Já havia falado sobre isto aqui, aliás, depois de alguns anos de blog vejo que já me repito em alguns assuntos, estou até como aquelas velhotas sempre a rondar o mesmo, enfim. A língua sempre representou muito para mim, gosto de falar português (se alguém disser que é brasileiro apanha viu?), gosto de ler, gosto da musicalidade não importa que sotaque tenha. E por isto mesmo me faz confusão alguém que emigra e não faz questão de que seus filhos aprendam a língua materna. Vamos fazer o possível para que o Fabian não esqueça, embora tenha consciência que para escrever seria preciso frequentar algum curso e isto deixarei que ele decida mais tarde. Mas falar não abro mão. Então e quando for ao Brasil ou a Portugal, vamos ter de traduzir tudo para ele? Nem pensar!
Hoje à noite no mercado, estava explicando para o Fabian que não podia ter tudo. Enquanto o pai pagava as compras, estávamos parados em frente a uma máquina de quinquilharias. Não era caro, moedas de um ou dois euros, a questão é que ele precisa entender quando dizemos que não. Estava agachada e de repente senti uma mão nas costas e uma senhora de cabelo curto e grisalho a me perguntar se eu falava português. Era da Madeira e ficou muito feliz de ter encontrado alguém ali naquele enorme supermercado que também falasse sua língua, pois que nem a filha adolescente sabia.
Uma das coisas em que um emigrante mais sente falta é de ouvir por toda a parte sua língua. Mesmo que saiba comunicar-se no idioma do país que o acolheu, nada dá a sensação maior de não pertencimento e de consequente solidão, que não escutá-la. Às vezes afino o ouvido e fico observando qualquer sotaque que lembre o nosso e as palavras se perdem fugidias quando percebo que fora alarme falso. A saudade de quem sou faz-me escutar mais músicas brasileiras, faz voltar-me para os blogs portugueses, para a net e este mesmo vazio tento preencher com a minha voz. Falo, falo e falo. Canto em um certo grau que poderá ser percebido e captado quiçá por alguém que (me)descodifique. Sinto que por vezes estou muito parecida com aqueles mendigos que falam um idioma estranho, que ninguém consegue perceber qual é. São como ilhas ambulantes, desconexas e cada vez mais distantes no horizonte. Falo e as pessoas olham ora com estranheza, ora curiosas. Sou uma ilha encostada em um continente. Uma ilha exótica e em luta para que o oceano não a engula de uma vez só.