Um dia ao falar do desejo que tinha de engravidar, um conhecido disse-me: não te isoles, sério, não faças isto. Na hora fiquei estupefata com o comentário porque não percebia a relevância deste conselho. Não me isole do que? E é como aquelas coisas na vida em que só passando pela situação para entendermos, afinal ser mãe a tempo (quase) inteiro é muito complicado. E arrisco-me a dizer, que é muito mais fácil a mãe que sai para estudar ou trabalhar do que a que fica em casa com seu(s) rebento(s). Isto porque a mãe que sai, respira novos ares, obriga-se a se recompor de noites mal dormidas, coloca uma base e um gloss e uma roupa no mínimo apresentável e ah, muito importante: penteia até o cabelo! A mãe que fica em casa, na minha opinião (que não quer dizer nada de verdades absolutas, não passa do meu ponto de vista), merece uma menção honrosa ou medalhas ou como acontece em Portugal, seu nome no quadro de honra. Geralmente a mãe que fica em casa, passa o dia tentando arranjar maneiras de não enlouquecer, tal como um náufrago com o olhar perdido no horizonte salgado, com a diferença em que neste caso não há tempo para olhar para o mar (ou relógio). As horas ora curtas ora vagarosas quando se aproximam da chegada do pai, a limpeza da casa, o preparo da comida, o cuidado da roupa fariam-se com o pé nas costas se não fossem os filhos. Os berros, as birras, as fraldas, quando não são fraldas são xixis, mãeee limpa, mãe fome, mãe colo, mãe sede, mãe desenho, mãe dodói...
A mãe cansa, às vezes grita por dentro senão grita por fora e cansa-se mais. Às vezes o dia passa e ela dá-se conta de que não fez metade das coisas e que ainda por cima mal cuidou de si. Olha para as fotos das amigas sem filhos ou com filhos crescidos muito joviais em jantaradas e pensa na última vez que saiu com uma delas que fosse para tomar um inocente café.
As mulheres modernas reclamam da vida agitada, de como é difícil conciliar trabalho, cuidados da casa e maternidade e dou-lhes razão. No entanto acho que não se compara emocionalmente falando com as mães que ficam em casa com filhos pequenos. Porque como disse, o problema está em isolar-se, em deixar-se naufragar em um oceano de fraldas e choros e músicas histéricas de desenhos animados. O problema está em conviver pouco ou quase nada com gente adulta. Está em esquecer-se no desespero das urgências do cotidiano. O problema está em achar que está tudo bem e que ser mãe anula automaticamente todos os papéis anteriores. O problema está em quando finalmente consegue dar uma escapadinha, ficar se martirizando pela má mãe que está sendo por necessitar de momentos longe das crianças.
Agora entendo a importância de não se isolar. Entendo infelizmente tarde demais, depois de ter passado inclusive por uma depressão. Ser mãe não mudou em 180º a minha vida, não me fez alcançar o nirvana, nem andar sobre brasas. Tenho só um e pretendo continuar assim, porém não deixo de amirar ou às vezes achar loucura vá lá, quem tem mais que um filho e ainda por cima seja mãe a tempo integral. Sério, merecem um Oscar!