quarta-feira, 8 de maio de 2013

Tenho saudades


Tenho saudades daqueles passeios que dávamos aos finais de semana, mesmo quando não tínhamos carro íamos quase sempre que tivesse tempo bom. Andávamos pelas ruas tortas e quase desertas de Lisboa, pelo Chiado, pelas casas de portas pequeninas e ceroulas balançando ao vento. Andávamos de mãos dadas, um puxando o outro, o outro puxando o um. As vezes tropeçando pelas pedras e lembro em muitas ter me valido teu braço forte quando ao invés de folgadas as pedras se tornavam zombeteiras e escorregadias. Olhamos as vitrinis, perturbamos as pombas, corremos atrás de estátuas e certa vez ficamos (não, fiquei) fã de uma torrada que se fazia em uma tasca. E lá como somos pessoas de hábitos íamos sempre sentar à mesma mesa e pedir a mesma coisa com um suco de laranja. Ficávamos a observar cães passarem, assim como as conversas alheias e ríamos a olhar um para a cara de espanto do outro. Sim, lembra daquela senhora e do neto a elogiarem os óculos de um tal de António, ou seja lá como se chamava o pobre iludido do homem? Ó mas com estes óculos é que se vê mesmo bem! Dizia o rapaz que sequer precisaria de um. E toca o seu António a pagar a companhia o consumo das duas criaturas que fingiam pior do que uma criança de dois anos. 
Depois continuávamos à pé a descida até o Cais do Sodré, passávamos pela loja de animais, o que sempre rendia uns "óinnn que fofo", viu aquele? E aquele? Sim, eu também lembro que algumas vezes insistias para atravessarmos a rua antes, ao que só me sentia menos triste por não ter de suportar o fedor de peixe ao lado da loja. Chegávamos e seguíamos a viagem de meia hora até o Estoril. Eu sentava à janela para ver o mar e as pessoas caminhando no paredão. Tu apertavas a minha mão e a beijava com os nossos dedos entrelaçados e assim víamos o pôr do sol, com pena de ter de voltar a nossa casa. Sim, quando ainda tínhamos casa. Éramos muito felizes e sabíamos.

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