quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Amor e traição são duas faces da mesma moeda (parte 3)


Este é um tema deveras delicado, minha intenção não é ferir suscetibilidades, nem aliás, como todo o blog ou opinião é uma verdade absoluta e fechada, mas apenas a minha própria versão da verdade universal. Quantas vezes já vi ou li que quem ama não trai? Que se soubesse que estavam sendo traídas acabavam com o casamento? Que quem trai uma, trai muitas mais? Bem, vamos por partes. Em primeiro lugar vamos começar pelo meio? 
Quando leio ou escuto a expressão muito senhora de sua fidelidade e da infidelidade dos outros (exceto a do seu esposo), que diz que "ah não, nunca perdoaria uma traição", "era mulher para o por para fora sem dó", depois eu penso muito bem e não se tratando de meninas ainda com a ilusão de filmes Disney, mas de mulheres maduras e adultas, pois... a verdade minha filha é que muito provavelmente já tenhas sido traída, só que não deste por isto. E realmente nem queres saber porque a obrigaria a por em prática o que dizes a todos os cantos. Vamos até fazer um esforço e imaginar que a senhora em causa cumpriu com o prometido, e agora?  Investirá ela em outra relação sabendo que muito mais da metade dos homens para quem se entregar tem a possibilidade de a trair em algum momento de seu casamento? Peggy Vaughan, em O Mito da Monogamia fala que mais ou menos 60% dos homens e 40% das mulheres cometerão tal deslize ao longo da relação. 
Por outro lado, a traição não quer dizer que o casamento vá mal. Não é o casamento, não é o outro cônjuge. Mas também pode ser. Nem sempre quem trai uma vez o fará novamente, as pessoas falham aí como em qualquer outra faceta da vida. Às vezes junta-se um grave problema financeiro, uma crise amorosa, um afundar-se em baixa auto-estima, com um colega/amigo/ex-namorado(a)/desconhecido(a) atencioso/a: a oportunidade está feita. E traição não é apenas o coito propriamente dito: traição pode ser uma conversa mais atrevida, um toque, um beijo, pode ser presencial, assim como virtual. Vai daí que a porcentagem de pecadores aumente ainda mais. Afinal quem tem a pedra na mão se ainda lhe falta muito o que viver e nada sabe se isto não acontecerá na sua casa senão neste momento, mas no futuro ou mesmo se já ocorreu no passado? 
Por fim, precisamos definir o tipo de traição: é recorrente ou esporádica? Creio que as pessoas que traíram por um momento de ápice de solidão, raiva, carência, etc, muito provavelmente não tornem a fazê-lo já que esta foi motivada por uma situação pontual. Arrependem-se e inclusive envergonham-se de tal ato. No entanto, quando a traição é frequente, imagino que trate-se de um problema muito mais profundo. Um homem cuja mulher ganhe mais, por exemplo, que tem o seu papel como homem viril e provedor ameaçado, sente uma necessidade de traí-la compulsivamente de modo a compensar em outro âmbito, a imagem que tem de si. Claro que isto falamos de um aspecto psicológico e inconsciente muitas vezes, pois se lhe perguntarmos o porquê, talvez sua resposta fosse "pela aventura ou porque gosta de  (novidade no) sexo". 
O homem é mais propenso à traição por uma questão cultural e biológica. Cultural porque a eles quase tudo é permitido, porque desde crianças são educados ao "prende as tuas cabras que o meu bode está solto", que devem ser os garanhões, a tal fila de meninas na porta, etc. Quem é que diz que uma ideologia machista e vincada em diversas culturas por séculos, vai desaparecer assim como mágica quando se põe uma aliança no dedo? E biológica porque como animais que somos, os hormônios masculinos agem para espalhar sua herança genética com grande eficácia pelo maior número possível de fêmeas. Enquanto que o pensamento feminino é o de encontrar algum espécime que possa parecer (ao menos) o cara que vai ajudá-la a alimentar a criançada. A mulher quando trai compulsivamente, não é aquela que busca um romance fora de casa, como seria àquela que o fez uma vez ou outra na vida. Mas como o homem, busca qualquer coisa, preencher um vazio, uma identidade como sedutora, busca provar para ela mesma e para as vozes de sua infância talvez, que diziam que nunca conseguiria algo ou alguém.  A traição compulsiva, além de ser como qualquer vício, oculta uma fuga à questões dolorosas que o praticante não quer enxergar e este comportamento dificilmente se modificará sem tratamento/terapia.
Este campo da psicologia ou da sexologia fascina-me, e se um dia eu pudesse concluir meu curso, era com certeza uma das áreas para a qual me dedicaria porque é imensamente rica. Quando se enfrentam e resolve-se por fim falar dos problemas, principalmente os mais primários cujo sexo é um deles, há um mundo a ser descortinado. Quantos nós mal desatados guardamos, quanto sofrimento, emoções que querem vir ao rubro e sufocamos das mais variadas formas...com cigarro, bebida, comida ou sexo? Somos pessoas falíveis, imperfeitas, cuja capacidade de amar é também deformada. Portanto, parece-me possível que amor e traição sejam duas faces da mesma moeda.

Um comentário:

  1. Olha eu..mais uma vez concordando contigo?
    Adorei seu texto..bem verdade!
    Muitas mulheres bem o sabem que já foram ou são traídas..mas...vivem sob o nevoeiro de sombras que jamais esperam que soprem algum vento de verdade que o dissipem...

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