quinta-feira, 6 de março de 2014

O dinheiro não aceita desaforo

Selfie de hoje, querido primo diz: pronto para a balada! hahahah


O marido sentenciou: nem que eu fosse rico criava um filho assim! Isto porque eu havia lhe contado minutos antes sobre a mais nova aquisição do meu primo. Um tênis Nike de 700 reais. Ele tinha em seus pés exatamente o valor que uma pessoa leva um mês para receber. Sabe, eu não tenho inveja, juro que não tenho. Eu tenho é tristeza, é pena, é revolta, tudo misturado em uma bola só. Não é um tênis para um atleta nem que seja amador, não, é um tênis para desfilar no shopping. Não é simplesmente um tênis caríssimo comprado com o suor de seu trabalho ou mesmo por merecimento por ser um bom filho ou estudante (que não é). É um tênis símbolo de ostentação, mais um para a coleção como ele mesmo disse, terminando como termina todas as suas publicações: com um risinho histérico, nervoso. Desde que fez 18 anos, trocou três vezes de carro e sempre fez questão de mostrar com fotos e detalhes as modificações, a aparelhagem soberba de som, as rodas personalizadas. A coleção de garrafas Absolut guardadas no armário, o engradado de cerveja antes de cada festa. Quem vê o estilo de vida pensa que ela vai muito bem, e vai...à base de empréstimo e dívidas. 
O marido trabalhou 18 anos em uma bem sucedida empresa familiar antes de ir para Portugal, e apesar de riquíssimos, os donos da mesma faziam questão de que se algum dos filhos ou sobrinhos quisessem trabalhar nela, tinham de começar por baixo. Assim era ver os futuros diretores a fazer serviços de "boy" como tirar cópias, fazer recados, e todo o tipo de tarefas humildes que cabiam aos empregados.  Tal medida, além de ser uma forma de conhecer o funcionamento da empresa, servia principalmente para ensinar a dar valor ao dinheiro. Mostrar o quanto custa trabalhar um mês inteiro para ganhar um salário muitas vezes baixo dependendo do que se fizesse. 
A impressão que me dá é que os meus tios leram aquelas listinhas de como criar um filho tirano e as aplicaram sem se dar conta de que deviam ter feito o oposto. E esta má interpretação ou falta de sensibilidade para a ironia, transformou o meu agora não tão pequeno primo em um rei déspota, infantilizado e que leva muito a sério a sua torpe de bobos que lhe fazem a alegria da corte. Eu não sei, o marido aposta que vai acabar mesmo é substituindo o pai no sindicato, assim como este substituiu o meu avô. Mas isto só se for quando a mesada esgotar ou o banco cortar os empréstimos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário