quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A História e eu: uma história de opostos

Não tenho mesmo nada a ver com os meus ex colegas de curso. A princípio até sinto-me mais deslocada ainda do que quando estávamos na faculdade. Eu era aquela que não era patricinha, mas também não era "bicho-grilo" da paz, yeah. Também não gostava de história política e econômica, identificava-me com história cultural e história oral, história de "causos", de gente de carne e osso, de tripas e lágrimas. A mim não fazia diferença quando o professor vinha com um discurso cheio de datas e mapas, de Estados e governos, de revoltas e guerras.  Acho que nestas horas sonhava com algum romance que com sorte escreveria (se a imaginação não fosse tolhida com o historicamente correto e o professor com dedo em riste para não fazer mal juízo da história). 
Hoje vejo alguns dos meus ex colegas de faculdade pelo facebook e chego a conclusão de que o tempo transformou-nos em três tipos de historiadores: aquele tipicamente chato, esquizofrênico que analisa cada piada, cada filme com rigor histórico. E por consequência não gosta de nada, porque nunca hollywood fará alguma coisa que preste. Este tipo gosta mesmo é de Woody Allen e de Marx, acha muito importante ter um poster do Che Guevara no quarto ou na sala, se já tiver alugado um apartamento no centro de Porto Alegre, naqueles prédios caindo aos pedaços. Estes caras fazem questão de mostrar ou melhor esfregar seu senso crítico em cada postagem daquelas mensagens de sabedoria facebookiana, porque eles tem de mostrar que não brincam em serviço, que estão ali muito sisudos a analisar o conceito contemporâneo do neocapitalismo digital. 
O outro tipo é o do professor de escola de ensino básico. Tem uma vida assim, de sacerdócio, não porque sim, mas porque o salário assim os limita. Vivem rodeados de comentários de alunos e são paraninfos no final de ano letivo. Adoram partilhar mensagens de Paulo Freire porque ainda estão no início da profissão e ainda acreditam que é possível fazer a sua parte no que diz respeito a educar. Estes caras só fazem lua de mel em um raio de 100 km (o que se tratando de Brasil é pouco), casam-se e vivem modestamente, mas sempre a reclamar do governo para aumentar o piso salarial. Estes caras acreditam ainda que se compartilharem um milhão de vezes isto acontecerá. São os revolucionários do giz, ou de sofá (em 24 prestações). 
E o outro tipo é assim...eu. Aqueles que fizeram a faculdade assim para inglês ver. Tem um diploma, mas trabalham de atendente de call center, ou concursado em um banco, ou com o pai em um negócio de família, ou de dançarina em Budapeste (é verdade!). No meu caso, tem a ver com casar e ser mãe e ter finalmente me encontrado no curso que queria e ter de abandoná-lo por motivos maiores. Enfim, acho que me desiludi porque a primeira coisa que escutei quando entrei na sala de aula, ainda excitada por ter passado em um concorrido vestibular foi: vocês não encontrarão as respostas aqui. Aqui nós só ajudamos a fazer as perguntas. WTF? Já não basta a vida ser assim? Descobri por mim alguns semestres mais tarde, que a história é produto da interpretação de quem a faz, e aquele que escreve sobre a segunda guerra no Brasil durante a ditadura vai imprimir seus juízos de valor (mesmo que inconscientemente) e a história será diferente não só porque é vista em momentos e lugares diferentes, mas também pelas singularidades de cada um que se debruçar sobre ela. Assim a guerra, trará "guerras" diferentes. Às vezes para mim, a história me pareceu uma grande fofoca de quem se deu ao trabalho de escrever e teve a sorte de que o tempo não destruísse seus apontamentos. Comecei a desconfiar das fontes. E assim azedou meu romance com a história, romance prematuro que tive de manter as aparências por 4 anos até pedir a separação de corpos. Ela saiu de mim, deixei tudo para ela, mas dizem que todas as histórias de amor deixam marcas e comigo não seria diferente. Só espero também lhe ter deixado algumas.

2 comentários:

  1. Ah Jeanyne temos muito em comum...orgulho de ter sido tua professora. bjos
    Andréa

    ResponderExcluir
  2. Oi Andréa! Lembro-me muito das tus aulas! Acho que eu e a Ju éramos as únicas a prestar atenção :)
    beijinhos

    ResponderExcluir