segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Até que a convivência virtual nos separe

Se crescemos em um lar católico ou mesmo em um país católico já ouvimos pelo menos uma dúzia de vezes que não devemos julgar os outros. Às vezes vem com o complemento "para não sermos julgados".  Jura? Põe a mão ao ar quem nunca julgou? Penso eu que as pessoas não deviam exigir algo que ninguém está preparado para lhes dar. E aquele que julga, ou seja todos nós, não só julga como também constantemente preocupa-se em ser julgado, rechaçado, humilhado, debochado...enfim. Aquele que julga também teme e cria um escudo de proteção contra os outros. Vai daí que este escudo tem uma falha. Às vezes tudo que ele recebe, mesmo sendo um comentário inocente, pensa que é julgamento. Meus amigos, não confundam julgamento com opinião. Mas este é o problema de quem julga (já disse que somos todos nós?). Julgar é uma forma de pré-conceituar as coisas. Não é bonito, mas é necessário. Se eu não classificar o mundo a minha volta, viver se torna complicado porque estarei continuamente tentando conhecer o que me rodeia e isto não é prático. E provavelmente nossa espécie não estaria aqui se ficasse a ver se todas as florzinhas tinham o mesmo cheiro. Portanto julgo eu que elas devem ter e ponto. Julgar no sentido cristão vem de maledicências, mal dizer a vida do outro, ridicularizá-lo em praça pública, etc. Isto eu faço. Às vezes. Não a parte da praça porque sou um pouco tímida para circo. Mas pronto. Todo mundo inevitavelmente fala (ou comenta que fica mais bonito), nem que seja para o marido. Então porque nos armamos em vítimas quando este feitiço vira contra nós? Acho um pouco engraçado aquelas pessoas que falam tudo que vem à cabeça, porque são francas e são curtas e grossas e que os outros aguentem a sua verdade porque ela lá não tem paciência para fingimentos. Acho interessante porque estas mesmas pessoas são aquelas em que o escudo é mais falho. Isto porque como estão constantemente a agredir os outros com a sua opinião, acreditam que por isto pintam um alvo na bunda. E daí todos os comentários bem ou mal mandados caem no limbo do ataque e agressão. Aí elas se ferem e agridem mais e aquilo se torna um círculo desencadeado e alimentado pela força da expressão. Já convivi com pessoas assim e o gozado era que sentia-me machucada mas a amiga em questão disse-me depois que era eu quem a agredia e ficávamos assim a nos espinhar durante alguns anos. Acontece que eu na altura era muito inocente e não percebia que algumas coisas que disse esbarrava no alvo dela. 
Já sabemos que o mundo virtual é feito de carne e osso e que as redes sociais são como aqueles apartamentos estilo cortiço/COHAB em que cada um grita uma coisa da janela e aquele que escutar e pegar para si dá início ao barraco. Tenho a impressão de que as pessoas eram mais amigas quando falavam as coisas cara a cara do que hoje no meio das teclas de um computador. Isto porque o cara a cara deixa transparecer o sentimento daquele que fala, diz se é brincadeira, diz se é sério e cala principalmente quando vê que o seu ouvinte não está em um bom dia. O relacionamento de hoje, virtualmente falando, é como convidar 300 amigos a partilhar o seu apartamento, é deixar que até o conhecido do seu primo saiba o que você está pensando no momento. Cara, pensamento é muito íntimo. Não devíamos deixar ele andar por aí sem roupa, sem senso de decoro. Pensamentos soltos são como uma sacola plástica a rebolar no vento, pode calhar a qualquer um. E dependendo da sua essência, podem ferir, muitas vezes não aquele que lhe era dirigido, mas alguém que nada tem a ver com isto e que está em um dia não. Portanto, sejamos honestos, mas conosco próprios. Julguemos, mas em silêncio. Vamos rir, mas é com o nosso companheiro. E se nada resolver, bloqueie algumas pessoas de sua vida. Trezentos amigos nunca caberiam no seu coração.

2 comentários:

  1. eu ca gosto mais de amizade de carne e osso...mas conheço pessoas que preferem a internete, pois nao conhecem as pessoas e sentem-se menos julgadas...
    Gosto de "navegar" pela net, primeiro tenho algum tempo livre (por exemplo, agora os miudos dormem), depois porque estou "sozinha" num pais estrangeiro e as poucas amizades que tenho ou trabalham ou preferem a net, LOL, para conversarem ( é sério!!). Gosto muito de ler certos blogs (especialmente vindos do forum da "infertilidade") mas este é o UNICO que faço comentarios porque me revejo muito nele...e confesso nao tenho la mt paciencia para amizades virtuais!!
    Bjs
    Marina

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  2. Eu publiquei este texto no face, acho que fiz apenas duas vezes isto, pois não gosto de falar muito o que penso assim, para multidões (hahah 300 pessoas para mim é muito). Aqui sinto-me eu, e sabes que a maioria das coisas que falo são as conversas que tenho comigo, mesmo quando me dirijo a "vocês", estou a falar comigo. Vício de quem fala sozinha muitasss vezes.
    Fico feliz que gostes daqui, esteja sempre à vontade para comentar, mesmo que não concordes :)
    bjokas

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