domingo, 10 de novembro de 2013

Os monstros


Meu filho agora teima em dizer que há monstros na casa. Tem medo de ir sozinho ao banheiro, quer que acendamos a luz. Na hora de dormir temos de ficar ao lado até cair completamente em sono profundo, pois caso ousarmos sair antes disto, uma pequena mão nos "manda" deitar a cabeça novamente. 
Queria muito lhe dizer uma coisa: os monstros na verdade existem. Embora a gente balance a cabeça e digamos que não. Eles existem e se alimentam de escuro. De mágoa. De raiva. De passado. De medo. E é difícil controlá-los, com o tempo ele irá aprender a disfarçar, mas invariavelmente terá momentos em que se entregará a eles. E talvez o maior medo de um adulto seja ser engolido por um. 
Fiquei por muitos minutos transtornada quando li a história de Junko Furuta, talvez mais uma entre tantas e tantas outras, mas esta  de forma especial fez-me pensar que os monstros andam aí. Quantas vezes imagino cenas no calor da raiva, quantas vezes não deixo-me cega e incapaz de distinguir entre o bem e o mal, apenas uma vontade urgente de destruir tudo a minha volta? E às vezes tenho medo de mim e penso que só me diferencio de certos criminosos pelo fato de que meus delitos tenham acontecido apenas na minha mente. E se tivesse a frieza e capacidade para tal? Ou se não tivesse nada a perder? Ou se não tivesse mais medo de tornar-me um monstro e dar vazão a todos os impulsos medíocres que atravessam meu pensamento? 
Sim, meu filho, os monstros existem: dentro de nós. Nunca se esqueça disto. E nunca deixe de lutar contra eles. 

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