Stephane olhava para a tapeçaria pendurada no outro lado do quarto. Uma mulher nua em tamanho real rodeada de anjos, os seios com róseas auréolas lembrou-lhe Elisa. Mas esta ultimamente os tinha escuros enquanto amamentava o pequeno. Tinha saudades daquela potrinha selvagem, como a chamava em pensamento e, a imagem dela a pairar sobre seus pés delicados, seus cabelos longos em tranças cheirando a gardênias, invadiu-lhe como uma onda de melancolia sem fim. Fechou os olhos de forma a que a imagem desaparecesse, afinal não estava acostumado à tristeza, mas a escuridão apenas pareceu engoli-lo com suas mãos de fêmea ardilosa. Stephane voltou a abrir os olhos, o quarto na semi-penumbra lhe garantia que faltava pouco para o dia amanhecer. Suspirou devagar e levantou-se sem grande alarde, vestiu a camisa de dormir, passou os dedos nos cabelos desgranhados e deixou os aposentos da rainha.
Vianca levantou-se bem disposta, aliás era difícil o dia em que não estava feliz aquando a ausência do rei. Sentou-se à mesa e começou a enfardar biscoitos de mel com um copo de cevada. Virou-se complacentemente para Aurélie, sua filha mais velha e ofereceu-lhe um dos doces de seu próprio prato. A menina pegou e colocou-o todo na boca, sem conseguir mastigar. Vianca desta vez fingiu que não tinha visto aqueles modos de "camponesa", tinha passado uma ótima noite e não era isto que iria lhe incomodar.
- Onde está Monsieur Stephane? - Falou da foma mais fria e distante que conseguiu.
- Está na cocheira com o seu cavalariço, minha Senhora. - Respondeu humildemente a criada.
- Manda-lhe encontrar-me no grande salão...após o almoço.
Stephane entrou trazendo um pouco de barro nos pés. Tinha ainda os pingos da chuva nos cabelos e o manto sobre a armadura. Fez uma vênia e beijou-lhe a mão. Vianca se encontrava sentada no cadeirão de madeira escura em frente à grande lareira a bordar. Sorriu com seus olhos verdes a acompanhar seu rosto redondo e os cabelos ruivos presos no alto da cabeça. Toda ela sorria nestes últimos meses em que Stephane fazia-lhe companhia noturna, em que aquelas mãos ávidas exploravam seu corpo roliço e um tanto esquecido da arte do sexo. Stephane fora o primeiro homem que tinha lhe dado prazer, tinha paciência para fazê-la extasiar-se com o orgasmo e quando este vinha, a fazia gemer como uma porca.
- A Senhora precisa de alguma coisa?
- Senta-te, preciso contar-te.
O homem moreno e alto sentou-se em outra cadeira menor que era destinada às aias de companhia da rainha. Sentia-se quase a representar uma peça, como se soubesse o que era isto...
- Estou de esperanças, Stephane.
- Como assim? - Franziu o cenho surpreso com a ingenuidade ou burrice da mulher, que por certo tinha muitas formas de evitar tamanho desastre.
- Tu sabes como. Sou uma mulher que já não vai para nova, meu querido. Já passei dos trinta e só consegui dar ao Senhor Philippe três filhas e nenhum herdeiro. - Continuou fingindo não ver a cara de desgosto do amante. Passava a agulha para lá e para cá, desenhando a figura de uma cruz. - Faz muito tempo que ele não visita a minha cama e não acredito que tencionava fazer nos próximos anos... Eu não esperava realmente que isto voltasse a acontecer tão rápido. Não me cuidei e não me apeteceu tomar os chás.
- Não vos apeteceu?
- Eu vou ter este filho Stephane. - Os olhos verdes trovejaram de teimosia.
- A Senhora não sabe o que está fazendo...
- O rei voltará em uma semana, por acaso desconhece que depois da guerra nascem muitos "prematuros"?
- É disto que tenho medo.
- Pode ir agora. - Ela sorria triunfante.
Stephane saiu chutando o que encontrou pela frente, pedras, baldes, e quase o franzino cavalariço que lhe forneceu as rédeas do seu cavalo. Montou-o, deu-lhe com raiva na barriga e o animal saiu em disparada tomando o rumo dos celeiros reais.
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