoje para as nossas coroas de 40/50 anos. Dar este panorama para os jovens que ensinam seria muito interessante, fazê-los pensar em como seriam suas vidas se tivessem nascido  nesta época com pouco ou mais de sorte. Muito provavelmente mais da metade não estaria sentada ali vivinha da silva. É só assim que a História se faz necessária, ao nos dar conhecimento de nossa caminhada até aqui enquanto humanidade, sendo este conceito como quase todos, uma mera construção moderna, inclusive a infância, e convenhamos, nossas crianças nunca foram tão felizes  como hoje.

2 comentários:

  1. Muito interessante! Parabéns! Gosto muito de SABER...

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  2. Obrigada Sofia! Não sou grande entendida, mas isto da História Cultural fascina-me!
    beijinhos

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