terça-feira, 21 de maio de 2013

Olhar o mundo pelo umbigo



Tenho reparado muitas vezes por mim que quanto mais se implica (ou torna-se obcessivo) com uma coisa, mais ela aparece diante de nossos olhos. Na minha opinião a realidade não muda, o que muda é a forma como olhamos para ela. Lembro de olhar nos fóruns de infertilidade e ler continuamente a mesma reclamação de que parece que o mundo está grávido. Eu mesma tinha vezes que chegava a contar cinco grávidas e achava que só eu não conseguia. A julgar pelas notícias, a população está envelhecendo (pasmem mas a do Brasil também), ora algo está errado, se as pesquisas apontam para o lado totalmente oposto porque na minha perceção a realidade tem outra cara?
Um dos fatores que me indispus com a minha cunhada foi o fato de constantemente andar a falar mal dos brasileiros. Olhem bem que admito que não somos um povo particularmente preocupado com a cidadania e admito que há por aí muitos mais que prezam a boa educação. Mas só ver coisas negativas o tempo todo? Porque nunca fala das nossas universidades, dos nossos profissionais, dos nossos escritores, dos nossos músicos? Enfim, só para variar. Até parece que os americanos são um povo assim tudo de bom, que não tem uma alienação geográfica crônica, que são os tipos mais saudáveis, os que acham naturalíssimo uma criança de seis anos portar armas e que se dá na telha brincam de tiro ao alvo nos cinemas e escolas. Ah e para não dizer dos processos mais descabidos que existem, só agora lembro daqueles gordos a culparem o Mc Donalds pela sua obesidade. Dã!
Sabe porque? É que brasileiro trabalhador, honesto, que é educado e não joga lixo no chão não vende notícia. E claro que aí é um pouco de culpa da mídia fazer-nos acreditar que a maioria é assim. O que chama atenção: alguém que vive sem perturbar a ordem ou alguém que fez um escândalo em um avião e foi expulso por mau comportamento? Agora também é da inteligência da pessoa acreditar que todos são uns mau educados e estúpidos, inclusive ela.
A maneira como vemos as coisas vai ditar a realidade que enxergamos, é uma constante, um ciclo. Vejo os brasileiros desta forma, logo valorizo tudo o que confirma as minhas crenças, logo estou correta sobre meu julgamento sobre os brasileiros. E isto é só um exemplo dos muitos que existem sobre extremismos, estereótipos e bitoladas visões de mundo. As pessoas tem a tendência a acreditarem que determinado fato que observam faz parte de uma realidade imutável, concreta. O problema das pessoas, e nisto me incluo, é achar que existe uma realidade concreta. E até existe. Água, céu, mar. Mas a realidade subjetiva abarca tudo e depende dos valores e da experiência de vida de cada um. Esta é aberta a interpretações, daí o meu lema de não haver certo ou errado e sim sentimentos. Para a minha cunhada os brasileiros são realmente as criaturas mais egoístas e hipócritas da face da terra. Para uma infértil não importa o que as pesquisas digam, o mundo está realmente grávido. Para um extremista político a ditadura foi mesmo boa, etc, etc. É compreensível, é humano ver as coisas como se fossem prontas em caixotes. Mas de vez em quando faz bem tirar os olhos do umbigo e perceber  a vida com outros olhos...quando saímos de nossa zona de conforto, crescemos.

2 comentários:

  1. É assim em todo o lado. Nós portugueses somos uns deixa andar, que faz tudo à última hora e atamancado. Somos preguiçosos e só sabemos andar com a barriga encostada às tascas a emborcar copos de vinho. A sério, esta foi das declarações mais amigáveis que já ouvi.
    E porque é que a galinha da vizinha é melhor que a minha?

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  2. E quem disse isto era português? Juro que não sei como alguém pode falar tão mal de sua origem. Tudo bem termos os olhos abertos ao defeitos, mas tudo tem um lado bom e outro ruim!
    Beijinhos

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