quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Multiculturalidade

Hoje comi biscoitos turcos, um (pedaço de) bolo georgiano, um (pedaço de) bolo  russo e por sua vez todos que provaram o negrinho foram conquistados pelo "bonbon".  Alguns colegas não vão voltar depois das férias, uns porque voltam para o seu país, outros porque vão fazer um curso profissionalizante, outros porque vão ter bebê. Pudera, que este é um curso que tem a duração de um ano letivo, e com duas aulas pela manhã durante a semana, complica para quem arrume trabalho. No entanto, estas aulas tem sido de uma oportunidade única, jamais havia convivido com tanta gente de tantos lugares diferentes. No Brasil, lá no sul, não é comum ver tantos estrangeiros e em Portugal, tirando uma vez que outra que algum gringo me perguntou direções, não tive qualquer outro contato. Hoje finalmente perguntei para uma moça síria o porque do véu e se havia pintado o cabelo já que cusca como sou, tinha lhe antevisto as sobrancelhas ruivas que antes eram escuras. Depois de alguma conversa e mímica, mostrou-me as fotos no celular do antes e depois e confidenciou-me que o marido gosta muito de loiras e do quanto ela adora vestir-se com roupas curtas em casa. Aquilo que por certo me causaria azia tempos atrás, só me fez rir porque pensei comigo no quanto o Fernando adoraria este costume, ao invés de ter de rivalizar com os olhares dos outros homens na rua. 
Não sei se amadureci, mas hoje acho que a convivência é a única forma de derrubar preconceitos. Quisera eu que todas as pessoas pudessem ter uma amostra do que é viver em outro país, do quanto é importante todas as fases pelas quais passa um emigrante. E como é delicado todo este processo de reconstrução e de luto. Mas é esta morte emocional que nos possibilita sair do senso comum,  nos fazendo refletir sobre a nossa própria brasilidade. A primeira fase tal como na psicologia as cinco fases da perda, é a negação: é um momento de luto interior, há uma certa resistência na mudança; segundo vem a raiva por ver que não conseguimos nos adaptar e desistir de nossa identidade tão facilmente. É a fase da comparação, geralmente sobrepomos a nossa visão de mundo como sendo a certa e queremos em vão que todo o resto mude para que nos sintamos confortáveis. A terceira fase traz-nos a tentativa de aceitação, no entanto alguns preconceitos e barreiras que formamos estão longe de serem derrubadas. A quarta é uma espécie de melancolia, dá uma vontade de baixar os braços, a realidade é robusta demais para que se consiga mudar. Há um vazio que precisa ser preenchido, uma busca por identidade e talvez nacionalidade. E por último temos a aceitação...é quando o quebra-cabeças encontra solução, não como se a vida viesse pronta e a nós apenas nos basta ir à procura de peças finitas. Mas é quando o todo passa a fazer sentido, embora este todo não tenha nada além de soluções temporárias, pois que quando superamos um nível de dificuldade, as peças embaralham-se outra vez e outra vez e outra vez. A única diferença é que já conhecemos alguns atalhos  e não ficamos dando de cabeça pelas ruas estreitas da vida.

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