sexta-feira, 28 de março de 2014

Turisticar

Pode parecer meio esnobe o que vou dizer, mas eu fico perplexa com gente que compra aqueles pacotes de quinze dias pela Europa e já sai dizendo com pompa: conheci a França, achei os franceses assim, assado! O sujeito passa dois dias em Paris e afirma que conhece a "França". Não, fio, você conheceu a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo (de dentro do ônibus de teto aberto porque provavelmente achou perda de tempo enfrentar mais uma fila para aquela vista mixuruca). Você conheceu o Louvre, digo, a Monalisa e consigo imaginar a sua decepção quando viu que era bem pequenininha e passou reto para a Vênus de Milo, olhando com desinteresse as milhares de obras  no corredor. Você transformou uma visita de um dia (ou mais) em duas horas já contando com a fila homérica na entrada. Não, meu querido, você não conheceu a França, ou a Itália porque viu o Coliseu e andou de gôndola ou fez aquela clássica foto empurrando a Torre de Pisa. Você turisticou a França, Portugal, Inglaterra, whatever. Conhecer é uma palavra tão profunda para o que fazem, que acho mesmo que fazer turismo deveria se tornar um verbo. 
Depois que fixamos morada em algum outro país, que acordamos dia após dia com o ranço e ao mesmo tempo a beleza de sermos emigrantes, que sentimos por vezes a "febre da ilha" que é a vontade insana de gritar "Puta que o pariu que que eu to fazendo aqui?! Quero voltar para a minha terra!!", podemos enfim dizer que "conhecemos" a França, os franceses, os americanos, etc. Obviamente que todo conhecimento é flutuante e sofre mudanças consoante o nosso humor e também conforme  amadurecemos. O olhar sobre o outro, a tentativa de se desvendar a si próprio à medida que brincamos de antropólogos, são os ingredientes indispensáveis para uma certa apropriação deste conhecimento. Acho que no fundo, não vou parecer tão esnobe se estas mesmas pessoas tiverem um dia na situação de desconforto que é morar em outro lugar. Porque quando vamos de viagem e vimos coisas, visitamos monumentos, tiramos gigas de fotos e dormimos em uma cama fofa de hotel, estamos sim espairecendo, realizando um sonho talvez, mas voltamos para casa e continuamos quase exatamente como éramos antes de sairmos. Há quem escolha destinos mais exóticos e experimente um pouco deste estranhamento cultural, mas se for para ficar uma semana ou duas, é muito pouco para que realmente mexa conosco. 
 Quando nos dispomos a conhecer, no fundo passamos a saber mais de nós, porque não há conhecimento sem desconstrução, sem comparação, sem paciência e perseverança. Se vamos a lugares e não nos abrimos porque não dá tempo ou não dá jeito, estamos apenas conhecendo coisas inanimadas e fora de contexto e que por não fazerem muito sentido acabam até por desaparecerem da memória. Eu já turistiquei muito e tem tantas fotos que olho e não lembro que já estive ali... Vai ver que é porque nunca ali estive mesmo.

2 comentários:

  1. Eu conheci o seu blog através do polêmico post sobre "Odeio Ser Mãe", e o descobri no dia das mães deste ano mesmo. Gostei de ler o post e todos os comentários que as mães e não mães fizeram e acabei deixando o meu como "anônimo". Mas estou adorando conhecer os outros posts, inclusive sobre as suas vivências fora do Brasil. Também devo ter um certo complexo de vira lata rs. Mas o que me faz "endeusar" tanto assim a Europa, sem dúvidas é ...no que diz respeito às Artes ...talvez eu seja ingênua, mas lá no meu íntimo algo me diz que "quase tudo" no que se refere às Artes é muito mais valorizado aí do que aqui. Talvez eu seja romântica demais rs. Moro no Paraná, em Curitiba e conheci alguns franceses que estavam de passagem por aqui. Uma moça, que se tornou minha amiga, se esforçou o máximo que pode com o seu português e até que a nossa comunicação foi boa. Atualmente ela está morando no Canadá. Mas antes morava em Montreal. Estou amando conhecer as suas experiências. Concordo que estas pessoas que realizam estas viagens de curta duração realmente não conhecem de verdade a cultura local. Se tiver a chance de um dia poder estar por aí, vou querer morar, sempre tive esta convicção, morar, conviver durante um bom tempo, com certeza vai me fazer perceber uma outra realidade que um turista de 15 dias não pode perceber. E sem ansiedade, pois esta com certeza atrapalha tudo rs. Ah...como sugestão...você poderia escrever algo com relação ao banho europeu? Este assunto é muito polêmico, pelo menos para nós aqui no Brasil kkkkk...Já vi alguns poucos posts em outras blogs rs.

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  2. Olá Astral! Seja bem-vinda como sempre! Fico feliz que tenhas gostado, sabe eu tenho esta necessidade de escrever porque no fundo, na vida real sou muito quieta e preciso por pra fora senão tenho a certeza que vou explodir kkkkk!
    Sim, posso fazer um post destes. Mas eu já falei um pouco sobre o assunto, acho que era qualquer coisa como sair de cabelo molhado, porque é extremamente incomum. Porque será?
    beijinhos

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