terça-feira, 14 de maio de 2013

Faz um ano

Bem na verdade mais precisamente um ano e dois dias que a nossa jornada começou. Há um ano o marido parou de trabalhar, veio a notícia vinte dias antes de que havia perdido o emprego. Gana de vingança à parte, sempre acreditei que as coisas pelas quais passamos pertencem a nós e mais ninguém: nós somos os responsáveis pelo nosso des(a)tino. Neste período quebrei, tomei muitas decisões que hoje sabendo tudo o que sei não teria tomado. Neste período minha vida parou, como se estivesse mera espetadora, a vi passar, me vi a pegar o avião de volta ao Brasil, justamente na mesma situação que sempre temi. Voltar com quase uma mão na frente e outra atrás com as malas e o Fabian. E apesar de muito difícil engolir o orgulho e passar de acampamento nas casas das sogras em um vem e vai ao sabor das tempestades, aprendi algumas coisas que se tivesse paciência talvez desse um livro. Já agora, infelizmente existe um livro chamado "Um ano na merda", teria que pensar em outro título. 
Neste tempo aprendi que por mais sólida que a nossa situação pareça, ela pode mudar a qualquer momento. Não adianta casa, carro, faculdade, sem dinheiro tudo cai por terra. E nunca poderemos imaginar o quanto nosso mundo é frágil a não ser que se passe por uma situação brusca deste gênero.
Aprendi que os amigos que ficam são poucos e os que podemos contar são menos ainda. Aprendi principalmente que no fim nem com estes, que a vida deixa-nos só, à beira da loucura. A vida nos testa até o limite e teve horas que cheguei quase a dar uma bofetada em alguém e ao mesmo tempo senti-me solidária com os psicopatas americanos. No fim sabemos que só podemos contar conosco e com quem sempre esteve ao nosso lado, e se não fosse o marido acho que tinha ido ao fundo do poço.
Aprendi a calar (mais ainda), a não interferir na vida dos outros pois sei o quanto é difícil estar sempre a ouvir que devemos isto ou aquilo. Incrivelmente sempre sabem o que fazer no nosso lugar e é sempre tudo tão fácil, não é mesmo?
Aprendi a valorizar um teto, mesmo que alugado. Aprendi a dar valor as pequenas coisas como  liberdade de assistirmos o canal que queremos, de cozinhar o que nos der vontade, etc. 
Neste tempo pude conviver mais com o marido, muito mais do que em todos os anos que estivemos juntos e pelo menos isto foi bom. Porém quase sempre estávamos em um estado de alerta e de ansiedade intensa, passávamos horas sem falar sobre isto, sabendo que o outro também estava pensando o mesmo. 
Aprendi que há certas coisas que não estão em nossas mãos. Sim, somos nós que fazemos o destino, mas não depende de nós a hora em que é chegada a colheita de nossas ações. Aprendi que dias podem passar mais devagar que meses, e que ao mesmo tempo os meses podem correr como segundos.
Aprendi a sonhar e a cair. Mais a cair que a sonhar. Aprendi que não devo esmorecer, que apenas devo aprender a cair com jeito para doer menos, por as mãos ao chão para proteger a cabeça, sacudir a poeira e começar tudo outra vez.
Aprendi a fazer silêncio. Ninguém merece saber das minhas derrotas diárias, nem tão pouco das minhas vitórias. Aprendi que guardar segredo é fundamental se queremos ter paz e privacidade. Até porque tantas e tantas vezes estivemos quase e escorregamos pelo caminho... 
E finalmente, aprendi a decidir com o coração. Por mais que me digam que no Brasil tenho uma vida pela frente, sei que para isto seria preciso separar-me do Fernando e se um dia esta me pareceu a melhor solução, quando escutei apenas a mim, vi que esta nunca seria a escolha que me faria feliz. Amo o meu marido mais do que tudo que possa enfrentar, mais do que todos os problemas que já passamos e é com ele que quero dividir a minha vida. E em meio a isto tudo, aprendi que a vida é mudança: um ciclo se fecha e outro irá abrir. É só uma questão de tempo.

5 comentários:

  1. A vida dá muitas voltas e reviravoltas.
    Boa sorte em todas elas.
    Bjs

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  2. fé nos sonhos. Continua corajosa!bj grande

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  3. Lindo o teu texto!! Sim, é so um ciclo, vem ai outro...alias a vida é feita de pequenos ciclos.

    Bjs
    Marina

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  4. Que emoção! E a última frase diz tudo, a vida é uma roda que não pára de girar. O importante é ter sempre o nosso coração protegido pelo amor dos que nos são queridos.

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  5. Obrigada meninas! É muito estranho (ou não) este ser um canto de partilhas quando na vida real me preservo tanto. Obrigadavpor estarem aí.
    Beijinhos

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