quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Porque eu leio blogs

Por isto:

Eu já falei uma vez e repito: para mim, a maior invenção da humanidade é o HD externo.

Eu tinha um computador a corda, lento, que mal ligava de tão velho e sobrecarregado, e que quando ligava passava dez minutos tentando pegar no tranco até apagar do nada (justo quando você estava prestes a clicar emenviar). Eu quase morria de ódio dele, mas não tinha coragem de chutar e quebrar na parede porque ele tinha sido o meu primeiro computador, todas as primeiras colunas que eu escrevi na vida, uns textos do meu antigo blog, fotos de quando eu não tinha máquina digital e colecionava as fotografias que meus amigos faziam das festas estavam em algum lugar daquela memória sórdida que fazia questão de apagar, puf, quando eu ia acessar o que queria... 

Um dia, num exercício de muita paciência, entre mil boots indesejados, eu consegui salvar tudo o que existia ali num HD externo. E desde então, quando preciso de alguma coisa de um passado distante, eu abro o HD externo e sou automaticamente teletransportada para cinco, seis anos atrás.

Essa semana foi meu CV em português que me fez esbarrar numa pasta chamada incoming, que logo identifiquei se tratar da gaveta onde dormiam meus primeiros MP3 que baixei com aquele programa do fantasminha. Lá dentro, as músicas que estavam no telefone que eu tinha quando vim morar em Paris.

Uma coletânea do Pearl Jam que tem tudo o que uma pessoa precisa na vida. Um CD do Nat King Cole que rodava em espiral nas minhas primeiras idas e vindas de metrô. Mas, principalmente, e é aí que eu quero chegar, o CD Segundo, da Maria Rita. Todas aquelas músicas são a trilha sonora da minha chegada a Paris. A saudade das rodas de samba, o apelo me leva que eu quero ver meu pai, o vim só dar despedida. Eu ouvia aquilo no frio que eu achava inabitável e sentia um buraco no meu peito. Um buraco que falava de um pedaço meu que tinha ficado do outro lado do oceano.

Demorei anos (literalmente) pra ver que o pedaço que faltava nunca esteve longe. Que as pessoas permanecem mesmo longe dos olhos. Que o amor que a gente recebe nunca sai da gente. Aprendi tanto sobre distância, sobre independência, sobre amor, sobre presença. E virei quem eu sempre fui, mas não sabia.

Esse ano fui num show da Maria Rita aqui em Paris (coincidências da vida) e cantei essas músicas todas, num prenúncio desse reencontro. A última canção do concerto (incrível, num circo, com um monte de amigo querido) foi Encontros e Despedidas. E ouvir aquele bando de expat, a famosa "comunidade brasileira" de que a gente de classe média finge não fazer parte para não acabar confundido com as empregadas domésticas e os pedreiros que superam no braço o choque cultural de que a gente só sente as cócegas, aquelas pessoas todas cantando juntas a música que virou brega porque era música de novela, fazendo o mesmo apelo pelas notícias do mundo de lá, me colocou uma bola de lã na garganta que permanece até hoje quando eu penso.


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