segunda-feira, 24 de março de 2014

Palavras

Para mim palavras são como as pessoas, umas a gente adora, outras a gente detesta. Odeio ver à baila certas palavras, sei lá, parece que me dão alergias só de ouvir serem pronunciadas. Uma delas por exemplo é chinois, chinês em francês, mas que se diz com um O fechado a escorregar para o A no final, bem escancarado. Diz-se "chinôá" e eu nem sei bem o que me irrita se é a sonoridade da coisa ou se é o movimento bucal, porque lá está, eu tenho tendência a olhar mais para bocas que para olhos. Depois tem outra que nunca me caiu bem no ouvido que é peut-être (pûtétrrê), não tenho certeza se pelo significado (tem lá coisa mais irritante que um talvez dito de um jeito meio blasé?) ou pela ruga no queixo que se forma e depois desvanece ao fim. E claro, depois há as palavras em português tanto do Brasil como de Portugal. Detesto a palavra "raça", parece algo velho e puído como um pano encharcado pousado sobre um tanque de roupa. Não gosto de paralelepípedo porque me lembra daquelas pessoas chatas que querem tudo explicadinho. Não gosto de sujidade, não gosto de embrulho. Não gosto da maioria das palavras francesas que fazem parte da minha memória: abajour, demodê, frisson... E é como aquele desconforto que sentimos diante de algumas pessoas, não sabemos ao certo o porquê, mas incomoda engolir certas palavras.

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