Pela fresta exígua da janela pôde precisar que o dia já ia alto. Há quanto tempo não acordava tarde? Talvez apenas nos dias festivos, em que a vila enchia-se de estrangeiros e música regada à cerveja e dependendo da importância e das condições dos convidados, a vinho. Ao seu lado jazia Stephane completamente afundado em ronco e saliva. Livrou-se de um de seus braços fortes e com cuidado foi levantando da cama. Quando já ia a meio caminho, uma de suas mãos graves segurou o que restava de sua camisa de dormir.
- Onde vais? - Perguntou-lhe a voz recém vinda do sono.
- Já está na hora de levantar, preciso fazer algo para comermos...
- Não, hoje ficamos por aqui. Já dei ordens para isto. Talvez esteja ali na porta alguma coisa para pormos no estômago.
Elisa revirou os olhos, mas encaminhou-se até a mesma e trouxe o prato de cerâmica com algumas frutas rodeadas por pão e banha. Em uma mesinha de apoio havia uma jarra de água e uma taça. Serviu-se demoradamente sendo apreciada por olhos que lhe comiam os gestos. Uma nesga de sol entrou pela fresta denunciando alguns buracos de cupim na janela de madeira. O quarto iluminou-se de imediato. Stephane levantou-se já com o pênis ereto e lhe abraçou por trás. Elisa em uma tentativa de adiar o inevitável pôs-se a procurar vestígios de sangue nos lençóis. Agora entretinha-se a passar as mãos e retirar as cobertas, Stephane divertia-se com a cena enquanto mordiscava um pedaço de pão.
- O que procuras?
- Não há sangue? Não há sangue! Como pode se eu sou...era virgem?
- Mitos... acalma-te minha pequena. - Disse beijando sua testa. - não é assim com todas. Eu senti quando rompeu, fica descansada...sei que mais virgem que tu não havia.
A jovem pareceu convencida e ele finalmente a carregou de novo para a cama. Desta vez demorou-se em carícias e beijos para só então penetrá-la com mais cuidado que na noite anterior. Stephane não sabia ao certo o porquê de ter aceito a proposta de Elisa, afinal era forte o bastante para carregá-la até alguma cocheira que fosse e fodê-la entre montes de feno. Mas não estava acostumado a isto. As mulheres sempre vieram de muito boa vontade dividir-lhe o leito, apenas aquela potrinha chucra fugia de seus braços como o diabo da cruz. E isto deu-lhe um objetivo na vida sempre que não estava peleando ou em competições pela honra da coroa. Tinha de a ter a qualquer custo, tinha de domar-lhe as carnes, de fazê-la fêmea como todas as outras. Mesmo que isto o fizesse assentar como um homem de família, até porque com vinte e oito anos já passava da hora de pensar em um herdeiro. Desta vez fizera de forma tão convicta que quase ouviu um suspiro de gratidão escapar por entre os dentes de Elisa.
Os dias passaram e com eles a falta do período anunciou-se logo no segundo mês de casada. Sentia vertigens cada vez que se fazia dia e já acostumava a manter-se sempre perto de algum balde ou jarro. Quando confirmou as suspeitas e contou que ele ia ser pai, Stephane já sabia-o há muito tempo. Decerto tinha os seus bastardos por aí, criados muitas vezes como filhos legítimos sem qualquer suspeita.
Sempre que via uma mulher grávida geralmente rodeada de cuidados se fosse rica, imaginava no quão tolo podia ser viver de aias e criadas até para limpar-lhes a bunda. Pois com ela jamais seria assim: fez questão de fazer tudo o que fazia antes, na casa do senhor Castel. Tirava o leite da vaca, sovava o pão e o assava, fiava, lavava o chão, mesmo quando advertida por Marie morta de medo por permitir tal disparate.
Rapidamente Elisa viu que a gravidez era um bom motivo para afastar o marido, que por sua vez caía ainda mais nos braços de outras mulheres. Chegava tarde, cheirando a cevada e essência perfumada, e quando raras tentativas de lhe ter ressurgiam, ela colocava a mão na barriga e fingia dor.
Quando notava que o marido saía, puxava de um dos livros que padre Jacques lhe confiava e desta forma encontrava refúgio a sua vida de vaso precioso. Desta vez distraiu-se de tal forma que não percebeu os passos do marido a chegar no quarto, desapontado por inadvertidamente ter esquecido o anel que o rei lhe ofereceu e que só tirava do dedo para dormir. Ao ver a mulher absorta com um livro na mão, Stephane engrossou a voz:
- O que pensas que estás fazendo? - Antes que tentasse esconder, ele arrancou-o das mãos e tentou soletrar muito vagaroso - D-a...Dan...te. Tu sabes ler? Quem te ensinou a ler?
Elisa tremia em um nervoso louco de lhe jogar toda a raiva acumulada pelo ostracismo feminino.
- Não precisa dizer nada. Já sei quem foi! - Dirigiu-se para a porta.
- Ele, ao contrário de ti, é um homem de verdade! Tem mais colhões que tu e muitos por aí.
Stephane levantou a mão pesada pronta para desferir-lhe um tapa, mas estacou-a no ar ao lembrar do filho que ela carregava.
- Não me obrigues a tomar providências disto. - E saiu com passos pesados batendo a porta atrás de si, deixando pousado no canto da mesa o anel pelo qual voltara.
Era um fim de tarde como todos os de um inverno punitivo em França, céu nublado já virando noite e barro misturado com neve. Com uma barriga de seis meses atrapalhava-se na roca, tinha de manter as pernas mais abertas que o necessário. Olhava para a rua e xingou em pensamento a criada por ter esquecido de trazer mais lenha para o fogo que findava. Olhou para a pequena chama que agonizava e tornou a virar para o monte de tocos já cortados por Valentin, o rapaz coxo e filho de Marie. Estava sozinha sabe-se lá até que horas, quando o marido resolver que já cantou, trepou e bebeu o suficiente para voltar à casa. A criada já havia se recolhido juntamente com o filho e voltaria antes do dia amanhecer. Stephane não gostava de outras pessoas além deles em casa. Elisa ergueu-se de encontro à capa e fazendo força para proteger a barriga do frio, desceu os degraus em direção à neve. Seus pés afundaram e rapidamente sentiu-se invadida pelo gelo, caminhou até a pilha e depositou um a um dos tocos no cesto de vime que havia trazido. Quando não restava mais nenhum no solo, fez força e depositou-o no meio do braço direito, fazendo o caminho de volta com algum esforço. Chegou em frente à lareira da sala, ajoelhando-se com cuidado e começou a jogar a lenha fria e soprar devagarinho. Quase perdiam-na com a umidade e teriam de deixá-la secar dois ou três dias para utilizá-la. Sentia uma pressão na barriga, estava dura, mas já havia sentido isto antes. Elisa agora satisfeita pelo calor voltar ao seu corpo, olhou para baixo e soltou um grito, seguido de uma pontada lancinante. Pela luz amarelada notou que tinha a saia do vestido coberto de sangue e atrás dela, um rastro encarnado a acompanhou desde os primeiros passos na neve. Quis arrastar-se até a cama, mas não tinha forças. Gritou o mais que conseguiu por Marie, mas sabia que seu apelo nunca seria ouvido. Até que por fim, depois de desesperar-se em choro, desfaleceu exausta sendo guardada apenas pelo fogo, que dançava em uma tentativa de a consolar.
Stephane a encontrou enrolada sobre seu próprio ventre, em posição fetal, e o susto de perder a mulher e o filho que esperava, o fez desvencilhar-se do estado embriagado para correr à Marie e depois atrás de alguma parteira. Deixou a esposa deitada, enfiada em um monte de travesseiros e sob os cuidados da criada. Elisa respirava com dificuldade, tinha a boca seca e a fronte molhada de suor. Ao abrir as pálpebras suavemente como a espantar a dor, viu uma mulher gorda com os seios muito grandes quase a sair da roupa. Ela estava a poucos centímetros de seu rosto, tão perto que podia antever-lhe o buço e sentir o hálito. Apalpava a barriga e pôs-lhe a mão dentro da vagina, arrancando-lhe um gemido.
- Então? Está tudo bem com ela?- Perguntava Stephane com medo na voz.
- Sim, ao menos por enquanto.
- E o bebê?
- Não mexe.
- Como assim não mexe?
A mulher olhou-o e sua boca fina em silêncio, preferiu não pronunciar a resposta.
- Vamos ver, se em dois dias tiver febre, teremos de expulsar. - Disse isto enquanto lavava as mãos na bacia com água morna que Marie tinha trazido. Tornou a colocar o xale e saiu deixando Stephane no quarto cheirando a sangue e morte.
Os dias passaram e com eles a falta do período anunciou-se logo no segundo mês de casada. Sentia vertigens cada vez que se fazia dia e já acostumava a manter-se sempre perto de algum balde ou jarro. Quando confirmou as suspeitas e contou que ele ia ser pai, Stephane já sabia-o há muito tempo. Decerto tinha os seus bastardos por aí, criados muitas vezes como filhos legítimos sem qualquer suspeita.
Sempre que via uma mulher grávida geralmente rodeada de cuidados se fosse rica, imaginava no quão tolo podia ser viver de aias e criadas até para limpar-lhes a bunda. Pois com ela jamais seria assim: fez questão de fazer tudo o que fazia antes, na casa do senhor Castel. Tirava o leite da vaca, sovava o pão e o assava, fiava, lavava o chão, mesmo quando advertida por Marie morta de medo por permitir tal disparate.
Rapidamente Elisa viu que a gravidez era um bom motivo para afastar o marido, que por sua vez caía ainda mais nos braços de outras mulheres. Chegava tarde, cheirando a cevada e essência perfumada, e quando raras tentativas de lhe ter ressurgiam, ela colocava a mão na barriga e fingia dor.
Quando notava que o marido saía, puxava de um dos livros que padre Jacques lhe confiava e desta forma encontrava refúgio a sua vida de vaso precioso. Desta vez distraiu-se de tal forma que não percebeu os passos do marido a chegar no quarto, desapontado por inadvertidamente ter esquecido o anel que o rei lhe ofereceu e que só tirava do dedo para dormir. Ao ver a mulher absorta com um livro na mão, Stephane engrossou a voz:
- O que pensas que estás fazendo? - Antes que tentasse esconder, ele arrancou-o das mãos e tentou soletrar muito vagaroso - D-a...Dan...te. Tu sabes ler? Quem te ensinou a ler?
Elisa tremia em um nervoso louco de lhe jogar toda a raiva acumulada pelo ostracismo feminino.
- Não precisa dizer nada. Já sei quem foi! - Dirigiu-se para a porta.
- Ele, ao contrário de ti, é um homem de verdade! Tem mais colhões que tu e muitos por aí.
Stephane levantou a mão pesada pronta para desferir-lhe um tapa, mas estacou-a no ar ao lembrar do filho que ela carregava.
- Não me obrigues a tomar providências disto. - E saiu com passos pesados batendo a porta atrás de si, deixando pousado no canto da mesa o anel pelo qual voltara.
Era um fim de tarde como todos os de um inverno punitivo em França, céu nublado já virando noite e barro misturado com neve. Com uma barriga de seis meses atrapalhava-se na roca, tinha de manter as pernas mais abertas que o necessário. Olhava para a rua e xingou em pensamento a criada por ter esquecido de trazer mais lenha para o fogo que findava. Olhou para a pequena chama que agonizava e tornou a virar para o monte de tocos já cortados por Valentin, o rapaz coxo e filho de Marie. Estava sozinha sabe-se lá até que horas, quando o marido resolver que já cantou, trepou e bebeu o suficiente para voltar à casa. A criada já havia se recolhido juntamente com o filho e voltaria antes do dia amanhecer. Stephane não gostava de outras pessoas além deles em casa. Elisa ergueu-se de encontro à capa e fazendo força para proteger a barriga do frio, desceu os degraus em direção à neve. Seus pés afundaram e rapidamente sentiu-se invadida pelo gelo, caminhou até a pilha e depositou um a um dos tocos no cesto de vime que havia trazido. Quando não restava mais nenhum no solo, fez força e depositou-o no meio do braço direito, fazendo o caminho de volta com algum esforço. Chegou em frente à lareira da sala, ajoelhando-se com cuidado e começou a jogar a lenha fria e soprar devagarinho. Quase perdiam-na com a umidade e teriam de deixá-la secar dois ou três dias para utilizá-la. Sentia uma pressão na barriga, estava dura, mas já havia sentido isto antes. Elisa agora satisfeita pelo calor voltar ao seu corpo, olhou para baixo e soltou um grito, seguido de uma pontada lancinante. Pela luz amarelada notou que tinha a saia do vestido coberto de sangue e atrás dela, um rastro encarnado a acompanhou desde os primeiros passos na neve. Quis arrastar-se até a cama, mas não tinha forças. Gritou o mais que conseguiu por Marie, mas sabia que seu apelo nunca seria ouvido. Até que por fim, depois de desesperar-se em choro, desfaleceu exausta sendo guardada apenas pelo fogo, que dançava em uma tentativa de a consolar.
Stephane a encontrou enrolada sobre seu próprio ventre, em posição fetal, e o susto de perder a mulher e o filho que esperava, o fez desvencilhar-se do estado embriagado para correr à Marie e depois atrás de alguma parteira. Deixou a esposa deitada, enfiada em um monte de travesseiros e sob os cuidados da criada. Elisa respirava com dificuldade, tinha a boca seca e a fronte molhada de suor. Ao abrir as pálpebras suavemente como a espantar a dor, viu uma mulher gorda com os seios muito grandes quase a sair da roupa. Ela estava a poucos centímetros de seu rosto, tão perto que podia antever-lhe o buço e sentir o hálito. Apalpava a barriga e pôs-lhe a mão dentro da vagina, arrancando-lhe um gemido.
- Então? Está tudo bem com ela?- Perguntava Stephane com medo na voz.
- Sim, ao menos por enquanto.
- E o bebê?
- Não mexe.
- Como assim não mexe?
A mulher olhou-o e sua boca fina em silêncio, preferiu não pronunciar a resposta.
- Vamos ver, se em dois dias tiver febre, teremos de expulsar. - Disse isto enquanto lavava as mãos na bacia com água morna que Marie tinha trazido. Tornou a colocar o xale e saiu deixando Stephane no quarto cheirando a sangue e morte.
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