sábado, 14 de setembro de 2013

E para quem já não gostava de felinos

Era um zoológico cheio de corredores e as pessoas andavam por exíguos e úmidos caminhos de concreto, por entre plantas que quase os cobriam. Melhor sensação de que se estava na selva não há, era o slogan. As pessoas iam curiosas a fim de observar os animais trancafiados por uma tela quase invisível. Sabiam que soltavam os leões duas vezes por dia, mas avisavam. Avisavam? Dizem que sim. As pessoas que fossem pegas desprevenidas tinham esconderijos como jogarem-se no lago dos hipopótamos com canudos de taquara para respirarem enquanto as bestas passavam. Riscos controlados, portanto. Porém os visitantes se esquecem que na hora do desespero, quando veem sete, oito felinos gigantes a correr como os touros de Pamplona não há muito o que fazer. Estavam em um grupo de dez pessoas talvez, não sabia bem. Mas este grupo logo começou a diminuir. E ela sentiu que se não liderasse nenhum sobreviveria. Começou pelo lago, era o que se lembrava dos avisos na entrada. Depois, ao por finalmente a cabeça para fora, descobriu uma janela que dava para corredores de pedra subterrâneos. Colocou os pés e em dois golpes quebrou o vidro. Os leões rondavam, mas demorariam um pouco para chegar até ali. Talvez houvesse uma saída, puxou os outros para dentro. Caminhou sentindo o cheiro de mofo e urina pelos corredores fracamente iluminados. Em um deles trancou a respiração: uma leoa albina estava acorrentada em uma especie de cubículo e apesar de sentir o cheiro deles, não atacou, permaneceu em pé e em aitude amistosa. O silêncio se desfazia através da respiração do animal e agora dos passos e rugidos  do grupo que os perseguia. Correu pelo labirinto até perceber que aquele tinha ligação com o fundo da jaula dos leões e que estes invariavelmente passariam por ali. Olhou desolada para o que restou das pessoas assustadas atrás de si. Retrocederam. Estavam em um jogo de sombras e de gato e rato. Até que finalmente avistou uma janela no alto de um dos muros. Ia passar por ali quando viu os funcionários do zoológico rirem dos visitantes que a esta hora deviam estar desesperados a correrem em becos sem saída. Era isto ou os leões. Mais valia brigar com alguém que era do nosso tamanho. Passaram. Eu acordei. 

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