terça-feira, 2 de julho de 2013

Gaúcho: o povo mais europeu do Brasil

É um fato, se percorrermos este país de cabo a rabo vamos encontrar muitas diferenças, mas nenhuma supera o abismo que há entre o Brasil e o "país de baixo". Não, não quero ser bairrista, mas a verdade é que o clima frio deixa as pessoas mais sisudas, formais. Estava falando com a mãe de uma colega do Fabian, quando percebi a sua pronúncia acentuada. Perguntei: é do nordeste? E ela disse que sim, era da Bahia. Pusemo-nos a falar da sua adaptação nestes oito anos que mora nas terras gaudérias (gaudérias com U, aqui isto não quer dizer puta, estamos entendidos?). O sorriso que agora trazia denunciava o desespero que foram os primeiros tempos. Quer dizer, para quem nunca passou por isto é realmente imperceptível, mas eu sei do que ela falava. A leveza com que o baiano leva a vida, o seu modo informal e carinhoso de tratar as pessoas, eu mesma vi quando passei o carnaval lá, já lá vão alguns anos. Ela descreveu-se a entrar em um consultório a sorrir e penguntar se poderia falar com o médico (é representante de remédio), falou-me da frieza das secretárias, da secura das nossas gentes. E não me ofendo. Apesar das pessoas serem educadas, nunca chamarão de minha linda, de meu nego em um local de trabalho. E isto não quer dizer que estamos certos e eles errados, é apenas uma questão cultural. Falei para ela do quanto foi difícil minha adaptação em Portugal, do quanto chorei por me sentir extremamente só naqueles dias. Da secura das pessoas que me agredia quase me fazendo crer que era eu o problema de seu mau humor. Imagino o abismo que sentiria ela no meu lugar. Sorrimos cúmplices, entre mortos e feridos salvaram-se todos. Quando digo que nos acostumamos com tudo nesta vida, é verdade, passamos a respeitar e entender o diferente. O caminho que leva a isto varia, mas geralmente faz-se longo e só. 
Somos o que mais próximo há de europeu no Brasil. Acolhemos alemães, portugueses, italianos, japoneses, ucranianos, espanhóis, etc. E talvez neste caldeirão todo há ainda uma certa geada que demora a derreter. Nosso sorriso não é tão fácil, nossas amizades não são tão rápidas, nossa casa não está tão rapidamente aberta como está talvez a de um baiano que sequer a fecha. Mas uma coisa é certa: quando nos conquistam,   tem amigos para a vida toda. 

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