quinta-feira, 25 de abril de 2013

O clube de swing

Já estava marcada há um mês a primeira visita em um club de swing, mas só agora pensava na loucura que fora ceder ao desejo do marido. Divagou hipnotizada enquanto olhava para o letreiro em neon: Liberté. No chão, um relvado macio pipocado de luzes escondidas entre as folhagens. Uma pequena estrada de pedras serpenteava rumo a uma porta de arco em madeira de lei. Seria a estrada da perdição? Estava tão absorta que mal deu pela mão do marido a lhe puxar delicadamente em direção à primeira pedra.  A rua era escura, os carros ficavam estacionados em um terreno ao lado, guardados por três seguranças e dois cachorros tão fortes e mal encarados que ela evitou fixar o olhar. Via a casa sofisticada cercada de muros dos dois lados, pintados de uma cor escura não sabia se roxo ou preto. Já a frente era aparentemente desprotegida não fossem os avisos de alarme e câmeras por todos os lados. Era uma casa grande de dois andares, cujas janelas se encontravam misteriosamente fechadas e pelas frestas deixavam escapar algum perfume de mulher e o resquício de uma música doce, sensual. Sentiu que um de seus pés falseou ao afundar o salto na grama, mas o marido lhe ofereceu o braço largo e musculoso para que não caísse. Ele também estava nervoso ou seria  melhor dizer ansioso? Não soube  a resposta e mordeu o lábio com tanta força que sentiu o gosto do batom entre os dentes. Ao chegar na porta o marido estacou. Ela ficou logo atrás a observar a argola metálica na boca de um leão feroz. O marido abaixou-se suavemente em direção a um interfone. Disse uma frase em francês e deu-se um estalo. A porta se abriu. Instintivamente fechou os olhos como se algo muito ruim pudesse lhe saltar para cima. Quando voltou a si estava em uma sala mal iluminada a não ser por duas luminárias em forma da silhueta de um homem e de uma mulher. O marido lhe puxava e pôde ver mais adiante outros pequenos pontos de luz, um grande sofá provavelmente feito sob encomenda, que abarcava todo um lado da peça. Alguns casais conversavam amigavelmente e ao demorar-se mais, percebeu que  estavam todos em trajes interiores. No lado direito, dois homens em cuecas escuras serviam os copos de cristal em um bar recheado dos vinhos mais caros, assim como uísques e vodkas fluorescentes. Não se sabe de onde surgiu uma mulher muito atraente em espartilho e cinta liga, ela dirigiu-se para o marido e os dois a conduziram para uma sala mais parecida com um closet. Ele começou a se despir ajudado pela mulher, primeiro a camisa e depois o cinto, as calças. Sentiu uma pontada de raiva, não queria que ela lhe encostasse um dedo, mas já era tarde. Estava arrependida, queria que o mundo parasse para que pudesse descer. Porém de má vontade foi desamarrando a gabardine que deixou caída em um cabide, enquanto ajeitava os seios em um sutiã bordado com swarovski que ele havia lhe dado justamente para a ocasião. Nunca sentira-se bem de fio dental, mas lá estava ela, em uma calcinha branca de laços em cetim. 
Quando retornaram a música havia mudado, um globo de espelhos girava traçando pequenas estrelas pululantes no chão e nos corpos semi nus. De repente tinha-se cravejada de bolinhas e a sua lingerie adquirira um tom violáceo, quase neon, destacando-a do resto do grupo de mulheres. Sentia que haviam dezenas de pares de olhos em seu corpo curvilíneo, queria cobrir-se, e já que não era possível, ao menos sentar. O marido deixou-a no sofá para pedir uma taça no bar, ela perdeu-o de vista e ficou tonta ao tentar em vão distinguir qual daquelas nádegas masculinas seriam as dele. 
Quase sem notar sentiu um calor nas coxas. Viu homens e mulheres se beijando ao seu lado, mãos começaram a explorar o seu corpo. Línguas desbravaram o seu pescoço. Os seus cabelos estavam rendidos a quem gentilmente os afastasse. E o calor foi aumentando, e a música e todo resto cada vez parecia adquirir menos importância. A certa altura deixaram de existir, agora tudo centrava-se nela e no seu prazer. Subiu as escadas carregada e acabou por pousar em uma cama macia de lençóis perfumados. Havia uma mulher que lhe acariciava e um homem que lhe colocava em posição de fêmea. Ela gemia e já não se lembrava do marido e do que quer que ele estivesse fazendo. Sentiu um estremecer e seus seios rijos acompanhavam o ritmo do membro que lhe prenchia até o âmago de seus pudores, os expulsando, desbravando, sustendo sua respiração. O homem dava-lhe tapas leves para que ela continuasse a mexer. Sua perceção foi ficando cada vez menor e mais concentrada, foi ficando cada vez menor e menor e menor...até que explodiu. Expandiu-se em graça, sentira cada célula do corpo vibrar e renascer. Sentira-se viva, leve. Depois percebeu a convulsão de seu parceiro e finalmente caiu entre as dobras do lençol. Ficou alguns minutos sem abrir os olhos, apenas resgatando a emoção avassaladora do primeiro orgasmo com um estranho. Era incrível pensar que resistira tanto tempo aquele convite, o qual tantas vezes estivera a ponto de cancelar. E no entanto lá estava ela entregue agora ao seu próprio corpo que jazia em dor, aquela dor que invade o vazio que o prazer deixa-nos depois. Quando descerrou os olhos viu ele. Não o homem que havia acabado de lhe foder, mas o marido. Estivera o tempo todo a se masturbar na poltrona ao lado da cama. Recolheu-se em sua vergonha, mas ele veio ao seu encontro e beijou-a toda, nariz, testa e boca. Foi deitando-a novamente e cobrindo-a de beijos até a dor desaparecer e dar início novamente ao prazer. Da primeira vez fizera sexo. Do bom. Do bruto. Agora fazia amor e não sabia qual deles a satisfazia mais. O sexo fê-la perder-se, mas o amor lhe trouxe de volta. E agora sabia que não conseguiria existir sem os dois. E a culpa toda era do marido. Ela bem lhe disse que podia viver sem Liberté.

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