quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O sofrimento

Sei que sou uma drama queen, e tenho tendência a encarar tudo que passa na minha vida com a potência máxima. Mas uma coisa me aflige sempre que noto o coração mais duro. Antes eu pensava que o sofrimento me tornaria mais solidária, mais consciente, talvez mais agradecida se observar que há sempre alguém em pior estado que nós. Mas o sofrimento surpreendeu-me. Pelo contrário, sinto-me mais egoísta, mais mesquinha, mais impaciente e muitas vezes sem nenhuma vontade de me dar ao trabalho de empatizar com quem quer que seja.
Tenho tendência a minimizar os problemas alheios e tenho reparado que o marido também anda assim. Não são dois meses, são quase 9 meses desempregado, muita coisa se passou e não é rapadura. Quando as pessoas pensam "ah mas pelo menos tem saúde ou isto não é nada, logo vocês vão ter a casa de vocês", vem-me fogo nas ventas. Isto porque estes dias quase chorei a falar que não há pior coisa no mundo do que não ter a nossa casa. E as lágrimas e o turbilhão de emoções me atingiu em cheio a barreira desta represa que tão habilmente guardo. Foi como um soco. Pah, bateu nos olhos e voltou. É nestas horas que percebemos o peso invisível que carregamos. Os outros sempre tem um palpite a dar, uma coisa que devemos fazer. O marido a trabalhar de garçom ou a ganhar mil reais como um jovem inexperiente na sua área. Já pensaram que é um homem de quase 60 anos a recomeçar? Já pensaram que não tem 30 e que não pode se dar ao luxo de agora entrar em um emprego destes para mais tarde pleitear um salário melhor? É que não há tempo para rodeios. O Brasil exige juventude. Os patrões querem pagar pouquíssimo aos "sêniors". Como a minha mãe disse um dia: tá mas não vão poder ter carro, mas isto não mata ninguém. Isto vindo de uma pessoa que enche o tanque de um corolla  1 vez por semana, às vezes 2. 
Não é porque me ponha a olhar para as estrelas que o meu problema vai ser menor. Ele vai continuar tão e só do mesmo tamanho que está e proporcional com a atenção que lhe dou, ou seja, muita. Porque? Vejamos porque é uma merda depender de alguém, mesmo que seja parente. Porque é uma merda não ter casa, não ter o filho na creche (qualquer dia destes enlouqueço), não ter carro. Ter sempre alguém a julgar o que fazemos porque se fazemos é porque temos dinheiro e que não devíamos fazer isto ou aquilo, como se tivéssemos com passagem marcada a Nova Iorque. Porque ao virar do mês vamos nos separar e não sei quando iremos nos reencontrar. Porque é um pai que ama muito este filho, mas não vê saída a não ser ganhar esta França afora e até a Europa em busca de um emprego decente. Porque tenho que dizer milhões de vezes à minha mãe que não vou fazer concurso, que não vou fazer faculdade aqui porque a minha vida é ao lado do homem que eu amo. Porque os outros não tem sensibilidade nem sequer passaram por coisa parecida e portanto acho-me no direito de também não querer saber do resto do mundo já que ele me virou as costas. Infantil? Muito. Mas nunca estive aqui para bancar uma de mulher-superação, sou assim digamos...imperfeita. 

5 comentários:

  1. É doloroso, uma pessoa parece que trabalha para aquecer, não tem dinheiro para se mimar.

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  2. ohhh linda nas tuas palavras percebe-se o desespero e a solidão, o stress da incerteza no futuro. sei que sentiria o mesmo se tbem me visse sem a minha casa a depender dos outros, custa tanto ouvir os palpites, as ideias dos outros, e eles insistem em dar palpites mesmo que não se peça ...
    Só posso desejar-vos tudo de bom e que se mantenham unidos apesar das adversidades.

    Um beijinho

    Maggie

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  3. que situação...admiro o sentimento que tens pelo teu marido.
    Quanto ao que levas por dentro, não deixes te contaminar, joga pra fora, dá uns berros (...) aqui a torcer que tudo se resolva da maneira que tu mais gostarias

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  4. que cena horrivel, conheço um pouco esse teu sentimento, tambem viemos pra frança, tambem choramos mt com a falta do marido e pai( o meu mais velho tinha 4 anos na altura)ficamos separados por 8 meses (no meio ainda nos encontramos) mas sei que é doloroso e portugal e frança nao é assim tao longe...so que ao contrario de ti, tinha a nossa casa em portugal e eu trabalhava e o filho ia na creche.

    Duro mt duro ler estas palavras e voltar atras no tempo, sei que deves sofrer mt e eu nao sei o que dizer...espero que venham melhores dias.

    O teu marido ja tem trabalho garantido em frança?Onde?

    Bjs
    Marina

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  5. S* : tens toda a razão... :(

    Maggie: ultimamente tenho andado muito melancólica, mas são coisas que não nos damos conta, só quando uma frase deste gênero para desestruturar as bases...

    Carla: obrigada, muito obrigada. Engraçado dizeres isto, sempre ouço uma espécie de represália por amar ele deste meu jeito. Até porque vem os preconceitos de praxe por ele ser bem mais velho.

    Marina: É sempre complicado a distância. PArece que ela nos persegue, namoramos à distância, muitas vezes nos separamos por motivo de férias (mesmo assim contava os dias para voltar) e por trabalho (quando o marido precisou ir a Paris por 3 meses). Agora não sabemos quando vamos nos ver novamente porque vai depender dele arrumar emprego, do emprego ser relativamente estável, de arrumar casa, enfim. E de ter dinheiro para nos levar de volta. Ele ainda não tem nada em vista, terá que procurar, como dizem aqui: ir na cara e na coragem.
    beijinhos a todas

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