sábado, 15 de março de 2014

Here I go again

Quando me dispus e tive a coragem de expor o meu sentimento em relação à maternidade não foi para convencer as outras que pensam-na e a vivem como um renascimento ritualístico, com realização pessoal, a passar para o meu lado e se tornar a bruxa má da sociedade. Mas foi justamente para mostrar a outras mulheres que pensam como eu que não estão sós. É polêmico, eu sei, mas é como dizem: para arranjar inimigos basta dizer o que se pensa. Perdoem-me se não suporto a hipocrisia da propaganda de margarina. Porque como já disse, há realmente quem ache que ser mãe lhes tornou outra pessoa, quem inclusive se anule pois  que seu filho está sempre em primeiro lugar, isto é uma escolha (o de se anular), embora já não podemos dizer o mesmo do sentimento, e depois há as outras como eu. Não há como forçar algo que não acontece, mas as pessoas simplesmente não percebem, deve haver qualquer erro de interpretação nas minhas palavras. Vamos lá outra vez: quando digo que detesto ser mãe eu não sou uma irresponsável que não dou de comer ao meu filho, não lhe abraço, não lhe dou colo, não leio para ele ou lhe canto as músicas que me pede. Eu não odeio o meu filho, eu odeio a ideia de que o mundo me force a achar que apenas sou uma pessoa melhor se for mãe, que o amor incondicional vem em um pack com a maternidade, que devo colocá-lo acima das minhas necessidades sempre. Quando não ajudo a veicular esta falácia de que ser mãe é o supra sumo da felicidade absoluta estou indo contra uma sociedade preconceituosa e retrógrada que apenas aceita que eu repita o refrão que não é verdade para mim. E eu recuso-me. Nunca, nunquinha vão me ver censurando uma mãe que ache a maternidade uma maravilha, mas pensava eu que no meu espaço virtual eu pudesse ser sincera. Que a confissão destas mulheres anônimas que partilham comigo este pensamento, e deixaram seu depoimento no meu blog, estivessem a salvo de serem xingadas, ofendidas e humilhadas. Mas querem saber? Isto é a cara da sociedade. Isto é a cara de um mundo que pensa desde o século XVII que a mulher além de servir apenas para parir (homens principalmente) deve dedicar sua vida, pensamento e liberdade tão e só para criar filhos (foi quando começou a surgir a ideia do papel materno como sacerdócio e sacrifício, pois que antes esta tarefa era delegada à ama). Não deve se divertir, não deve sair com as amigas, não deve estudar e trabalhar. Este seria um post para ser escrito mais tarde, com maior reflexão, mas agora foda-se, os foristas levantaram uma questão que iria abordar aqui num dia ou noutro. Eu não sei se são a maioria, mas muitas, muitas mulheres que espalham fotos orgulhosas dos filhos nas redes sociais e que dizem o quanto os amam etc etc, são as mesmas que os deixam doze horas em uma creche. São as mesmas que os colocam com três meses para voltarem urgente para o trabalho. Um dia em conversa com uma amiga que fora a antiga professora do Fabian, fiquei sabendo de casos alarmantes. Como o de uma mãe que está de férias em casa e deixou a menina de dois anos às sete da manhã e às dezenove e meia da noite ainda não tinha ido buscar a filha. Segundo a minha amiga, que foi lhe entregar a criança no carro porque estava de biquini e toda molhada, a mãe tinha ido ao clube e esqueceu-se do horário. E este não é um caso isolado. Costumamos dizer que este fenômeno é chamado de "criança terceirizada", pois hoje só quem cuida dos próprios filhos são os pobres. Os ricos, a classe média baixa e alta os entrega nas mãos de terceiros: de babás e creches. Mas estranhamente se olharmos para estas mulheres, a cara está estampada de felicidade e todas se acharam no papel de mãe. Vejam bem, o que proponho sempre é a honestidade consigo mesmo. Estas mães que vem aqui não são monstros que surram e maltratam crianças. São mulheres falíveis, tristes, cansadas... algumas não tem ninguém com quem contar, pois que o pai é ausente mesmo em casa. São mulheres que fazem o seu melhor, que é claro, perdem a paciência como é normal, mas principalmente quando vem aqui, vem para desabafar.  E há uma diferença grande entre um sentimento e uma ação. Serão muito piores apenas porque disseram como se sentem ou deviam elas continuar a sorrir e compartilhar fotos sobre o quanto ser mãe é a melhor coisa que lhes aconteceu?
 Às vezes até conjecturo se não serão estas as que mais se esforçam (talvez empurradas pela culpa) para cuidar e dar uma melhor atenção do que as mamães de facebook e fóruns de puericultura, aquelas mamães perfeitas que a primeira oportunidade, querem ver-se longe dos filhos. Eu hoje consigo enxergar que sou uma mãe mais afetuosa do que muitas que eu convivo e que são da filosofia que o filho é tudo para elas. Só para dar um exemplo: eu nunca deixaria meu filho chorar a noite inteira e não lhe pegar ao colo como uma conhecida o fez para que o mesmo dormisse a noite inteira hoje. E por fim, minha gente, vocês entram nesta casa, leem um post e acham que sabem da minha vida? Nem se lessem todo o blog saberiam, mas pronto, já é um começo. Leiam, tentem empatizar, mas se não conseguirem, sigam o vosso caminho, deixem estas mulheres que já tem um fardo bem mais pesado nas costas do que os vossos insultos.

15 comentários:

  1. Olá, querida!

    Li o seu post de ontem no qual falava sobre um site que fez comentários machistas e grosseiros sobre o seu post e sua pessoa, e sobre os comentários do post. É como eu sempre digo: julgar estando de fora da situação é muito fácil. Agredir com palavras protegendo-se através do anonimato, também. Mas você disse tudo no post acima: para arranjar inimigos, basta dizer o que pensa. Entrei no referido site e fiquei chocada com a falta de noção de alguns por ali. Li coisas tão absurdas que chegam a ser hilárias, tamanho machismo e a falta de noção.

    Mesmo com tantos avanços conquistados pela humanidade, ainda existem mentalidades tão rasas e intolerantes. Nossa, quantos não são os casos de homens que maltratam e abandonam seus filhos, mas isso ninguém comentou ali. É muito mais fácil ofender e agredir as mulheres, como se elas fizessem os filhos sozinhas, e tivessem a obrigação de serem mães perfeitas. Esses dias mesmo vi um caso chocante de um pai que matou o filho de oito anos por achar que ele não tinha "jeito de homem", veja só que absurdo. É para isso que a intolerância, a agressividade e o machismo caminham. Uma pena.

    Abraços.

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  2. estou grávida e demorei muito tempo pensando se queria ou não um filho. pq acho q vc pode realmente sentir o maior amor do mundo, mas sei q tb pode se sentir sufocada, sem privacidade, sendo cobrada por pessoas q só sabem repetir frases feitas. agora na gravidez já é irritante o número de pessoas que têm dicas infalíveis, ordens, que acham q sou inútil até para atravessar a rua (toma cuidado, menina! agora vc cuida de 2!). não sei se vou amar ou odiar a maternidade. mas me sinto aliviada em ler seu texto e ver q tem outras pessoas brigando pelo direito de ser sincero, q não acham q um filho é a coisa mais sagrada do mundo e q todo o resto é secundário.

    obrigada!

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  3. concordo, defendeste-te muito bem, tens mesmo o dom da palavra...beijinhos

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  4. Dei uma olhada lá minha flor, sinto muito por vc estar sendo agredida assim. Mas sabe o que? Esse bando de imbecil que fica na net julgando pessoas que não conhecem sobre assuntos que são totalmente ignorantes não merecem ser levados em conta. Sugiro que vc nem se dê mais o desprazer de ler aquilo lá. Seus textos vem com uma sinceridade rara e nos levam a muita reflexão. Como tudo na vida, nem tudo é para todos e isso tb se aplica á maternidade. Queria ver algum dos idiotas lá se dedicando a cuidar de um bêbe, de uma criança... Aliás, queria não que ninguèm merece ter gente dessa mentalidade como pai. Enfim, continue com seus textos e abrindo esse espaço para que essas mulheres possam desabafar. Sua visitante diária, Natascha

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  5. Muito obrigada a todas! Eu fiquei chateada quando colocaram o que escrevi no facebook porque um monte de gente veio aqui para incomodar e xingar, mas por outro lado outras pessoas educadas e conscientes ficaram sabendo do que muitas mães sentem. Sinto-me melhor sabendo que através deste espaço podemos ir aos poucos trabalhando este tema que ainda é um assunto tabu. Estejam sempre à vontade para comentar mesmo que não concordem.
    beijinhos

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  6. Sinto revolta e sinto também julgamento. Como já tive oportunidade de comentar antes, cada caso é um caso. Assim como julgarem mães como tu precipitadamente é errado, o mesmo erro se comete com outro tipo de mães. O que importa se a outra chegou de biquini toda molhada? É sinal que saiu a correr e não se deu ao trabalho de perder mais tempo a colocar uma roupa e a aparecer apresentável. Nem mentiu ou inventou um acidente grave para que ficassem cheia de pena dela e não a censurassem - isto é apenas um exemplo que me ocorreu no teu texto cheio de «ses» sobre mães. A meu ver tu e as outras - sejam do "grupo" amo ser mãe ou não, estão no mesmo barco. A maternidade. Existem "n" formas de conduzi-lo... (e por isso mesmo existirá sempre muita discórdia).

    Ah, e não fiquei com a impressão de que existiram muitas pessoas severas. Acho que tiveste muitos a entender o que escreveste, pelo menos baseando-me no que li de comentários aqui. Mas podes ter uma impressão diferente, pois dizes que até as pessoas que comentaram prestando depoimento igual foram xingadas, ofendidas e humilhadas - tu lá sabes se deixaste alguns comentários de fora ou não, por exemplo. Mas serão esses comentários de muitas pessoas ou de um punhado delas?

    Uma coisa muito diferente na sociedade brasileira para a portuguesa é essa cena das babás/amas. É o que mais me surpreende. A impressão com que fico é que no Brasil até remediado tem babá e sobre esta recai uma responsabilidade enorme e também ai dela que cometa um erro... A sensação que tenho, mas é uma impressão, é que existe um afastamento/desapego entre mãe e filho porque meteram na cabeça que a babá é que tem de mudar as fraldas, dar de mamadeira, adormecer, vestir, despir, dar banho. Coisa para todos os dias e que os pais, às tantas, escolhem um por mês para participar. Mas pode ser uma cena minha, agora que me passa essa impressão de afastamento emocional, passa.

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  7. Bom, vamos por partes: o caso daquela mãe não é isolado. No caso preciso daquela mãe, a mesma passou todo o mês de férias em casa, e mesmo estando de férias deixou a menina 12 horas em uma creche todos os dias, vindo buscá-la ou fora do horário ou no horário limite de fechamento da escola. Eu não estou julgando, talvez tenhas entendido desta forma, porque o que me incomoda não é isto, mas a falta de honestidade e discrepância entre o que se faz o que se diz. Poderia citar vários casos de gente que conheço e que faz coisas do tipo para não cuidar e se ocupar dos filhos, mas depois fica dizendo que a maternidade é a coisa mais maravilhosa do mundo. É isto que combato quando escrevo. Se a pessoa não gosta de ser mãe para quê assumir para si este slogan? Ou este modo comodista seria o ser mãe para ela e mais outras que não trabalham e deixam os filhos horas em uma creche (estou falando até de bebê de 3 meses!)?
    Agora vamos ao caso brasileiro, eu não vou dizer que é a maioria que faz isto, até porque não vejo tantas diferenças com as mães portuguesas, talvez elas não tenham é dinheiro para ter babás folguistas.
    A classe média e média alta ou rica tem sim este costume muito arraigado de ter empregadas e babás, perpetuado de um imaginário colonialista, a verdade é que até a pouco tempo atrás era relativamente barato ter tanto uma como a outra. As coisas estão mudando, mas eu já tinha falado sobre isto, está ficando cada vez mais caro estes serviços. Então para quem não pode pagar (isto é classe média e baixa) restam as creches em turno integral onde a crinaça muitas vezes vai sem ao menos tomar banho e volta só à noite para os pais. É triste...eu sei que com todas as dificuldades que sinto com relação à maternidade e ao meu filho, é difícil conviver, mas eu vejo é que também não há tanta questão de convivência por parte destas mães. E a minha observação vai de encontro que vem muitas aqui dar pitacos, rogar pragas, ou mesmo xingar (obviamente não deixo passar) e depois fazem precisamente isto. E depois ficam horas na internet com muito tempo livre para julgar os outros. Agora o que falei da humilhação foi muito mais em relação com os dois casos de pessoas que levaram meu post para fóruns de discussão sendo que um deles tremendamente machista. Se ser chamada de puta, vadia não é insulto eu não sei o que será então...eu me senti muito incomodada com estas "invasões bárbaras". Porque prefiro que venham aqui a dizer que não concordam com argumentos e não palavrões, do que me façam isto.
    beijinhos

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  8. Nao ligue pra isso, eles nao entendem nosso lado, acho que ninguem entende, so nos mesmas. Ninguem eh mae ali e nunca serao. Por isso nao leve em consideracao o que eles dizem, sao ignorantes.

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  9. Querida, a sinceridade é um dom para poucos, seja sempre assim sincera com você, com os seus sentimentos, tenho certeza que o seu filho quando adulto compreenderá, ou não, paciência. O mundo está repleto de hipocrisias, de mães que terceirizam a criação (como bem ressaltou), louvando as maravilhas da maternidade e metendo pau em pessoas que dizem a verdade.

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  10. Anônima, tens razão, não vou dar bola, ainda bem que já passou esta "invasão" machista!
    beijinhos

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  11. Zrs, obrigada pelos comentários! Seja bem-vinda ao blog! Sim a sinceridade é um trabalho constante para mim, é uma forma de auto conhecimento mesmo que seja contra o que maioria pensa, acho válido partilhar. Vá que a gente acha alguém que pensa do mesmo jeito e tem vergonha de se expressar como é o caso da maternidade?
    beijinhos

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  12. Olha eu acho que desde que minha menina nasceu há um ano e um mês que eu não lia alguma coisa tão parecida com o que se passa na minha cabeça. Senti um alívio tão grande e um conforto tão maravilhoso de saber que não sou só eu apensar assim que acho até que ja melhorei 5%. Gurias, ser mmãe é uma tarefa tão difícil e desgastante que nem Hércules iria cumprir. É exatamente como muitas colocaram, não odeio minha filha, com certeza tenho muito amor por essa pequena furacão, mas ser mãe ... aí são outros quinhentos. Não podia concodar mais com o comentário sobre as redes sociais, onde parece que a felicidade é eterna e todas são mães magníficas. Gostaria muito de trocar mais idéias com todas vcs. Achei teu blog justamente num momento de desespero e já coloquei nos meus favoritos. Força pra todas nós.

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  13. Ola menina! Seja bem-vinda! Esteja à vontade sempre que quiser comentar, desabafar, enfim...há muitas de nós a passar por isto, só antes ficavam quietinhas. ;)
    beijinhos

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  14. Ola menina! Seja bem-vinda! Esteja à vontade sempre que quiser comentar, desabafar, enfim...há muitas de nós a passar por isto, só antes ficavam quietinhas. ;)
    beijinhos

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  15. Bonitinha, não sei o que te dizer. Eu faço parte de um grupo privilegiado que realmente se encontrou na maternidade, e não digo com isso que abdico de tudo em minha vida para ficar com meu filho (embora de fato ele seja prioridade), mas que ele me dá uma força e coragem que até então desconhecia, e isso por si é maravilhoso...
    Mesmo assim, sei muito bem das agruras da maternidade, e tem dias em que não estou me aguentando, sinto que preciso de descanso, ficar sem dormir é brabo e meu puerpério não foi anda fácil... então, por isso tudo, acho que consigo ter um vislumbre do sentimento de que você falou, e fico muito triste por ele. Porque sei que é mesmo difícil e que a sociedade teima em dificultar ainda mais, exigindo, criticando, julgando e entendendo quase nada de como se desenvolvem as crianças e do que significa educá-las. Assim, acho que, de longe, consigo entender um pouco seu sentimento...
    Coragem, continue com sua sinceridade. Acredito que se você puder encontrar ajuda, tudo ficará melhor... Ajuda profissional (terapia), mas também uma rede de apoio, que te dê forças para continuar e ajude nas tarefas. Ninguém dá conta de tudo sozinha... Espero que tudo melhore. Deixo aqui um grande abraço. De uma mãe para outra.

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