quarta-feira, 31 de julho de 2013

Na hora do almoço

Nunca vi nenhuma música retratar com tanta nitidez e poesia o retrato das famílias até então na década de 70. Quando vemos o choque das gerações, a falta de diálogo entre parentes, a situação ritualística que era sentar em torno de uma mesa como se aquilo assegurasse a união e talvez o amor que não se tinha. Cada vez que a escuto, transporto-me para uma cena que ainda bem, não vivi, mas não sei porque toca-me fundo. A música tem o seu quê de terapia e por isto algumas vezes utilizamos dela no consultório do meu antigo psicólogo. Para mim é a imagem crua do quanto somos estranhos uns para os outros, no quanto vivemos em um mundo próprio e sem pontes com os vizinhos, mesmo que estes vizinhos sejam a nossa família. 


"No centro da sala diante da mesa, no fundo do prato comida e tristeza. A gente se olha, se toca e se cala e se desentende no instante em que fala. Medo, medo, medo, medo, medo, medo. Cada um guarda mais o seu segredo, a sua mão fechada, a sua boca aberta, o seu peito deserto, a sua mão parada,  lacrada, selada  e molhada de medo.
Pai na cabeceira. É hora do almoço. Minha mãe me chama, é hora do almoço. Minha irmã mais nova, negra cabeleira. Minha vó reclama: é hora do almoço! E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza, deixemos de coisas, cuidemos da vida. Senão chega morte ou coisa parecida e nos arrasta moço sem ter visto a vida. Ou coisa parecida ou coisa parecida..."


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