segunda-feira, 24 de março de 2014

Era lá naquela peça minúscula que começava na área de serviço e terminava em um banheiro de um vaso espremido ao lado de uma pia pequena. A vó chamava de "quartinho de empregada" embora nenhuma tenha dormido ali enquanto ela viveu lá por duas décadas. O quarto era cheio de tralha, poeira e abrigava com um buraco negro a densidade do papel, da gaiola da cocota da minha tia e a bicicleta azul do meu vô. De todas eu lembro da Lina, lembro do meu olhar de criança se admirar das suas mãos pretas e fortes ao mesmo tempo e de como mesmo a palma da sua mão não era clara. Branco mesmo a Lina só tinha os olhos e o sorriso. Eu adorava ela, quando ela ia na casa da vó o parquet ficava lustroso e cheirava a cera, um cheiro que entranha, que era invasivo e bom ao mesmo tempo. Mas a relação dá vó com a Lina era tipo chiclete, ia e voltava, uma hora era a melhor coisa, outra hora não servia mais. A vó reclamava do pó que a Lina deixava, passava um tempo e lá chamava ela de novo. Depois eu lembro de uma que tinha mania de limpeza, levava a própria maleta com faquinhas para limpar os frisos de madeira da janela, os buraquinhos da persiana branca. Não sei porque não durou com a vó, uma empregada com toc não seria o paraíso para uma patroa? 

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