terça-feira, 9 de abril de 2013

Um sonho

Esta noite tive um sonho estranho. Sonhei que tinha um amigo que roubava casas e carros e eu ajudava-o. Roubava um carro que era uma beleza, com gente dentro ou com ligação direta, lá íamos nós. No entanto, sabe-se lá porque uma jovem delicada, loira de olhos verdes apareceu e o meu amigo achou por bem acolhê-la no nosso "bando". Acontece que a jovem estava grávida de poucos meses e achei muito má a decisão dele, já que tínhamos uma vida clandestina, sempre a fugir da polícia e com medo que as pessoas nos reconhecessem. Lembro que quanto mais o sonho passava, mais a barriga dela crescia e mais andávamos atarefados à procura de um lugar seguro em que ela pudesse dar à luz. O engraçado era que no sonho eu não tinha gênero, não era homem nem mulher, embora muitas vezes pela afinidade com o marginal, sentisse que estava mais para o lado dele do que do dela. No fim assaltamos uma casa grande que sabíamos que a família havia viajado, mas fomos surpreendidos pela polícia. Foi angustiante porque a jovem estava em trabalho de parto e lutei para ajudá-la a sair. Tive de matar o policial e já havia matado o seu parceiro tempos antes. Sentia que devia continuar e que não havia volta para o caminho que tinha escolhido. Acordei ainda tentando fugir e fiquei com aquela sensação de culpa como se houvesse realmente assassinado duas pessoas que tentavam me impedir de cometer mais crimes.
Acho muito interessante ficar divagando pelos sonhos que tenho, por exemplo, creio que tanto o homem quanto a mulher fazem parte de mim, pois que não tinha gênero. O homem está mais ligado à força, à violência, à transgressão. A mulher grávida, à feminilidade, aceitação passiva, ao medo, à busca de segurança. A criança traz o novo, a mudança, novas possibilidades. 
Acho que trazendo para a vida real, posso avaliar que tenho sido uma pessoa agressiva, sempre com raiva e inconformada com a minha situação. Os roubos significam que quero as coisas, mas sem esforçar-me para isto. Quero uma casa, quero um carro, quero o que os outros tem, mas sem o ônus e o sacrifício que eles fazem para ter. Os policiais que matei são as normas sociais, representam as regras que quero aniquilar, é a pura vontade de fazer o que quero, mas que sou impedida por uma corrente que me prende a uma cultura e  as suas leis. Noto que inicialmente nego este lado mais doce que é o feminino. A criança é um estorvo que não queria, mas ao mesmo tempo poderia significar a mudança no curso de uma vida de erros, a possibilidade de assentar e tomar outro caminho. Noto que apesar de sermos um trio, sempre fora eu quem tomava a iniciativa, o que reforça a ideia de que tanto o homem como a mulher habitam dentro de mim e enquanto o homem age e a mulher espera, eu posso sempre escolher como vou seguir a minha vida. E talvez a criança seja também a esperança de que daqui a pouco algo bom vai acontecer. Mudanças precisam-se. 

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