domingo, 25 de agosto de 2013

Ser emigrante

Quem já viveu em outro país sabe bem do que vou falar: aquela sensação de vazio, de incompletude, de não pertencimento que invade os emigrantes. Durante algum tempo lutamos para delimitar nossas fronteiras culturais e psicológicas...mas não há muro impenetrável perante os tropeços da rotina. E aos poucos vão nascendo rachaduras e dúvidas e um vazio. Aquilo passa a preencher os espaços que antes era ocupado pela resistência de continuar a ser quem éramos. Que data comemorar o dia dos pais? Se comemorava o de Portugal, não podia de maneira nenhuma esquecer-me de ligar no dia dos pais no Brasil, para não ferir suscetibilidades. Ser emigrante é ficar pelo meio fio, é não saber se portar no dia do pão por Deus em Portugal ou no carnaval se no Brasil. É não ter emoção por nenhuma das datas em especial, porque sempre há a impressão que falta lá qualquer coisa e mesmo assim não saber o que é. Não somos nem nunca faremos parte uniforme daquela sociedade, e no entanto ao visitar ou às vezes ao retornar, vemos que já também somos estrangeiros em nossa própria terra. Não há meio termo, não há como voltar atrás ou como apagar os anos que nos formaram em determinada cultura, com determinado jeito de pensar e agir.
Somos apátridas, ovelhas desgarradas sem rebanho. E isto assusta, dá-nos por um lado insegurança e por outro a liberdade e maior facilidade para viver em qualquer lugar deste planeta. Ao menos é o que sinto, que agora tanto faz França norte, centro ou sul, ou Luxemburgo ou Inglatera (não, Inglaterra não que vou morrer de tédio com tanto frio e chuva!). Não temos amigos, estamos longe da família (graças a Deus), de qualquer forma vamos ter de nos adaptar ao lugar que escolhermos. Não escondo que tenho muito medo de dar este largo passo, sempre fui avessa à mudanças. Porém aqui estou eu de malas quase prontas, equilibrando-me no meio fio. Meu medo funde-se com a despreocupação de que daqui uns tempos podemos tentar a sorte mais para sul, quem sabe? Isto até é um contra-senso, mas ser emigrante é isto mesmo. Saber que a felicidade pode estar em qualquer lugar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário